Capítulo 14

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Minhas irmãs me acordam na manhã de Natal
colocando BooBoo e Picles em meu peito. A princípio, enquanto saio do meu estado de sono, tudo o que sinto é a pressão gostosa de patinhas de gato. Só que aí Picles decide colocar a bunda na minha cara.

— Ai! Qual é! — grito, atirando as cobertas para
longe. Picles sai correndo e se esconde embaixo da
minha escrivaninha. BooBoo continua na cama,
lambendo as patas.

— Feliz Gatal! — Daphne diz. — Você acha que o Gato Noel veio?

— É isso mesmo, BooBoo, não deixe ninguém te
assustar — Alice diz, acarindo onde ele está se
espreguiçando no meu travesseiro extra. — Vamos lá, Chayeng, hora de abrir presentes!

— Ainda não estou a fim — digo, virando as costas. — Me deixem dormir.

Não quero levantar e encarar o dia, não quando ainda estou sentindo o peso de ontem no coração, mas minhas irmãs praticamente me arrancam da cama. Daphne enfia uma touca de Papai Noel na minha cabeça e as duas me levam para o andar de baixo, onde mamãe e papai tomam café com pijamas combinando.

— Olha só como estamos fofos! — papai diz, esticando os braços para que eu veja a estampa de elfo na blusa verde do pijama.

— Feliz Natal, querida! — mamãe diz, me embalando em um abraço. — Você e Jisoo se divertiram ontem? Se beijaram embaixo do visco?

Minhas bochechas coram, mas não pela razão que
eles acham.

— Vocês duas são um casal bonito — papai fala. —
Ano que vem vamos arrumar pijamas combinando pra vocês também.

— Podem parar? — Meu tom é azedo mesmo quando não quero que seja. Sinto que posso chorar a qualquer momento.

— Toma, sua pirralha — Alice diz, pressionando uma xícara de café e um biscoito de canela na minha mão. — É melhor tomar isso. Vire essa cara feia de Grinch para o outro lado.

Nós abrimos os presentes em turnos. Daphne se
espanta com o seu primeiro perfume, um presente meu e de Alice. Mamãe solta um gritinho com o chapéu novo de jardinagem que papai escolheu para ela. Alice fica com os olho cheios d’água quando desembrulha os gorrinhos que Daphne tricotou para Picles e BooBoo.

Quando pego um presente grande e macio, mamãe se inclina para a frente na poltrona.

— Aaah, esse é o nosso favorito!

Rasgo o papel de presente, que revela uma jaqueta
jeans vintage, que tem até botões de cobre, com um
colarinho de pelo de carneiro.

— Uau — falo, passando a mão no material. — Eu
realmente amo...

— Vire do outro lado! — papai diz.

A parte de trás foi bordada com o desenho de uma
bola de basquete. Em uma letra cursiva, as palavras "eu dou a volta por cima" flutuam ao redor.

— Nós mandamos fazer especialmente pra você! —
mamãe conta.

— É fofo, não é, Chayeng ? — Alice pergunta, em um tom de ameaça que diz “não acabe com a alegria deles”. Passo meus dedos pelo bordado cursivo. Para minha vergonha, minha garganta se fecha e meus olhos enchem d’água. As lágrimas caem antes que eu possa escondê-las.

— Chaeyoung? — minha mãe chama. — Está tudo bem, amor?

Preciso dar tudo de mim para me controlar. Eu não
vou arruinar a manhã de Natal admitindo que a minha resiliência é de fachada, que eu literalmente comprei a confiança pela qual eles estão parabenizando.

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