Capitulo 01

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Narrado por Jimin. 

Dois anos depois.


Como professor, o primeiro dia de aula sempre foi o meu preferido de todo o semestre. Gostava muito de olhar para os rostos dos meus alunos enquanto me apresentava para a turma. Modéstia parte, devia-se ao fato da minha aula introdutória ser muito boa. 

Como lecionava uma matéria de linguagem para cursos que focavam mais na parte financeira e empreendedora, a esmagadora maioria dos meus alunos entravam na sala pensando que a minha aula seria a mais inútil de toda a grade curricular. 

Nos cursos com foco em gestão, sempre idealizavam aulas de economia, contabilidade, direito e principalmente aquelas que trabalhavam com números. Linguagem e gramática eram sempre jogadas para escanteio, fazendo com que se esquecessem de que tudo começava com a comunicação. 

Por esse mesmo motivo, eu adorava mostrar já em nossa primeira aula a maneira como a linguagem impactaria em suas vidas profissionais, trazia exemplos simples e práticos de como tudo isso seria aplicado no cotidiano, dentro de uma empresa.

 — Não tem como vocês serem bons líderes sem o domínio da linguagem — deixei bastante claro. — Não importa o quanto vocês sejam competentes, não importa o quanto sejam dedicados e capacitados... Sem um domínio desse princípio básico, é impossível se tornarem verdadeiros líderes. 

Um dos alunos levantou a mão e, assim que levei a minha atenção até ele, o homem engravatado respondeu:

 — Mas a liderança não está mais associada a maneira com que as pessoas nos enxergam? Seja por admiração ou porque se trata de alguém mais capacitado... Liderança é uma habilidade... 

— Uma habilidade de comunicação — eu o interrompi. — De certa forma, você está correto... A liderança está mesmo associada a maneira como somos vistos, mas isso só acontece por meio de comunicação, seja ela verbal ou não — expliquei, pois queria que compreendessem que uma coisa estava diretamente ligada a outra. — As pessoas só enxergam aquilo que nós transmitimos para elas. O que torna alguém um líder não é o conhecimento ou o quanto essa pessoa é capacitada pra uma determinada função... Liderança está mais ligada a capacidade do gestor em transmitir esses conhecimentos através de uma linguagem simples e eficiente. Um dos maiores mitos da atualidade era de que inteligência estava diretamente relacionada a excesso de informação e esse nunca foi o caso. Essa palavra tinha sua origem no latim, de INTELLIGERE. Uma junção de INTER, que significava "entre". E também de LEGERE, que se tratava de "escolher". Basicamente "escolher entre". 

Sendo assim, uma pessoa inteligente era aquela que possuía discernimento. Não se tratava de quem possuía mais informação, mas daqueles que tinham a capacidade de selecionar o que prestava e aquilo que deveria ser descartado.

 — Um bom gestor não precisa ser a pessoa mais inteligente do setor... Um bom líder muitas vezes nem mesmo possuí uma formação acadêmica — afirmei numa clara provocação e quando algumas mãos começaram a levantar, soube que havia conseguido exatamente o que eu queria. — Não é sobre a quantidade de conhecimento que vocês possuem, mas a habilidade depegar a parcela de conhecimento que realmente importa para a função que vocês desempenham e aplicar isso da maneira mais eficiente. 

Antes que pudesse começar a responder as perguntas dos meus alunos, ouvi o barulho da porta e isso acabou me desconcentrando. Detestava quando alguém chegava quase no final da minha aula, atrapalhando a concentração da turma inteira. Levei os meus olhos até a porta e, nesse instante, o meu coração falhou em uma batida.

 NÃO.

 Eu me recusava a acreditar. O cabelo negro levemente arrepiado, a barba por fazer, os lábios carnudos e os olhos cinzentos. Tudo isso formando aquela expressão ferozmente cruel da qual eu nunca havia me esquecido. Ainda me lembrava daquele maldito nickname. 

ATVDOT25. 

Tratava-se do mesmo filho da puta que me humilhou e então me colocou para fora de seu apartamento completamente despido. Ele usava uma camiseta preta apertada, que mostrava bem os seus músculos, principalmente o seu peito firme e bem desenhado. Seus braços continuavam enormes, com aquelas mesmas tatuagens intimidantes. 

— Pode nos dar um exemplo disso, professor? — aquele mesmo aluno engravatado questionou, trazendo-me de volta dos meus pensamentos. — Algo realmente prático?

 Desviei o meu olhar e senti o meu rosto queimar. Não sabia se estava com raiva ou vergonha, mas sentia toda a confiança escorrendo do meu corpo, como se apenas a enorme presença daquele homem fizesse com que eu me sentisse fraco e pequeno. Levei os meus olhos ao aluno que me fez a pergunta, ainda desnorteado: 

— Sabe quando o seu chefe te sacaneia e contrata um novo supervisor em vez de te promover? Ele diz que esse cara tem quinhentas formações, mas no final é você quem termina treinando o idiota... — Os alunos começaram a rir, pois claramente já haviam passado por essa situação.

— Mesmo com todas as formações do mundo, ele não entende mais do que você que está naquele lugar há anos e que conhece tudo o que funciona e o que não. Ele tem mais conhecimento, mas você tem prática, conhece a comunicação do ambiente, a forma de se expressar e agir... E isso, meus queridos, também é linguagem. 

Dispensei os alunos mais cedo e sentei-me atrás da minha mesa, ainda sentindo as minhas pernas um pouco bambas. Estava tão distraído que não notei ele se aproximando. 

— Disseram que tinha uma lista de presença... Quero assinar também. — A voz grave dele me arrepiou e me levou de volta para aquele momento horrível, fazendo-me relembrar daquela noite que passei dois anos tentando esquecer. 

Levantei o meu olhar e observei o seu rosto quadrado, com aquela mandíbula marcada, aquele queixo desenhado juntamente com o pomo de adão. Uma coisa eu precisava admitir: o desgraçado continuava tão gostoso quanto antes. 

— É uma lista de presença e você chegou no final da minha aula. — Observei aqueles olhos cinzentos e não me deixei intimidar por sua expressão raivosa. — Nos dias em que chegar no horário, deixarei você assinar.

 — NÃO FODE! 

Ele riu frustrado e balançou a cabeça em negação, enquanto aqueles olhos me engoliam. Como aquele garoto mal-educado continuou parado na frente da minha mesa, como se pudesse me colocar medo com uma careta, questionei: 

— Posso ajudar com mais alguma coisa?

 — Pode... Mete uma tora no meio do seu rabo, seu arrombado — ele respondeu explodindo de ódio, antes de se afastar, deixando a minha sala.   

Fatal Trouble Act³: JikookOnde histórias criam vida. Descubra agora