Capítulo 2

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O vento frio corta meu rosto enquanto corremos pela floresta escura. Meus pulmões ardem, meu coração martela no peito e minhas pernas queimam com o esforço frenético. A mão que seguro está húmida e trémula, mas seguro-a firme, determinada a não soltar.

Não sei quem está nos perseguindo, mas o medo me impulsiona para a frente, cada passo se tornando uma luta desesperada pela sobrevivência. Os galhos arranham meu rosto e os arbustos rasgam minhas roupas, mas não posso parar.

Ao meu lado, sinto a presença da outra pessoa que corre comigo. Seus passos estão em sincronia com os meus, como se estivéssemos dançando uma dança selvagem com a morte. Não posso ver seus olhos na escuridão, mas sua presença é reconfortante, uma âncora em meio ao caos.

O som dos perseguidores ecoa pela floresta, um eco sinistro que nos lembra que não estamos sozinhos.

Paro de correr, mesmo conhecendo o risco desse ato, solto a mão que segurei tão firmemente antes e olho nos olhos da pessoa que também parou de correr e está ao meu lado.

Estou ofegante e meu coração bate tão rápido que sinto que ele poderia sair pela boca, cada golfada de ar que inspiro queima como fogo em meus pulmões.

− Por que parou de correr?− meu companheiro pergunta-me desesperado.

Percebo que ele respira com a mesma dificuldade que eu e que lhe custa falar muito.

− Eles merecem saber.− respondo.

O homem ao meu lado tem o cabelo preto, curto e levemente bagunçado devido à corrida, é dono de uns olhos tão escuros que é impossível distinguir a pupila da íris, esbanja uma tez clara e alguns brincos prateados na orelha esquerda. Ele também está usando uma roupa escura, mas não presto muita atenção a esse detalhe.

− Basiel, eles também merecem saber.− repito num tom de súplica, olhando para seus olhos oblíquos.

− Eles não vão te dar ouvidos. No pior dos casos, eles vão te torturar e achar uma forma de te matar antes mesmo de teres a oportunidade de dizer alguma coisa.− responde, levando a mão ao meu rosto e olhando tão profundamente nos meus olhos que o meu coração dói.

− Eles merecem saber, mesmo que eu morra.− lágrimas embaçam a minha visão quando repito mais uma vez essa frase.− Quem sabe, eles me levarão a sério e farão alguma coisa...

− Não existe solução agora e já é tarde demais.

O som de passos está cada vez mais próximo.

− Sinto muito. Proteja os outros por mim.− após dizer isso, corro na direção contrária à que estava correndo.

Pisco e as lágrimas deslizam pelas minhas bochechas.

Basiel tenta correr atrás de mim, mas subitamente, ramos de árvores se colocam na frente dele, bloqueando o caminho. Ele não gritará pelo meu nome, não com tanta coisa em jogo.

Sinto minhas pernas tremendo enquanto corro na direção oposta, afastando-me da segurança e indo em direção ao perigo iminente. Cada passo é uma batalha contra a minha própria vontade de sobreviver. Meu coração bate forte, ecoando no silêncio da noite como um tambor anunciando minha rendição.

As lágrimas escorrem pelo meu rosto. Não há para onde correr, exceto em direção ao inevitável. Farei de tudo para voltar a encontrar os outros antes que seja tarde demais, para salvá-los, pelo menos a eles. Mas enquanto tenho tempo, vou tentar salvar todo mundo.

Eles merecem saber.

Eles merecem saber.

Eles merecem saber.

160 horas para o fim...Onde histórias criam vida. Descubra agora