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Quando Stella chegou em casa, o silêncio no ambiente era quase palpável. A casa estava vazia, como de costume, com seus pais e irmãos ocupados com outras atividades, deixando-a sozinha com seus pensamentos. Stella tirou os sapatos na entrada e seguiu diretamente para a cozinha, onde sabia que encontraria o resto do almoço deixado para ela.

Ao abrir a geladeira, encontrou um prato com restos do almoço do dia. Sem muito apetite, ela pegou o prato e se sentou à mesa. A comida estava fria e desprovida de qualquer sabor que pudesse agradá-la, mas Stella não reclamou. Comer era mais uma obrigação, uma tarefa a ser concluída, assim como tantas outras em sua vida.

Enquanto mastigava lentamente, ela pensava no dia na escola, nos olhares de desprezo e nas palavras cruéis que havia ouvido. Mas, mais do que isso, pensava na breve conversa com Matteo, que havia sido um pequeno raio de luz em um dia nublado. A oferta dele de estar lá para ela ecoava em sua mente, mas Stella não sabia se tinha forças para confiar em alguém novamente. As cicatrizes emocionais deixadas por sua família a tornavam desconfiada e cínica, mesmo em relação às boas intenções.

Quando terminou de comer, começou a lavar o prato na pia, mas seus pensamentos foram interrompidos pelo som pesado dos passos de seus pais entrando na cozinha. Mary e Joseph surgiram à porta, e Stella pôde sentir a tensão no ar antes mesmo de ouvirem suas vozes.

—Stella, onde você estava? Por que demorou tanto para voltar para casa?— A voz de Mary era afiada, como uma lâmina cortante. Ela não esperava por uma resposta. A raiva e a frustração estavam claras em sua expressão, como se qualquer coisa que Stella dissesse apenas agravasse a situação.

Stella, já acostumada a essas brigas, tentou manter a calma, mas seu coração começou a bater mais rápido.

—Eu estava na escola, mãe. Só demorei um pouco no caminho de volta,— respondeu ela, tentando não provocar mais irritação.

Joseph, que estava ao lado de Mary, cruzou os braços e lançou a Stella um olhar de desaprovação.

—Você não tem respeito nenhum, não é? Não é só uma questão de chegar tarde. É sobre como você se comporta. Estamos cansados dessa sua atitude. Sempre nos desobedecendo, sempre nos envergonhando.

As palavras de seu pai eram como socos que ela não podia desviar. A cada frase, a culpa e o desprezo que Stella sentia por si mesma apenas aumentavam. Ela sabia que não importava o que dissesse ou fizesse, sempre seria insuficiente aos olhos deles.

Mary, alimentada pela raiva de Joseph, continuou: —E quanto a seus irmãos? Você nem se dá ao trabalho de tratá-los com respeito. Você está sempre contra eles, sempre criando problemas. Talvez seja hora de começarmos a pensar em como corrigir essa sua atitude, Stella.—

Stella mordeu o lábio, lutando contra as lágrimas que ameaçavam cair. Ela sabia que discutir seria inútil, apenas tornaria as coisas piores. Em vez disso, ela assentiu silenciosamente e começou a recuar em direção às escadas.

—Eu vou para o meu quarto,— disse ela, tentando encerrar a discussão antes que se tornasse ainda mais agressiva.

Mary a observou com desprezo enquanto Stella subia as escadas, e Joseph apenas balançou a cabeça em desaprovação, como se Stella fosse uma causa perdida.

Quando finalmente chegou ao quarto, Stella fechou a porta atrás de si e respirou fundo. Ela sentia o peso de todas as palavras, de todas as acusações e críticas que seus pais jogaram sobre ela. A sensação de inadequação e fracasso a envolveu como um cobertor pesado. Ela se sentia esgotada, emocionalmente drenada.

Decidiu tomar um banho, na esperança de que a água pudesse lavar ao menos uma parte da dor que sentia. No banheiro, ligou o chuveiro e deixou a água quente escorrer pelo seu corpo, como se quisesse derreter as camadas de angústia que haviam se acumulado ao longo do dia.

Enquanto a água caía, Stella refletia sobre tudo o que tinha acontecido. Pensava na sua família, nas brigas constantes, no desprezo de Lucca, e na indiferença do irmão mais velho. Ela se perguntava como as coisas chegaram a esse ponto, como havia se tornado alguém que nem a própria família parecia querer por perto.

Ela também pensava em Matteo, na gentileza dele, e se perguntava se poderia confiar em alguém como ele. Mas, ao mesmo tempo, a voz de seus pais ecoava em sua mente, dizendo que ela era um problema, que nada do que fazia era certo. Como poderia acreditar em algo diferente?

O banho terminou, mas as questões persistiam, deixando-a com uma sensação de vazio e cansaço que a água quente não conseguiu dissipar. Ela sabia que a noite seria longa, preenchida pelos mesmos pensamentos circulares que a atormentavam desde sempre, mas, por enquanto, ela só queria encontrar algum alívio, mesmo que breve, na tranquilidade de seu quarto.

E assim, envolta em suas reflexões e no silêncio do banheiro, Stella se preparava para mais uma noite de luta interna, na esperança de que, em algum lugar, uma resposta para tudo isso pudesse ser encontrada.

Autora aqui/

Oiii, desculpa a demora para postar este capítulo, eu estava sem tempo algum, mas está aí, vai ser pequeno agora, pois não estou conseguindo fazer grande.

Estão gostando ou não?? Sinceridade.

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