Estou de pé, em frente a mesa de reuniões, os olhos fixos nos mapas estendidos diante de mim, enquanto reavalio os planos meticulosamente traçados. Cada linha desenhada representa um caminho a seguir, uma estratégia a ser seguida na nossa próxima missão.
Reavalio pelo menos três vezes cada detalhe. Eu me sentiria muito triste se o plano não funcionasse e tivéssemos que deixar alguém para trás, então estou dando o meu máximo para nada dar errado no futuro.
Concentro-me intensamente, absorvida pela complexidade dos detalhes diante de mim, quando de repente sinto um peso familiar cair sobre minhas costas. Um suspiro involuntário escapa de meus lábios enquanto reconheço a sensação e me desespero quando os meus joelhos fraquejam e quase caímos.
− Tomem cuidado.− Esmee diz em um tom calmo enquanto ajuda a mim e à Jolee a nos reequilibrarmos.
Um sorriso escapa dos meus lábios enquanto me viro para encará-las, os braços da Jolee ainda envolvendo meu pescoço em um abraço de trás. Sinto o peso do mundo desaparecer por um momento, substituído pela sensação reconfortante da presença das gêmeas.
− Jolee, tens que parar de pular para as costas das pessoas.− Esmee repreende a irmã que a responde com um revirar de olhos.
− O que estás fazendo?− Jolee pergunta para mim, olhando para os mapas e os incontáveis rascunhos em cima da mesa.
− Estava revisando todo o nosso plano, − respondo.− por precaução.− acrescento.
− Não se preocupe, o nosso plano é infalível. Não tem nenhuma chance de dar errado.− Jolee assegura, confiante e alegre, como sempre.
− Na verdade, tem, sim, chances do plano dar errado e todos nós acabarmos executados na praça pública como acontece com todas as pessoas que vão contra as crenças do governo.
− Esmee, pare de ser negativa.
− Não estou sendo negativa, mas sim realista. E você sabe que eu tenho razão.− Esmee replica para a sua gêmea.
A situação rende-me um sorriso genuíno.
As duas irmãs se assemelham fisicamente de uma maneira quase impressionante, suas características faciais refletindo uma imagem espelhada uma da outra. Cabelos ruivos, cacheados e longos, olhos heterocromáticos castanho e verde-azulado, sardas e uma tez parda caramelizada, as caracteriza. No entanto, é nas nuances de suas personalidades que reside a verdadeira diferença.
A Jolee é um raio de sol em forma humana. Seus olhos brilham com uma luz interior radiante, e um sorriso perene adorna sempre seus lábios. Ela irradia alegria e otimismo onde quer que vá, sua presença contagiante iluminando até mesmo os lugares mais sombrios. Sempre pronta para estender a mão em amizade, ela é o tipo de pessoa que consegue transformar qualquer situação em uma festa.
Enquanto isso, a Esmee é uma observadora silenciosa, seus olhos capturando cada detalhe ao seu redor com uma precisão quase meticulosa. Seu semblante é sereno, mas há uma intensidade por trás de seu olhar, como se estivesse sempre analisando e avaliando. Ela é a realista do par, pragmática e racional em sua abordagem da vida. Profundamente protetora de sua irmã gêmea, ela é a guardiã silenciosa que está sempre alerta, pronta para intervir se sentir que algo está fora de lugar.
Apesar de suas diferenças, o vínculo entre as duas é inegável. A alegria da primeira irmã é complementada pela cautela da segunda, e vice-versa. Juntas, elas formam um equilíbrio perfeito.
Parando um pouco para analisá-las, percebo que estão usando vestido, o que é muito raro. Passamos a maior parte do nosso tempo treinando, fazendo planos e indo em missões, usar vestidos não é muito prático quando se faz essas coisas, então presumo que deve ser uma ocasião especial.
− Por que vocês estão vestidas assim?− pergunto, analisando os detalhes dos seus vestidos.
− Esqueceste que é o aniversário do Rorah?− Jolee pergunta, dando uma volta e fazendo a saia do seu vestido rodar, me permitindo ver melhor os detalhes da vestimenta.
− Pensei que ele não queria uma festa.
− Ele mudou de ideia na última hora.− Jolee declara.
− A Jolee passou o dia inteiro citando razões pela qual ele deveria dar uma festa, ele se cansou de ouvi-la falando e cedeu.− Esmee desmente e imediatamente recebe um tapa no ombro.− O quê? Não é segredo para ninguém que és muito insistente.− diz, esfregando a mão no lugar em que levou o tapa, para aliviar a dor.
Jolee aclara a garganta e diz:
− Isso não importa. O que importa é que compramos um vestido para ti e saímos daqui meia hora para a festa que organizei para o Rorah.
Penso em perguntá-la se ela organizou a festa em menos de um dia, mas desisto, porque qualquer pessoa que conhece minimamente o entusiasmo da Jolee sabe que ela é capaz de preparar uma festa com meses de antecedência.
− Infelizmente, não posso. Tenho ainda algumas coisas para reavaliar. . .
− O nosso plano já está perfeito. Estás trabalhando demais ultimamente, precisas de uma pausa que se chama: o aniversário do Rorah organizado pela Jolee.− Jolee diz, cruzando o seu braço no meu e me encaminhando para o quarto delas, somos seguidas pelas Esmee.
Não protesto, porque sei que não vai adiantar de nada.
− Quem é que vai estar lá?− pergunto enquanto sou, praticamente, arrastada.
− Todos disseram que iam. A Lincia, o Basiel, a Limla, o Adir, o Lain, a Alma, o Ashmelt, o próprio Rorah e nós, é claro.− Jolee responde e eu assinto.
Abro os olhos lentamente, a luz do quarto parecendo mais intensa do que nunca após o desmaio. Minha cabeça lateja com uma dor insistente, uma sensação que já se tornou familiar ao longo das horas. Mais um flashback, mais uma queda vertiginosa em um passado que eu mal consigo compreender.
Deixo escapar um suspiro resignado enquanto me sento, forçando-me a enfrentar a realidade que se desenrola diante de mim. A dor de cabeça é apenas uma parte do que me espera, uma pequena gota em um oceano de incertezas e medos.
Meus pensamentos estão em tumulto, as vozes sussurrando em minha mente, misturadas com as dúvidas e questionamentos que me assolam. Quem sou eu? Em quem posso confiar? E, mais importante, mereço mesmo o destino que parece me esperar, uma sentença de morte iminente que paira como uma sombra sobre minha cabeça?
A confusão se intensifica, uma névoa densa que me envolve e ameaça sufocar-me. Começo a duvidar de cada pensamento, cada memória, cada aspeto da minha própria identidade. Será que tudo isso é apenas um sonho distorcido, ou uma punição merecida por meus próprios pecados?
Uma sensação de desamparo me invade, uma solidão avassaladora que me deixa sem fôlego. Eu me agarro às minhas próprias mãos, tentando encontrar alguma âncora em meio ao turbilhão que me arrasta para o abismo. Uma sensação de desespero me envolve, uma escuridão que ameaça me engolir inteira. Talvez eu mereça mesmo o destino que parece me aguardar, uma sentença de morte pendendo sobre mim.
A confusão se intensifica, tornando-se quase tangível. Eu me sinto perdida, um barco sem rumo em um mar de dúvidas e medos. A solidão é avassaladora, uma sensação sufocante que me deixa sem fôlego.
O relógio marca 138 horas e 13 minutos, ele marca a aproximação do fim. O fim desse sofrimento, o fim da angústia e confusão, o meu fim.
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160 horas para o fim...
Science FictionEla desperta em uma sala branca, estéril, com uma dor latejante na cabeça e um enorme ecrã à sua frente exibindo uma contagem regressiva: 160 horas. Sem memória dos eventos que a levaram até ali, ela está perdida e assustada. A confusão se aprofunda...