Capitulo 2

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AMOR E DESESPERO

Julho de 2019


As paredes do estúdio de dança estavam cobertas por espelhos, refletindo cada movimento com precisão cruel. O chão de madeira rangia sob meus pés descalços enquanto lutava para manter a postura perfeita exigida pela severa instrutora de balé. O ar estava impregnado com o cheiro de suor e o som ritmado da música clássica ecoava pelo ambiente.

Respiro fundo, tentando controlar a frustração que borbulhava por dentro. A dança sempre foi uma paixão, mas balé nunca fez parte dos meus sonhos. A rigidez, a disciplina implacável, os movimentos friamente calculados e repetitivos – tudo isso era o oposto da liberdade que me fazia amar dançar.

— Mais uma vez, Senhorita Ha! — A voz da instrutora cortou o ar como uma faca. — Concentre-se!

Fecho os olhos por um momento, tentando afastar o cansaço e a irritação. Lembre-se da razão pela qual está aqui. Sinto os músculos queimando de exaustão, mas sei que não posso me permitir fraquejar. A pressão para ser perfeita, para superar todas as expectativas, era esmagadora.

Os minutos pareciam se arrastar enquanto repetia os mesmos movimentos, meus pés latejando a cada passo. Finalmente, a aula chegou ao fim. As outras alunas começaram a se dispersar, conversando animadamente entre si; há alguns anos eu até participaria das conversas. Mas agora sei que sou a razão de muitas delas, permaneço onde estou, me sentindo isolada em meio àquela cena.

— Você precisa se esforçar mais — disse a instrutora, aproximando-se com um olhar crítico. — O balé não é apenas sobre técnica, é sobre alma. Você está faltando com isso. No palco, isso conta mais do que o dinheiro.

Me limito a assentir, segurando a resposta amarga que queria dar. Sabia que discutir não levaria a lugar nenhum. Quando a instrutora se afastou, finalmente permito que um suspiro escape, aliviada por ter um momento de paz.

Peguei minhas coisas e saí do estúdio, o coração ainda acelerado. Sentia-me sufocada pela pressão constante, mas sabia que tinha que continuar. Não podia deixar que essa frustração transparecesse para ele ou para qualquer outra pessoa. Precisava manter a fachada perfeita.

Enquanto caminhava pelo corredor, afastando-me do estúdio, a memória de uma noite distante voltou à minha mente, trazendo um misto de vergonha e excitação. A imagem do homem misterioso com a máscara de prata pairava em minha mente; às vezes, podia jurar que aqueles olhos ainda estavam em mim. Quem era ele? E por que sua presença me afetou tanto? Ele me odiaria se soubesse de tudo?

Balanço a cabeça, tentando me concentrar no presente. Tinha que encontrar uma maneira de equilibrar tudo – a dança, a pose de herdeira perfeita, meus trabalhos de freelance. Queria tanto poder jogar tudo para o ar e ir embora com ele. Mas, nesse momento, isso era impossível. Entro no carro preto que me espera, a cara séria de Marcos pelo retrovisor não é novidade; ele é o encarregado por me vigiar há muito tempo. Infelizmente, ser rebelde teve um alto preço. Encosto a cabeça na janela e vou vendo as últimas flores das cerejeiras passarem com o movimento.

Ao chegar em casa, sou recebida por um ambiente tenso. A grande mansão Ha, que nunca foi um refúgio de tranquilidade, estava mergulhada em uma atmosfera tão pesada que dava para notar a diferença. O silêncio era interrompido apenas pelo som abafado dos soluços de Ha Jiyeon, que estava aos prantos no sofá da sala. Não que Ha Jiyeon chorando fosse algo tão incomum assim. Porém, a expressão de ódio no rosto da tão cruel e perfeita Ma Yejin, também conhecida como minha mãe, era o suficiente para assustar qualquer um, exceto pelo meu pai, o Senhor Ha, que mantinha-se sério e em silêncio.

Casamento por VingançaOnde histórias criam vida. Descubra agora