GANGNAM DISTRICT, SEOUL
06 de Janeiro de 2024Era início da tarde, pouco depois das 13h, quando um jovem de aparência maltratada emergiu da calçada molhada como uma figura extraída de um pesadelo. Ele cambaleava até a recepção da Delegacia de Polícia de Gangnam, uma entidade desfigurada pela violência e pelo desespero. Seu corpo parecia não pertencer ao ambiente, uma pintura errática projetada em uma tela de caos mundano.
Os olhos das pessoas próximas gravitavam para ele, hipnotizadas por algo que não conseguiam explicar. A pele do rapaz, uma mistura doentia de pálido e cinza, estava coberta de sangue seco e lama, tornando seu rosto uma máscara que parecia mais esculpida do que viva. Havia uma rachadura na sobrancelha, onde algo parecia pulsar levemente, como se um nervo abaixo da superfície tivesse sua própria vida. Seus movimentos eram acompanhados de tremores irregulares como se estivesse em desacordo com o mundo.
Ele segurava o próprio estômago com um antebraço que parecia mais um galho seco coberto por pele. Seu avanço em direção ao balcão da recepção era lento, quase cerimonial. Quando ele finalmente chegou ao balcão, o policial na recepção hesitou.
O homem à sua frente parecia algo exumado de um lugar onde a vida havia sido abandonada.
— Posso ajudá-lo? — a voz do policial vacilou, mais uma reação instintiva do que uma verdadeira pergunta.
O jovem ergueu o rosto, seu pescoço pareceu ranger ao fazê-lo, mas o movimento revelou um ângulo desconfortavelmente humano. Os músculos pareciam mal ajustados para realizar a tarefa. Seus lábios rachados se abriram, deixando escapar palavras trituradas por uma garganta que parecia não ser usada há dias.
— Preciso... denunciar... um crime...
O policial tentou processar a declaração, mas algo nele vacilou. A fragilidade inesperada de um predador que encontrava algo mais antigo e terrível do que ele próprio.
— Senhor, sinto muito... Estamos com pouco pessoal por causa do Expurgo. — Ele olhou para o jovem, a resposta saindo quase por reflexo. — Por favor, sente-se ali e espere até podermos atendê-lo.
O rapaz não respondeu. Seu corpo apenas se moveu, obedecendo como se fosse puxado por fios invisíveis. Sentou-se em um dos bancos, o som seco de ossos estalando ecoando no processo. Seu estado deteriorado era impossível de ignorar. Cada respiração soava como o som de algo quebrando por dentro.
Sua mão ainda segurava o estômago, os dedos pálidos pressionando a área com uma força inesperada. De repente, ele começou a tremer. Não de frio, mas de algo mais profundo, um tipo de vibração que parecia surgir das próprias entranhas. Seus olhos, anteriormente desprovidos de foco, se arregalaram, e ele tapou a boca com a mão trêmula.
— Senhor! — O policial se adiantou, mas o jovem já estava inclinando-se para a frente.
Um vômito violento escapou dele, caindo em cascata na lixeira de plástico que outro homem havia empurrado para ele no último instante. O som era grotesco, úmido e cheio de ecos de algo mais pesado. O cheiro era insuportável, e algumas pessoas se afastaram, cobrindo o nariz.
A mão que havia oferecido a lixeira não recuou, calma em sua imobilidade. Os olhos do rapaz subiram, encontrando o rosto encoberto de uma figura peculiar. Máscara preta, chapéu baixo, e olhos que brilhavam com algo que não era compaixão, mas também não era indiferença.
— Tudo bem. — disse Jungkook, sua voz suave, quase um suspiro. Ele parecia estar falando tanto para si quanto para o jovem.
O rapaz, com uma força que parecia impossível, enfiou a mão no conteúdo da lixeira. Seu corpo convulsionava com o movimento, mas ele continuava a cavar, até que um som baixo e animal começou a sair de sua garganta. Ele gritou, um som que arrepiou até mesmo aqueles que estavam do outro lado da sala.
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ROOTS | namkook
FanfictionNa Coreia do Sul, durante a primeira implementação do Expurgo, Namjoon fica preso na cidade e precisa lutar por sua sobrevivência enquanto sua obsessão por seu vizinho coloca seus princípios morais em cheque.