Os Mercadores

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Desceram dos botes. O Porto estava completamente vazio. Não se ouvia nenhum som vindo da cidade.

‐  Está quieto demais... – Lúcia comentou

- Onde está todo mundo?

- Vamos, pernas de geleia - RipChip estendeu as mãos para Eustáquio, que tentava sair do bote

- Eu consigo sair sozinho - disse o garoto, logo caindo desajeitadamente

- E vocês tem certeza de que ele é seu parente de sangue?! - Caspian comentou. Mia soltou uma risada

- Ele tem um ponto - Edmundo e Lúcia a encararam com olhar de desagrado - O que?

Os dois irmãos suspiraram, revirando os olhos. Caspian andou na frente, armado com sua besta. Um som de sino tocou alto de dentro da cidade, espantando alguns pássaros, o que assustou Mia e os outros; mas logo depois, o silêncio voltou.

- RipChip - Caspian chamou - Fique aqui com os homens de Drinian e protejam o local. Nós vamos entrar. Se não voltarmos até o amanhecer… envie um grupo

- Sim, majestade.

Caspian seguiu para os portões da cidade, com Mia, Lúcia e Edmundo logo atrás. Eustáquio não sabia o que era pior, ter que ficar com os primos ou com aquela gente maluca que supostamente o havia sequestrado, portanto, optou por seguir os primos.

A cidade estava tão vazia e silenciosa quanto o porto. As casas e construções pareciam quase destruídas. Chegaram a um grande edifício com as portas fechadas. Eustáquio deu uma olhada nas janelas de algumas casas e logo falou :

- É, parece que não tem ninguém aqui, então deveríamos voltar

- Quer ficar aqui e vigiar... ou algo assim? - Edmundo perguntou

  - Claro! Boa ideia, primo. Isso faz… faz muito sentido

Caspian o entregou uma adaga, que ele pegou desajeitadamente, tentando parecer confiante

- Eu acho melhor não deixar isso com ele – Mia comentou. O garoto parecia estar tremendo

- Não, tudo bem. N-não se preocupem, podem deixar comigo…

Um Eustáquio trêmulo permaneceu ali fora, armado com uma adaga que ele claramente não sabia usar, enquanto os outros entraram. O lugar era enorme, cheio de estátuas e grandes sinos lá no alto. Estava um pouco escuro, mas bem no centro do local, dava para ver um pequeno altar com um grande livro aberto. Ao chegarem mais perto, puderam ver vários nomes no livro, alguns riscados, outros não, mas todos tinham um certo número do lado. Mia tinha um mal pressentimento sobre aquilo

- Quem são todas essas pessoas?

- Por que seus nomes estão riscados? - Edmundo perguntou

- Parece algum tipo de taxa… - Lúcia comentou

Caspian quase se engasgou quando percebeu

- Mercadores de Escravos

- O qu…

No mesmo instante, o barulho dos sinos preencheu o lugar, enquanto vários homens desciam pelas cordas, gritando. Caspian atingiu um com uma flecha antes que chegasse ao chão, mas todos os outros já atacavam com suas espadas. Caspian, Edmundo e Lúcia lutaram com espadas. Mia teve que usar o arco para se defender, mas conseguiu nocautear alguns dos homens. De repente, um grito agudo preencheu o lugar. Todos pararam e olharam para a porta, para verem um homem segurando Eustáquio com uma adaga em seu pescoço, a mesma adaga que o garoto segurava.

- Se não quiserem ouvir esse aqui gritar como uma garotinha outra vez, sugiro que larguem as armas

- Como uma garotinha?

- Agora - O homem apertou um pouco mais a adaga no pescoço de Eustáquio

Mia tremia. O que era aquilo? Ela estava mesmo com medo? Foi a primeira a largar seu arco. Sentia seu rosto queimar com a vontade de chorar. Os outros hesitaram antes de soltarem as espadas. O homem abriu um sorriso presunçoso

- Assim é melhor. Algeme-os

Os homens ao redor se apressaram para algemá-los. Lúcia gritou, tentando escapar, mas eles eram muito mais fortes que ela.

- Tire suas mãos de mim!

- Vamos levar esses dois para o leilão - O homem apontou para Lúcia e Eustáquio - Os outros coloquem nas masmorras

Caspian tentou sair das mãos dos outros homens, mas já estava acorrentado

- Escute aqui, seu idiota insolente! - ele gritou - Eu sou seu rei!

Os homens o ignoraram. Ali ele era apenas mais uma venda. Edmundo tentou escapar mas levou um soco no rosto

- Você vai pagar por isso! - O garoto falou, com desgosto

- Na verdade - O homem falou - Outra pessoa vai pagar… por todos vocês

Lúcia gritou por Edmundo quando começaram a arrastá-la para longe. Mia estava completamente paralisada. A partir do momento em que a mandaram largar as armas, ela não soube como reagir. Foi algemada e assistiu Lúcia e Eustáquio se afastarem em silêncio. A única coisa que conseguia fazer era deixar as lágrimas caírem.

Lúcia e Eustáquio foram levados para longe. Mia, Caspian e Edmundo foram jogados numa cela fria, onde a única luz vinha de uma janela no alto. Mia sentou-se no chão gelado. Suas mãos tremiam. Tudo aconteceu muito rápido. Ficou pensando em como ela havia sido a primeira a largar a espada. O que estava acontecendo?

Desde sua primeira vez em Nárnia, ela nunca fora exatamente corajosa. Tinha vontade de lutar assim como seus amigos, mas nunca havia sido posta à luta de verdade. Até agora. Agora não havia mais Pedro, nem Suzana. Agora Edmundo confiava que ela saberia usar uma espada. Agora ela estava na linha de frente, então por que não conseguia fazer nada?

Talvez, mesmo depois de tudo, ela não pertencesse àquele lugar.

Foi com esse pensamento que Mia se encostou no parede fria da cela, e dormiu.

Mia And The Voyage Of The Dawn Treader || My Best Friend (2)Onde histórias criam vida. Descubra agora