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𓏲 ׁ ְ🦇 Porchɑy ׁ ❁̷ ׁ ꫶↱

— Ele está demorando muito, não está? — pergunto a Tankhun, que lixa as unhas, alheio ao meu estado.

Estou uma pilha de nervos desde que Kim saiu. Ele foi até Vegas para desfazer o acordo e dizer que assumirá a posição de líder do clã. Kim não quer isso, ele deixou bem claro, mas Korn é implacável. No café da manhã que ele nos obrigou a ter juntos, Korn ressaltou o que disse ontem à noite; suas ameaças veladas eram bem claras.

Kim saiu logo após. Achei que vampiros não saíssem à luz do dia, mas ele disse que isso é mais um mito e que apenas recém-criados temem à luz; por ser um vampiro de linhagem pura, a luz solar não o afeta.

Já fazem duas horas desde que ele deixou a mansão e até agora nenhum sinal dele. Tankhun, seu irmão mais velho e também meu cunhado, tentou me tranquilizar dizendo que notícias ruins chegam rápido e que, se até agora não soubemos de nada, é porque está tudo bem. Ele não é muito bom em confortar, mas sua tentativa me tocou.

— Chay, relaxe. Venha aqui — ele bate no espaço vago ao seu lado — Olhe esses tecidos e diga qual acha melhor.

Ocupo o espaço vazio e pego a revista de suas mãos; está aberta em uma página cheia dos mais variados tecidos. Eu nem fazia ideia de que havia tantos, todos parecem muito caros.

— Não entendo o porquê de tudo isso, é apenas uma cerimônia — murmuro, folheando a revista. Tankhun me encara, boquiaberto.

— Não é “apenas uma cerimônia”, é a sua cerimônia e a de Kim, um dos vampiros mais temidos e mais antigos de todo o clã. Não trate isso como algo qualquer. Um casamento em nosso mundo significa muito. Sabe quantos esperam encontrar suas almas gêmeas?

Parece que verdadeiramente o magoei.

— Me desculpe, Khun. Entendo que seja algo importante, só não acho que seja necessário todo esse luxo.

Ele suspira, passando os dedos pelos cabelos platinados. Tankhun é um vampiro atraente, sua aura não é como as muitas que sinto aqui. Ao invés de medo, sinto uma estranha empolgação ao seu lado; suas vestes contribuem muito para isso, são luxuosas e chamativas.

— O último casamento que tivemos em nosso clã foi há quatrocentos anos, quando Vegas e Pete subiram ao altar. Desde então, não houve nenhum encontro de almas. Kim é muito respeitado entre os clãs, nosso pai chamou todos para a grande noite. Será uma grande cerimônia, quer vocês queiram ou não.

Suspiro. Apesar de admirar essas criaturas e estar prestes a me casar e tornar-me uma delas, enquanto isso não acontece, sinto como se fosse algum tipo de presa. Não ouso andar por aí sem Kim. Ele disse que estou seguro aqui e ninguém irá me machucar, mas não tenho tanta certeza. Tenho medo de ser encurralado em algum desses corredores e não ter Kim para me proteger.

— Você ainda não encontrou sua alma gêmea? — pergunto a Tankhun. Ele deixa a revista de lado e sorri, um sorriso triste que não combina com sua personalidade divertida. Acho que toquei em um ponto sensível, mas não há como retirar minhas palavras.

— Duzentos anos atrás — ele começa, encarando o nada; parece estar imerso em lembranças. Em silêncio, espero que ele continue. — Duzentos anos atrás eu o encontrei. Era um lenhador mal-educado e que vivia sujo de terra, mas quando nossos olhos se encontraram, ali eu soube: éramos companheiros. Sequer precisei tocá-lo. Naquela época, um amor como o nosso era considerado algo pecaminoso e sujo. Mesmo com nossa clara conexão, ele me rejeitou; era preconceituoso demais para admitir estar apaixonado por um homem. Apesar disso, não o deixei. Nas sombras, eu cuidava dele. O protegia dos perigos que ele não conseguia ver. Mas, mesmo com todo o cuidado, vocês humanos são frágeis demais e meu amado padeceu. As viroses naquela época matavam aos milhões e ele foi vítima de uma delas.

𝗜𝗠𝗣𝗥𝗜𝗡𝗧𝗜𝗡𝗚Onde histórias criam vida. Descubra agora