Ashton conhece Luke

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Ashton havia crescido, não era mais a criança que costumava ser, porém continuava entregando suas rosas. Anos podem ter passado, mas hábitos como esse não mudam com o tempo. Ainda mais depois de tudo que acontecera após o acidente, parecia até mesmo que ele estava destinado àquilo desde que nascera e só fora se aperceber disso depois do dom que adquirira.

De fato se sentia como o cupido, juntando aqueles que sabia que eram almas gêmeas. Não era fácil, normalmente se perdia dentre as diversas possibilidades, mas no final sempre conseguia achar o que tanto queria. Mesmo depois de tanto tempo ainda não acreditava que conseguia ver a fina linha vermelha, aquela que ligava as almas gêmeas, no dedo mindinho de todas as pessoas que via. O loiro se sentia afortunado por conseguir ver algo tão especial, algo que estava destinado apenas para deuses e criaturas místicas verem.

O único problema naquilo era que todos possuíam a linha vermelha amarrada em seus dedos, menos ele. Talvez não tivesse uma alma gêmea, ou apenas porque os deuses não o deixavam ver a sua alma gêmea, queria tanto acreditar na segunda opção, mas de certa forma sabia que a correta era a primeira. Era para ter morrido naquele dia, então sua alma gêmea provavelmente fora transferida para outra pessoa quando o carro o atingira. Ou ele simplesmente nunca teve uma alma gêmea, uma exceção a regra. Toda regra possui uma exceção, talvez Ashton fosse uma exceção.

Mas aquilo não tirava o grande sorriso de seu rosto, muito menos a sua vontade de distribuir suas belas rosas vermelhas para os casais que haviam de fato encontrado sua alma gêmea – com ou sem a sua ajuda. Ao ver a felicidade alheia, de certa forma também ficava feliz, mesmo que no fundo desejasse sentir o mesmo sentimento ao menos uma vez em sua vida.

Visitava o parque que ficava perto de sua casa todas as tardes após a escola, na esperança de encontrar aquele casal que chamara sua atenção a ponto de fazê-lo sofrer um acidente. Queria lhes dar a rosa que guardava consigo, a rosa que mesmo depois de anos continua tão bonita quanto no dia que foi colhida. A rosa pertencia a eles e não ao loiro, e talvez fosse por isso que ainda estava vivo, apenas para entregar a rosa para os verdadeiros donos.

Porém não os via desde daquela tarde, parecia até mesmo que eles haviam sumido da cidade após aquele dia. Mas Ashton não desistiria, percorreria o mundo atrás do casal, viraria o mesmo de ponta cabeça para acha-los. Gostaria ao menos de saber o nome deles, tornaria a procura um tanto mais fácil e rápida do que provavelmente seria. Sequer se lembrava dos rostos deles, a única coisa que ficara marcada em sua memória fora o brilho branco que envolvia os dois, algo tão marcante que assim que os visse juntos saberia que eram eles.

Infelizmente aquilo não era o suficiente para sair perguntando para os moradores do bairro, não poderia perguntar se alguém conhecia o casal que possuía um brilho branco, o chamariam de louco e provavelmente acabaria em um hospício, onde não haveria seu jardim ou muito menos as suas rosas para poder cuidar, o que de fato acabaria o enlouquecendo.

E em uma de suas visitas ao parque acabou trombando com um garoto ruivo, alguns anos mais novos que ele, que parecia um tanto quanto assustado. Pelo fato de que olhava para todos os lados menos para frente, Ashton concluiu que havia se perdido de seus pais ou daquele que o trouxera ao parque. O fio vermelho pendente em seu dedo estava extremamente esticado, o que indicava que sua alma gêmea estava extremamente longe dali, e esse fato fez o coração de Ashton se aquecer, não poderia ajudar o menino daquela forma, mas poderia o ajudar a achar quem ele estava de fato procurando.

- Está perdido? – Perguntou se abaixando, ficando cara a cara com o garoto, esse que apenas assentiu com a cabeça rapidamente não olhando para os seus olhos, olhando ao redor – Quem você está procurando?

- Meu irmão. – Respondeu o garoto olhando para Ashton – Ele não é exatamente meu irmão, é filho do marido da minha mãe, mas o considero meu irmão mesmo assim.

- Como ele é então? Vou te ajudar a encontra-lo. – Respondeu sorrindo, o que fez o mais novo sorrir também

- Ele é alto, parece uma girafa, é loiro, magro que nem um palito e tem olhos azuis que nem os meus, por mais estranho que pareça. – Comentou voltando a prestar atenção ao que acontecia ao seu redor – Não sei como me perdi dele, ele parece um poste.

Tal comentário fez o mais velho gargalhar, gostava de conversar com crianças, e aquela em questão era bem engraçada. Rodou o parque inteiro atrás do irmão mais velho do garoto, mas parecia que o mesmo havia tomado um chá de sumiço e simplesmente desaparecido do mapa. Ashton até tivera a brilhante ideia de ligar para o loiro, mas o garoto não sabia o número dele de cor, então não fora de muito ajuda.

Só o encontraram no final da tarde, sendo que ele estava deitado embaixo de umas das árvores, dormindo. O ruivo apenas revirou os olhos antes de se jogar em cima do mais velho, que acordou assustado, estranhando o garoto de mais de cinquenta quilos em suas pernas.

- Luke, esse é Ashton, ele me ajudou a te encontrar. – Comentou o ruivo depois de sair de cima do loiro, que só então pareceu reparar na presença do cacheado

- Oi. – Murmurou o cacheado com um pequeno sorrido, acenado levemente para ambos – Seu irmão realmente entrou em desespero por ter te perdido aqui no parque.

- Imagino, esse diabinho ruivo esta mais para uma drama queen do que o badboy que ele acha que é. – Comentou bagunçando o cabelo do ruivo, esse que apenas direcionou um olhar maldoso para o mais velho – De qualquer forma, me chamo Luke, e nós acabamos de mudar para cá, então é legal saber que essa peste conseguiu encontrar alguém legal no primeiro dia aqui nessa cidade.

Só então o cacheado reparou na linha vermelha de Luke, essa que estava completamente frouxa, chegando a encostar-se ao chão de terra. Ele poderia ajuda-lo a encontrar o amor de sua vida, a sua alma gêmea. E só aquele pensamento o levou de volta para o seu jardim, o fazendo pensar qual rosa deveria reservar para esse casal em questão, tinha tantas possibilidades. Faria questão de escolher a mais bonita que tivesse, para compensar o fato de que não poderia ajudar o ruivinho em questão, e até já imaginava qual seria, caso conseguisse achar a alma gêmea de Luke rapidamente poderia pegar a rosa que desabrochara naquela semana em questão, e que soltava um perfume estonteante de manhã.

- Ashton! – Exclamou o loiro, chamando a atenção do cacheado – Você escutou a pergunta que eu te fiz?

- Não. – Respondeu sinceramente, voltando a prestar atenção nos dois garotos que estavam a sua frente – Você poderia repetir?

- Eu fiz várias perguntas, mas acho que a principal é a se você estuda na Mercury, pois seria legal conhecer alguém no meu primeiro dia de aula. – Disse o loiro sorrindo

- Estudo sim. – Comentou também sorrindo – De qualquer forma, tenho que ir para casa agora. Foi um prazer conhece-los. – Adicionou olhando para o céu, esse que agora possuía um tom alaranjado, acenando de leve para ambos antes de sair do parque

E o cacheado passou o resto do dia olhando para o seu jardim, tentando escolher uma rosa tão bonita quanto o garoto que havia conhecido naquela tarde. A rosa dele tinha que ser a mais bonita de seu jardim, a mais cheirosa e a mais vermelha, ela tinha que ser divina para combinar com seu futuro dono.

Mal sabia Ashton que aquele era o começo do fim.

O entregador de rosas / LashtonOnde histórias criam vida. Descubra agora