Capítulo 3

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Para Marco Aurélio, as pessoas tornam-se arrogantes, ingratas, insolentes e mentirosas porque não sabem a diferença entre o bem e o mal. São ignorantes sobre si mesmas. São desatentas sobre quem são e o que estão fazendo da própria vida.

Essas palavras vinham à mente de Jeon Jungkook como uma sombra persistente, assombrando-o com sua precisão desconfortável. Durante seus anos de escola, ele havia se debruçado sobre essas ideias com uma obsessão que beirava o mórbido. Não era apenas o fascínio intelectual por filósofos mortos há milênios; era algo mais visceral, como se sua existência dependesse de encontrar uma explicação para o vazio constante que sentia.

Na sala de aula, ele era um aluno exemplar, o tipo que prestava atenção em cada palavra, que se perdia nos debates como se fossem batalhas pessoais. Mesmo assim, havia algo no olhar de Jungkook que incomodava os colegas e professores, aquela quietude inquietante que nunca se dissolvia totalmente, mesmo nos momentos mais intensos. Enquanto outros debatiam com fervor, ele observava e absorvia tudo como se estivesse analisando peças em um tabuleiro.

Foi ali, nos tempos turbulentos de escola, que ele conheceu Lee Dong Wook. Um professor cujos cabelos grisalhos e olhos sombrios pareciam sempre carregar algo que ele sabia que os outros não entendiam. Lee não ensinava filosofia de forma convencional. Ele a espalhava como uma doença lenta, infiltrando-se nos pensamentos dos alunos até que eles não pudessem mais ignorá-la. Seus olhos penetrantes podiam ser tanto reconfortantes quanto aterrorizantes, dependendo do dia.

— A moralidade é como uma pele que usamos para nos proteger de nós mesmos. — Lee dissera certa vez, caminhando diligentemente entre os alunos e girando uma caneta entre os dedos, durante uma aula que havia mergulhado no estoicismo e na fragilidade humana. — Mas o que acontece quando essa pele é arrancada? Quando não há mais barreiras para conter o que está por dentro?

Essa frase nunca deixou Jungkook. Ela ressoava em momentos de quietude e voltava agora, ecoando na sala cheia de sombras e caos. Ele estava amarrado, com as cordas apertadas tão profundamente contra sua pele que podia sentir os pulsos latejarem como corações separados, enquanto os invasores se divertiam em sua sala de estar. Eles eram uma cacofonia de risos e desprezo, suas máscaras grotescas deformadas pela luz azulada das lâmpadas de emergência. Cada movimento deles parecia mais uma mutilação do espaço ao redor.

O homem com a máscara de Pânico deu outro chute em Namjoon, um golpe seco e calculado que arrancou o ar dos pulmões do outro homem e o jogou no chão novamente. Jungkook desviou os olhos, mas não rápido o suficiente para evitar o som do impacto. Ele queria manter a calma, mas ecos do passado o surgiam para ele como farpas invisíveis perfurando sua racionalidade.

"É a autovigilância que mantém o mal afastado de nós," Lee dissera uma vez, durante um debate sobre ética. Mas olhando para os invasores, três figuras carnavalescas que fumavam maconha no sofá enquanto o quarto explorava a casa com a intensidade de um abutre vasculhando uma carcaça, Jungkook não conseguia acreditar nisso. Eles não eram vigilantes de nada. Eram apenas fragmentos humanos soltos, pedaços de algo quebrado e irreparável.

A filosofia havia sido seu refúgio durante os anos de escola, mas também um abismo perigoso. Jungkook se lembrava das noites passadas em claro, tentando reconciliar o pessimismo esmagador com a vida que continuava ao seu redor. Era exaustivo, processar perguntas que nunca tinham respostas, ou pior, respostas que o deixavam com ainda mais perguntas. Ele se destacou academicamente, mas o mérito da inteligência era sempre acompanhado por um desânimo silencioso, como se todo sucesso fosse apenas mais um passo em direção ao nada.

Quando Lee Dong Wook o apresentou ao estoicismo, foi como uma salvação temporária. Aceitar as coisas como são, encontrar paz no presente, essas ideias o ajudaram a suportar o peso do vazio. Mas agora, enquanto o caos se desenrolava à sua frente, essas lições pareciam fracas, como rachaduras tentando conter um rio furioso. Ele havia feito tudo certo, planejado cada detalhe para sobreviver àquela noite. Portas reforçadas, sistemas de segurança avançados, isolamento absoluto. Tudo inútil.

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