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Enquanto Matteo sentava ao lado de Stella, o silêncio entre eles começou a crescer, mas era um silêncio cheio de significados. Cada um estava mergulhado em seus próprios pensamentos, tentando processar as complexidades de suas vidas.

Stella, com a cabeça abaixada, não conseguia parar de pensar em sua família. Desde pequena, ela sempre se sentiu à margem, como se não pertencesse realmente àquele núcleo familiar. Seus pais, Mary e Joseph, eram figuras distantes, quase como estranhos que compartilhavam o mesmo espaço, mas não o mesmo mundo. Mary era crítica e impaciente, como se a presença de Stella fosse uma constante lembrança de algo que ela preferia esquecer. Joseph, por outro lado, era passivo, uma figura de autoridade ausente que raramente se envolvia nas questões familiares, exceto para expressar seu descontentamento silencioso. E então havia Lucca, o irmão do meio, que parecia tirar prazer em fazer com que Stella se sentisse ainda mais pequena, mais insignificante.

Ela se perguntava o que havia de errado com ela, por que não conseguia ser como os outros, por que não podia simplesmente se encaixar. As palavras duras, os olhares de desprezo, e o constante sentimento de inadequação eram como pedras que ela carregava no peito, sempre presentes, sempre pesando. O que mais doía não era o bullying na escola, ou as piadas cruéis que ouvia todos os dias — embora isso já fosse suficientemente doloroso — mas o fato de que em casa, no lugar onde deveria encontrar consolo, só encontrava mais desprezo. Ela se perguntava se havia algo fundamentalmente errado com ela, se a falha era dela por não conseguir ser o que eles esperavam.

Enquanto isso, Matteo também se afundava em seus próprios pensamentos. Ele não sabia exatamente o que o havia levado até aquele jardim naquela manhã, mas algo em Stella sempre o intrigou. Ele sabia o que era viver em um ambiente onde as expectativas eram sufocantes, onde o silêncio era mais pesado do que as palavras. Matteo vinha de uma casa onde o conflito era mais interno do que externo. Seu pai era uma figura severa, alguém que não expressava emoções abertamente, mas que exigia perfeição em tudo. Matteo, por sua vez, nunca se sentiu à altura dessas expectativas. Embora seu problema fosse diferente de Stella, ele entendia a pressão constante de tentar ser algo que não era.

Para Matteo, sua casa era um lugar onde ele precisava usar uma máscara, uma fachada de competência e indiferença. Mas isso cobrava um preço. Ele se perguntava se algum dia seria capaz de viver de acordo com as expectativas de seu pai, ou se continuaria a falhar em todas as tentativas. Ainda assim, ele reconhecia que, comparado ao que Stella provavelmente enfrentava, seus problemas eram menores. Matteo tinha sua mãe, que embora fosse menos presente, sempre tentava equilibrar as tensões em casa, e ele tinha amigos, mesmo que não muitos, que o apoiavam de vez em quando.

Stella, por outro lado, não parecia ter ninguém. O isolamento dela era algo que Matteo nunca havia experimentado, pelo menos não naquele grau. Ele podia ver, pelo olhar perdido e pelos ombros curvados, que Stella carregava uma dor que ia muito além do que ele conseguia compreender. O que seria viver em uma casa onde cada membro da família contribuía para o sofrimento? Onde não havia uma única pessoa em quem confiar? A ideia o perturbava, e ele se perguntava como Stella conseguia suportar tudo isso.

Stella, ainda imersa em suas reflexões, se perguntava por que sua família era como era. Ela pensava em sua mãe, Mary, e tentava entender por que ela parecia tão cheia de desprezo. Será que Mary via em Stella algo que a lembrava de um erro passado, algo que ela queria esquecer? E Joseph, seu pai, por que ele nunca a defendia? Por que ele deixava que Mary e Lucca a tratassem daquela forma? Será que ele também achava que Stella não era digna de seu amor ou atenção? E quanto a Lucca, por que ele parecia tirar tanto prazer em vê-la sofrer? Será que ele estava apenas refletindo o que via nos pais, ou havia algo mais?

Ela queria respostas, mas sabia que nunca as obteria. Perguntar a seus pais seria inútil, e ela não tinha coragem de enfrentar Lucca. A única coisa que lhe restava era suportar e continuar, como sempre fazia, mesmo que isso significasse apenas sobreviver, dia após dia.

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