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Era a garota do clube de culinária.

o que faz aqui?
Olhei em direção à sua cama, cheia de livros e alguns desenhos, além de um Nintendo que ela tinha em mãos.

Eu te conheço?
Ela parecia confusa ao me olhar.

Desculpe, senhor Ushijima. Ela acabou de sair de uma sessão de quimioterapia e está meio confusa, mas garanto que já já ela se lembrará de você.
A enfermeira que estava comigo se aproximou e me explicou.

Quimioterapia? Essa palavra ecoou em minha mente, trazendo um aperto no peito. Logo me arrumei naquela cama de hospital, colocando meu travesseiro e arrumando a pequena cômoda que tinha ao lado.

Já a garota, estava dormindo. Sua aparência não havia mudado muito desde nosso último encontro, seu cabelo longo e loiro não havia caído, apenas estava mais magra. Decidi pegar um livro para ler e tentar me distrair, mas não conseguia parar de pensar nela, o que aparentemente um simples desmaio era?

Na tarde seguinte, enquanto eu lia um livro sobre técnicas de vôlei, ela acordou e me olhou curiosa.

Você Você joga vôlei, certo?
Sua voz era suave, mas havia um brilho em seus olhos.

Sim, eu jogo. Estou no time da escola.
Eu respondi, tentando manter meu tom neutro.

Eu adorava assistir alguns jogos pela Televisão .
Ela sorriu levemente.
Sempre quis aprender a jogar, mas nunca tive a chance.

Eu assenti, sem saber ao certo como responder. A interação com ela era algo novo e desconfortável para mim. Estava acostumado a me concentrar no vôlei e nos treinos, não em conversas casuais com desconhecidos.

No entanto, algo na maneira como ela falava sobre o vôlei mexeu comigo. Havia uma paixão genuína em sua voz, mesmo que fosse apenas uma lembrança de algo que ela nunca pôde experimentar.

Quem sabe um dia você ainda possa aprender.
As palavras escaparam antes que eu pudesse impedi-las.

Olhei para ela, esperando que minha resposta não soasse forçada.

Talvez.
Ela respondeu, seu sorriso ficando um pouco mais triste.
Mas acho que agora não é mais possível.

Um silêncio se instalou entre nós, apenas o som dos aparelhos e do sussurro distante dos corredores preenchendo o ar. Voltei minha atenção ao livro, mas não consegui mais me concentrar.

   Nos dias que se seguiram, continuamos a conversar, aos poucos. Ela me contava sobre os pratos que gostava de cozinhar no clube de culinária, e eu lhe contava histórias sobre os jogos de vôlei e os treinos. Mesmo que a princípio eu tivesse relutância, comecei a perceber que essas conversas não eram tão incômodas quanto eu imaginava. Na verdade, elas se tornaram um ponto alto do meu dia, afinal não tinha nada pra fazer naquele hospital.

Sabe _____, tive relutância em perguntar até agora, e peço desculpas caso não seja adequado, mas afinal, o que vc tem? O que aconteceu pra vc vir parar no hospital até agora? Não foi apenas um desmaio?
Largo o livro que estava em minhas mãos a vendo soltar o pequeno jogo que ela também segurava.

—Esta tudo bem, eu pensei que você já sabia. Eu tenho Leucemia, descobri naquele dia do desmaio, e você veio parar aqui por que?

tenho um problema nos meus dois rins, estou na fila de espera por um transplante, nem que seja apenas um.

Você já pensou no que vai fazer quando sair daqui?
Ela perguntou, tentando tirar aquele clima pesado que havia se instalado.

Penso nisso o tempo todo. Quero voltar a jogar, é claro. Mas acho que depois de tudo isso, vou valorizar cada treino, cada jogo, de uma maneira diferente.

Ela sorriu, parecendo genuinamente feliz por mim.

Eu sempre quis aprender a jogar vôlei, mas nunca tive a chance.
disse ela novamente.
Talvez, se eu melhorar, você possa me ensinar.

Eu adoraria.
As palavras saíram mais sinceras do que eu esperava.
Prometo que vou te ensinar assim que você estiver bem, mas só se você fizer aquela torta de maçã de novo.

É uma promessa?
Ela perguntou, com um brilho esperançoso nos olhos.

É uma promessa.
Respondi, sentindo um novo tipo de determinação surgir dentro de mim.

  Nossas conversas diárias se tornaram uma parte essencial da minha rotina no hospital. Cada dia, ela parecia um pouco mais forte, um pouco mais determinada a lutar contra sua doença.

  No meio de tanta dor e incerteza, havíamos encontrado uma amizade que nos dava forças para seguir em frente.

Certo dia, enquanto conversávamos sobre um dos pratos que ela adorava cozinhar, percebi que algo dentro de mim havia mudado.
  Eu, que sempre fui fechado e focado apenas no vôlei, agora encontrava uma pequena porcentagem de alegria e consolo nas nossas conversas.     

Sabe, acho que você me ajudou a ver o mundo de uma maneira diferente. Obrigado por isso.

Ela sorriu, e pela primeira vez, eu senti algo diferente dentro do meu peito, meu coração havia acelerado e senti minhas bochechas ficarem quentes, o que é isso?

Mas essa sensação não durou muito tempo, pois a mesma havia começado a convulsionar na minha frente, seus olhos haviam revirado e seu corpo foi jogado com força sob a cama. Assustado, apenas me levantei rapidamente e apertei o botão de emergência.

Torta De Maçã (Ushijima x reader)Onde histórias criam vida. Descubra agora