Nova Tripulante

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Respirou fundo e olhou para o céu claro, depois para o oceano. Era a semana mais tranquila que tivera em Nárnia desde que havia chegado ali. É claro que não havia muita coisa pra fazer até que chegassem na próxima ilha. Mas cada um ali tinha seu jeito de passar o tempo, fosse trabalhando ou conversando, como muitos dos tripulantes faziam, ou esconder-se nos cantos, no caso de Eustáquio. Lúcia costurava em um canto, e Edmundo, em outro, limpava sua bela espada antiga da Era de Ouro.

Mia fitava o garoto à sua frente. Sua admiração enquanto limpava a espada era clara. Ela sabia o quanto ele havia sentido falta daquele lugar. Um sorriso bobo surgiu no canto de sua boca. Edmundo levantou a cabeça, encontrando os olhos de Mia.

- O que foi?

- Nada – respondeu, sem se desfazer do sorriso

O garoto sorriu levemente, voltando a sua atenção pra espada 

- Se continuar me olhando assim eu vou ter que te jogar no mar

Mia ficou boquiaberta. Fez um gesto com as mãos, como se estivesse ofendida. Segurou o riso, mantendo um tom cínico

- Você não teria coragem

- Espere só – ele debochou

Ela riu. Foi até ele e sentou-se ao seu lado. Edmundo a olhou de canto. Na parte superior da bochecha de Mia, estava claro o corte que ainda não havia cicatrizado totalmente.

- Ainda dói? – perguntou

Mia tocou levemente a bochecha.

- Não – sorriu – Na verdade, é um bom lembrete de que consegui me livrar de uma situação perigosa
Silêncio. Mia sentiu os olhos do namorado em si. Percebeu que agora ele a olhava com um sorriso bobo. Virou o rosto, corada, mas mantendo o tom sarcástico

- Se continuar assim, quem vai ser jogado no mar aqui é você

O sorriso do garoto aumentou enquanto ele voltava a limpar a espada. Depois de alguns segundos, seu olhar voltou para a cicatriz.

- Acha que vão perceber?

O sorriso de Mia se esvaiu. Colocou uma mecha de cabelo atrás da orelha, ajeitou-se no banco, claramente desconfortável. Edmundo não precisava dizer mais nada para ela saber que estava falando de seus pais. Havia afastado o pensamento dos dois desde que chegara ali. Mia não gostava muito de falar sobre eles, mas o namorado sabia quantas vezes ela passava o dia com ele e Lúcia só pra não ter que ficar sozinha em casa. Ela suspirou, encarando o chão do convés.

- Eu duvido muito. Se pararem em casa um dia, pode ser que notem, mas...  não vai fazer diferença.

Edmundo a fitou por alguns segundos, antes de colocar uma das mãos sobre o rosto de Mia, acariciando cuidadosamente a cicatriz. Ele deixou a espada que estava em seu colo de lado e com as mãos livres, enrolou Mia num abraço apertado. A garota segurou as lágrimas enquanto o abraçava. Não podia chorar ali. Edmundo era seu refúgio, claro, mas Mia não queria que ele a visse como frágil. Permaneceu em seus braços até que eles ouviram uma gritaria.

Eustáquio apareceu, assustado, com uma faca grande na mão. RipChip apareceu logo atrás, com sua pequena espada apontada para o garoto.

- Não podemos apenas conversar? – Eustáquio perguntou

O rato desferiu golpes na blusa do garoto, rasgando-a.

- Essa é por mentir. Essa é por roubar. Duas laranjas caíram de dentro da blusa - E essa é pra você aprender!

Pegou a última laranja com a ponta da espada e bateu no rosto de Eustáquio. O garoto tentou golpeá-lo com a faca, e assim os dois começaram um duelo. Os homens do navio se animaram e todos começaram a prestar atenção nos dois.

- Mas é muito idiota mesmo – Edmundo comentou.

Mia riu levemente.

- Pega leve com ele. Afinal, a cabeça dele deve estar girando com a quantidade de coisa nova que aconteceu em tão pouco tempo... Lembra quando eu cheguei aqui?

Edmundo abriu um sorriso.

- Eu nem sei quanto tempo demorou pra você acreditar

- Acho que... Até ver Aslam, eu ainda achava que tudo era um sonho maluco.

A garota olhou para o chão, sem graça. Edmundo segurou a sua mão. Um gesto tão simples que tirou um enorme peso de seus ombros. Ela sorriu. Ao se virar novamente, se deparou com aqueles olhos escuros e profundos. Aqueles olhos a faziam perder os sentidos. Edmundo chegou mais perto, na intenção de beijá-la, quando um estrondo desviou a atenção dos dois.

- Olhem! – Lúcia declamou

De longe deu pra ver a bagunça que Eustáquio havia feito. O garoto tropeçou nos barris fazendo um estrondo. De repente uma garota saiu de um deles. Mia reconheceu a garotinha que estava nas Ilhas Solitárias.

- Gael? O que está fazendo aqui? – Rince, seu pai, perguntou

Gael olhou para os homens, assustada. Rince foi até ela e a abraçou. Mia trocou olhares com Edmundo, então se levantou e foi até os homens. Pôde sentir a tensão no ar, todos encarando Rince e a filha em silêncio. Gael se  Gael se escondeu atrás do pai quando Drinian foi até eles, com a expressão séria que sempre trazia consigo, mas sua expressão suavizou quando disse :

- Parece que temos uma nova tripulante

Ele entregou uma fruta à garota, que pegou timidamente. Rince sorriu, e os homens voltaram a seus afazeres. Mia e Lúcia foram até a garota.

- Bem-vinda

- Majestade – Gael fez uma pequena reverência

- Me chame de Lúcia – ela sorriu

- Eu sou a Mia

- Venha – Lúcia chamou

Mia olhou para Edmundo, ainda sentado do outro lado do convés. Fez um gesto como se dissesse “ tenho que ir”. Edmundo sorriu e respondeu silenciosamente “vai logo”. Mia sorriu e acompanhou Lúcia e Gael até o quarto.

- Eu lembro de você - Mia falou quando a garotinha sentou-se na cama - Você queria vir junto de seu pai e ela não deixou... então você veio escondida...

Gael olhou para ela e depois para Lúcia, meio constrangida. Abaixou a cabeça e manteve a voz baixa.

- Sinto falta da minha mãe.

Mia e Lúcia se entreolharam. A mais velha sentou-se ao lado de Gael e a abraçou de lado. A mãe da garota devia ser uma boa pessoa, Mia pensou. Não sabia o que era aquilo. Não que seus pais não fossem boas pessoas, mas para falar a verdade, ela mal os conhecia. Ela não sabia o que era sentir falta. O que ela sabia naquele momento, era que Gael precisava de apoio. A apertou um pouco mais. Lúcia se ajoelhou na frente da garota, segurando suas mãos.

- Vamos encontrá-la, eu prometo.

A garotinha sorriu.

Mia And The Voyage Of The Dawn Treader || My Best Friend (2)Onde histórias criam vida. Descubra agora