Capítulo 10

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A noite é silenciosa e desprotegida: um vácuo de
sons.

Deve estar frio, mas eu não noto, ou porque estive
bebendo ou porque meu sangue está fervendo, ou talvez as duas coisas.

Seguro a mão de Jisoo até termos atravessado a calçada na frente da casa de Somi.

Ela para de repente e solta  minha mão.

Nós nos viramos, encarando uma à outra. O peito dela sobe e desce; o olhar é perfurante.

— Eu sinto muito — digo baixinho.
Ela desvia o olhar.

— É como eu disse. — A voz dela está estranhamente calma. — Você foi arrogante em pensar que conhece minhas inimigas melhor do que eu.

Engulo em seco.

— Tem razão.

Lisa e Joy nos alcançam no carro. Joy imediatamente se joga sobre Jisoo, afagando o
cabelo dela e perguntando se está tudo bem.

— Estou ótima — Jisoo diz, categórica, afastando a
amiga. — Por favor, pare de me sufocar.

— Jeon Somi é um lixo — Lisa diz. Os olhos
dela ficam com aquele aspecto destrutivo que ela
adquire quando está na quadra de basquete, mas ela olha inesperadamente para Jisoo. — Mas é melhor que você esteja falando sério sobre ser gay.
Não dá pra fingir que você gosta de meninas pra ganhar uns votos.

— É claro que ela está falando sério — Joy
retruca. — Você não sabe do processo que ela passou, não consegue imaginar a homofobia internalizada...

— Minha melhor amiga também é gay, Joy.  —
Lisa diz, alto. — Então você vai me entender se eu quiser me certificar de que ela não está sendo enganada por essa coisa toda.

Jisoo dá uma risada forçada. Ela se encosta no carro, balançando a cabeça.

— Enganada. Esse é um jeito interessante de falar.

— O que você quer dizer com isso? — Joy
pergunta.

Jisoo e eu nos olhamos. Eu me preparo para ela
descartar nosso acordo por completo e, naquele
instante, quase quero que ela faça isso. Esse negócio já nos causou mais problemas do que precisávamos.

Para nós duas.

Mas, como sempre, ela me pega de surpresa.

— Nada. — Ela funga. — Vamos só embora daqui.
Estou cansada de pensar. Estou cansada de fingir.

Joy assente em simpatia. Lisa  pressiona os lábios, mas olha para mim, em deferência.

— Ok — digo, tentando me centrar. — Vamos embora. Mas outra pessoa precisa dirigir.

— Eu dirijo — Joy diz. — Não bebi hoje.

Eu assinto, passo as chaves para ela, e então me jogo no banco de trás. Quando Lisa desliza ao meu lado, encontro o olhar dela, encabulada.

— Você falou para a Jennie e Crush que não vamos voltar?

— Aham — responde ela, curta.

Lisa  estava se divertindo bastante com a  Jennie, mas trocou isso por tomar conta da minha namorada falsa e de mim.

Não pela primeira vez, eu me sinto indigna da amizade dela.

Jisoo se ajeita no banco do carona na minha frente.
Observo a expressão dela pelo espelho retrovisor
quando saímos do meio-fio. Ela parece inteiramente derrotada. Sei que não é por minha culpa, mas ainda assim sinto o peso disso.

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