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Stella estava perdida em um sono profundo quando foi arrancada bruscamente de seus sonhos por gritos vindos do andar de baixo. Sua mente sonolenta levou alguns segundos para processar o que estava acontecendo, mas logo reconheceu as vozes furiosas de seus pais. O coração dela disparou, e o familiar pavor de enfrentar mais um confronto a fez hesitar em sair da cama.

Ela se encolheu sob as cobertas, tentando se convencer de que podia ignorar os gritos, mas os ecos das vozes de Mary e Joseph eram impossíveis de ignorar. Stella sabia que, cedo ou tarde, teria que descer e encarar a situação. Os gritos aumentaram, carregados de raiva e desprezo, cortando o silêncio da casa com a intensidade de uma tempestade que se aproximava.

Respirando fundo, Stella finalmente se forçou a sair da cama. Seus pés descalços tocaram o chão frio, e ela caminhou até a porta, hesitando antes de abri-la. Quando finalmente desceu as escadas, cada passo parecia mais pesado que o anterior. Ao se aproximar da cozinha, os gritos se tornaram mais claros, e ela pôde ouvir distintamente seu nome sendo repetido em meio às acusações.

Ao entrar na cozinha, a cena que encontrou era desoladora. Mary e Joseph estavam de pé, seus rostos contorcidos em expressões de fúria, enquanto Lucca, seu irmão do meio, olhava para ela com aquele desprezo característico que Stella conhecia bem.

—Você não tem vergonha, Stella?— Mary começou, sua voz impregnada de raiva. —Nós te damos um lar, comida, e tudo o que você faz é desrespeitar a todos aqui! Como você pode ser tão ingrata?—

Stella tentou falar, mas Mary não lhe deu chance.

—Eu vi como você se comportou na escola hoje. Recebi uma ligação da professora dizendo que você estava se isolando, não estava prestando atenção, e ainda se metendo com aquele garoto estranho. O que você está tentando fazer, Stella? Quer nos envergonhar mais ainda?

A cada palavra, Stella sentia seu coração afundar mais. Ela sabia que não importava o que dissesse, nada mudaria o que seus pais pensavam dela. Sua mãe continuou a atacar, e seu pai logo se juntou ao coro.

—Você é um peso para essa família, Stella,—disse Joseph, com uma frieza que a fez estremecer. —Nós tentamos de tudo para te colocar no caminho certo, mas você simplesmente não aprende. Talvez o problema seja que você nunca quis realmente ser parte dessa família.—

Stella sentiu o sangue gelar nas veias. As palavras de seu pai eram como facas afiadas, cada uma cortando mais fundo do que a anterior. Ela abriu a boca para se defender, mas Lucca, que estava até então em silêncio, decidiu se juntar à briga.

—Você só sabe trazer problemas, Stella. Sempre foi assim. Desde pequena, você nunca fez nada certo. Sempre foi uma vergonha, uma irritação constante. E olha só para você agora, se achando melhor que todo mundo só porque aquele idiota decidiu falar com você na escola.

Stella sentiu as lágrimas começarem a se formar em seus olhos, mas se recusou a deixar que caíssem.

—Eu não estou me achando melhor que ninguém,— ela tentou argumentar, a voz trêmula. —Eu só... eu só estou tentando lidar com tudo isso...—

Mas Mary não queria ouvir desculpas.

—Lidar com o quê, Stella? Lidar com o quê? Você acha que é a única pessoa no mundo que tem problemas? Você acha que suas dificuldades te dão o direito de tratar todo mundo assim? Não, Stella, você está errada. Você precisa aprender a respeitar seus pais, a respeitar sua família!—

Stella começou a tremer. Ela sabia que não importava o quanto tentasse explicar, ninguém ali estava disposto a ouvir. A dor no peito dela crescia a cada palavra, e a sensação de sufocamento a dominava.

—Eu não quero desrespeitar ninguém...— ela sussurrou, quase inaudível. —Eu só estou tentando sobreviver.—

Joseph soltou uma risada amarga.

—Sobreviver? Isso é o que você chama de sobreviver? Se escondendo no quarto, se isolando na escola, e agora até se recusando a falar conosco? Isso é sobreviver, Stella? Se essa é a sua ideia de sobreviver, então você está falhando miseravelmente.—

Lucca balançou a cabeça, como se estivesse cansado de tudo aquilo.

—Você é patética, Stella. Sempre foi. E sabe o que é pior? Você nem se esforça para mudar. Você gosta de ser a vítima, gosta de se fazer de coitada, para que todo mundo sinta pena de você. Mas sabe de uma coisa? Ninguém aqui vai cair nesse seu joguinho.

Stella sentiu as lágrimas finalmente escaparem, deslizando silenciosamente pelo rosto. Ela sabia que era inútil tentar argumentar, mas não podia simplesmente ficar lá, ouvindo tudo aquilo sem dizer nada.

—Eu... eu só queria que vocês entendessem como eu me sinto. Eu só queria que vocês... me ouvissem, pelo menos uma vez.

Mary revirou os olhos, claramente impaciente.

—Entender? O que há para entender, Stella? Você é uma criança mimada que não sabe seu lugar. Nós tentamos te ajudar, tentamos te criar direito, mas você só nos dá as costas. O que você esperava? Que ficássemos aqui, te mimando, te desculpando por todos os seus erros?

Joseph fez um gesto de desdém.

—Nós estamos fartos disso, Stella. Chegamos ao nosso limite. Se você não começar a mudar, se você não começar a agir como uma filha decente, então talvez precise aprender do jeito mais difícil.

Stella sabia que "o jeito mais difícil" não era apenas uma ameaça vazia. Seus pais já haviam recorrido a métodos cruéis no passado para "discipliná-la". A ideia de passar por isso novamente fez seu estômago revirar.

Ela engoliu em seco e deu um passo para trás, como se quisesse se afastar fisicamente de toda a dor que aquelas palavras estavam causando.

—Eu vou para o meu quarto— ela disse, tentando manter a voz firme, mas o tom frágil traiu seu verdadeiro estado emocional.

Sem esperar por uma resposta, Stella virou-se e correu para as escadas. Ela podia ouvir os murmúrios desaprovadores de seus pais e de Lucca enquanto subia, mas não se importava mais. Tudo o que queria era escapar, se esconder, desaparecer.

Quando finalmente chegou ao seu quarto, fechou a porta e se deixou cair no chão, as lágrimas fluindo livremente agora. A sensação de sufocamento era esmagadora, como se as paredes estivessem se fechando sobre ela, e a dor em seu peito era tão intensa que parecia física.

Stella ficou ali, deitada no chão do quarto, tentando entender como sua vida havia chegado a esse ponto. Como poderia continuar vivendo sob o mesmo teto que aquelas pessoas que deveriam amá-la, mas que pareciam apenas vê-la como um problema a ser corrigido? Por que ela era sempre a culpada, sempre a errada, nunca suficiente?

Ela sabia que precisava ser forte, precisava encontrar uma maneira de sobreviver, mas, naquele momento, sentia-se mais fraca do que nunca. E, pela primeira vez, começou a se perguntar se valia a pena continuar lutando, se algum dia as coisas realmente mudariam.

Autora aqui/

Oiii, estão gostando? O que será que vai acontecer com Stella?

Vou já fazer o próximo capítulo. Obrigada por ler.

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