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Mais um dia que eu acordo neste mundo, tentando não me lembrar que minha família existe, às vezes eu penso em desistir, penso em como eu seria mais feliz em outro lugar.

Mas não neste, apenas tento ser feliz sozinha, mas como? Se ao menos tivesse alguém para contar meus segredos, minhas angústias, meus sentimentos, meus pensamentos, mas eu não tenho.

Por que? Eu sempre me pergunto, motivos? Vários, não é querendo falar mal da minha própria família, mas desde que eu nasci eles não ligam para mim e sim pros perfeitinhos de meus irmãos.

Ela sempre se sentiu diferente. Desde pequena, percebia que sua família não a entendia, e as coisas pioraram na adolescência. Seus pais, ocupados com seus próprios problemas, não tinham paciência para lidar com a tristeza que ela sentia. Seus irmãos mais velhos pareciam ter vidas perfeitas, o que a fazia sentir-se ainda mais deslocada.

Com o tempo, a ansiedade e a depressão tomaram conta. Ir para a escola era um desafio, e ela passava as noites em claro, atormentada por pensamentos que não conseguia afastar. O peso da solidão e da incompreensão a sufocava.

Cada dia parecia mais difícil do que o anterior. O mundo ao seu redor continuava a girar, mas ela se sentia presa em um lugar escuro, onde ninguém conseguia alcançá-la. As horas se arrastavam, e a tristeza parecia não ter fim. Ela queria gritar, pedir ajuda, mas as palavras se perdiam em sua garganta.

Ela não conseguia encontrar forças para fazer as coisas que antes a faziam feliz. Tudo parecia distante, como se houvesse uma barreira invisível entre ela e o resto do mundo. A sensação de vazio era constante, e por mais que tentasse, não conseguia preenchê-lo.

As paredes do quarto, antes um refúgio, agora pareciam se fechar ao seu redor. As vozes em sua cabeça eram as únicas companheiras, sussurrando que ela nunca seria suficiente, que ninguém jamais a entenderia. Ela se sentia sufocada por uma escuridão que parecia não ter fim, uma dor silenciosa que não podia ser explicada.

Stella se levantou da cama naquela manhã com o mesmo peso no peito que carregava há semanas. Ela tentava se preparar mentalmente para mais um dia, mas a escuridão dentro de si tornava tudo mais difícil. Mesmo assim, ela se forçou a se vestir para ir à escola, movida por uma força quase mecânica.

Quando ela desceu as escadas, encontrou sua mãe, Mary, já impaciente na cozinha.

—Você sempre acorda com essa cara? Parece que não tem nada nessa cabeça!— Mary disse com o tom de desprezo habitual. Joseph, sentado à mesa, apenas bufou ao ouvir o comentário, mas não disse nada. Era como se ele tivesse desistido de tentar entender o que se passava com Stella.

Stella tentou ignorar, mas as palavras cortaram fundo. Ela pegou uma maçã e colocou na mochila, tentando evitar qualquer interação desnecessária.

Antes de sair, Lucca, seu irmão do meio, passou por ela e deu um sorriso cínico.

—Vai continuar bancando a vítima hoje, Stella? Sabe que ninguém liga para esse seu drama, né?

Essas palavras ecoaram em sua mente enquanto ela saía de casa. A vontade de desaparecer voltou com força, mas Stella continuou a caminhar em direção à escola. Os insultos dos familiares queimavam dentro dela, mas, ao mesmo tempo, havia uma parte que já estava acostumada. Era como se aquelas palavras fossem um veneno ao qual ela tinha se tornado resistente, mas que ainda corroía lentamente.

No caminho, ela tentava afastar os pensamentos, focando apenas em colocar um pé na frente do outro. Stella sabia que, na escola, as coisas não seriam muito diferentes, mas ainda assim ela precisava seguir em frente, mesmo que cada passo parecesse um desafio insuportável.

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