Olhe para você.

09

Stella's point of view:

Às vezes, parece que o peso do mundo está em cima de mim, como se eu estivesse tentando respirar embaixo d'água. Tudo ao meu redor parece escuro, abafado, e eu só quero encontrar uma saída, mas não sei como. Desde que consigo me lembrar, a vida tem sido assim, uma batalha constante que eu nunca pedi para lutar.

Lembro-me de quando era pequena e tentava de tudo para agradar meus pais, para ser a filha perfeita. Mas nada do que eu fazia parecia ser o suficiente. Se eu cometia um erro, por menor que fosse, a reação deles era sempre exagerada, como se eu tivesse cometido um crime imperdoável. Cada palavra dura, cada castigo, cada olhar de decepção me marcava mais do que qualquer coisa física poderia.

E então, havia Lucca. Sempre tão cruel, sempre tão disposto a me derrubar, como se tirar sarro de mim fosse sua missão na vida. No começo, eu tentava revidar, tentava me defender, mas com o tempo percebi que não adiantava. Ele sempre tinha algo mais para dizer, algo que me faria sentir ainda pior do que já me sentia. Eu aprendi a ficar quieta, a deixar passar, porque brigar só tornava as coisas piores.

E Jordan… bem, ele sempre esteve lá, mas nunca realmente presente. Ele era o irmão mais velho que eu admirava quando era mais nova, mas que nunca parecia ter tempo para mim. Eu me convenci de que ele estava ocupado, que tinha suas próprias coisas para lidar, mas, no fundo, sempre desejei que ele olhasse para mim, que ele visse o que estava acontecendo de verdade. Eu queria que ele percebesse, que perguntasse, que me ajudasse. Mas ele nunca fez isso. Eu me tornei invisível, tanto em casa quanto na escola.

A escola… como eu odiava aquele lugar. Era onde eu deveria me sentir segura, onde deveria poder ser eu mesma, mas era apenas mais um lugar onde eu tinha que me esconder. As pessoas riam de mim, falavam de mim pelas costas, faziam piadas cruéis que eu fingia não ouvir. Mas o que mais me machucava era o medo constante, o medo de que alguém percebesse o quanto aquilo me afetava, o quanto eu estava quebrada por dentro.

Eu queria fugir, queria desaparecer, mas ao mesmo tempo, algo dentro de mim me mantinha presa. Talvez fosse Matteo, a única pessoa que parecia enxergar além da fachada que eu mostrava ao mundo. Com ele, eu podia ser honesta, podia admitir o quanto eu estava cansada, o quanto eu queria que as coisas fossem diferentes. Mas, mesmo com Matteo, havia uma parte de mim que não conseguia se abrir completamente. O medo de ser julgada, de ser vista como fraca, ainda me prendia.

Enquanto caminhava de volta para a sala de aula depois de conversar com Matteo, uma parte de mim se sentia um pouco mais leve, mas a outra parte ainda estava esmagada pelo peso de tudo. Eu queria que as coisas mudassem, mas não sabia como fazer isso acontecer. Cada dia parecia uma repetição do anterior, uma luta para sobreviver até o próximo.

Jordan's point of view:

Eu nunca pensei que seria assim. Nunca pensei que veria minha irmã daquele jeito, tão quebrada, tão machucada.

Durante todos esses anos, eu me convenci de que estava fazendo a coisa certa ao manter distância, ao deixar que ela lidasse com seus próprios problemas.

Achei que estava ensinando-a a ser forte, a lidar com a vida por conta própria. Mas agora, tudo que vejo é o quanto eu errei.

Enquanto sigo Stella de volta para a sala de aula, minha mente está a mil. O que ela disse para Matteo... O que ela não disse, mas que estava implícito, me atingiu como uma tonelada de tijolos.

Eu sempre soube que ela sofria bullying, mas nunca imaginei que fosse tão profundo, tão devastador.

E o que ela insinuou... meu Deus, como eu pude ser tão cego?

Eu me sinto um lixo por não ter visto o que estava acontecendo bem diante dos meus olhos. Eu estava tão focado em minha própria vida, em meus próprios problemas, que não me permiti perceber que minha irmã estava desmoronando.

Não vi os sinais, não percebi o quão grave era a situação. E agora, eu estou aqui, seguindo-a pelos corredores da escola, sabendo que falhei com ela de todas as formas possíveis.

Ver Stella com Matteo, vendo como ela se abre para ele de uma forma que nunca fez comigo, dói.

Dói saber que ela não confia em mim para contar o que realmente está acontecendo. Mas, ao mesmo tempo, não posso culpá-la. Eu não estava lá por ela quando ela mais precisou, e agora estou pagando o preço por isso.

Enquanto caminho, me pergunto como posso consertar isso, como posso ser o irmão que ela precisa agora.

Eu sei que não será fácil, sei que não posso simplesmente entrar em sua vida e exigir que ela confie em mim.

Vai levar tempo, vai exigir paciência, e, acima de tudo, vai exigir que eu esteja presente, verdadeiramente presente, pela primeira vez em muito tempo.

Eu preciso fazer isso por Stella. Eu preciso estar lá por ela, ajudá-la a superar isso, de alguma forma. E sei que o primeiro passo é ganhar sua confiança, mostrar que estou aqui, que não vou mais virar as costas para ela. Eu sei que vai ser difícil, que há uma longa estrada pela frente, mas estou disposto a percorrê-la, por ela.

Chegamos à sala de aula, e enquanto Stella se senta ao lado de Matteo, eu tomo meu lugar, determinado a mudar. Eu sei que não posso apagar o passado, mas posso, pelo menos, tentar construir um futuro melhor para minha irmã. E vou começar agora.

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