Parte II - Véu Branco

7 2 0
                                    

O tempo havia mudado drasticamente. O céu se tornou cinzento em poucos minutos, o vento gélido atingia nossos rostos como pequenas lâminas e a neblina espessa parecia cobrir o rio como um véu. Havia algo de diferente no ar, que impregnava em nossas peles; um cheiro muito característico parecia rodear a balsa. Samuel permaneceu sentado em um banco velho de madeira, rabiscando algo qualquer em um caderno com capa de couro.

— Por que você está aqui? — questionei o detetive. A balsa balançou levemente, e Simões saiu da pequena sala privada para fumar um cigarro. Samuel permaneceu em silêncio. Certas vezes, gostava de comparar o detetive a um felino: um homem inteligente e observador, silencioso e calculista, assim como um gato. – É por causa dos assassinatos, não é? — Ele me encarou com um semblante sério.

— O que sabe sobre eles? — dei de ombros, virando-me para observar o horizonte. Não podia ver muito, graças à neblina. — Você não deveria estar aqui. — Samuel se levantou e caminhou até ficar ao meu lado.

— Não vim por causa disso. Estava indo visitar o meu pai, mas fiquei sabendo sobre a situação de Véu Branco... — desviei meu olhar para o detetive, que já me observava. — podemos ajudar aquelas pessoas, Samuel. Eles precisam ser ouvidos e vistos por outras pessoas. — o homem riu sem ânimo.

— Eles? Não. Você só pensa em si mesma — o detetive deu as costas e voltou a se sentar no banco velho. — Te conheço, menina. — aquilo fez meu sangue ferver. Samuel era realmente teimoso. Me aproximei de Simões, que estava na outra extremidade da balsa, observando a neblina atentamente. Ele não parecia interessado em conversar, mas eu precisava começar a coletar informações.

— O senhor vive em Véu Branco? — Simões me encarou e franziu as sobrancelhas grossas. Suas bochechas estavam coradas por causa do frio, ou por causa da bebida. Ele sussurrou um pequeno "sim". Simões me contou, depois de muito implorar, um pouco sobre sua vida, como serviu a marinha e como chegou até Véu Branco. Não foi sua primeira opção e nem a melhor escolha. O velho parecia não gostar muito da gente que vivia na vila. Ele raramente pisava em Véu Branco, preferindo dormir em sua velha balsa. — O que sabe sobre os assassinatos? — consegui ouvir Samuel resmungar algo atrás de nós, mas não dei importância, continuando a conversa com o dono da balsa.

Simões permaneceu um tempo em silêncio, pensativo e distante. Da mesma forma que o moço da rodoviária ficou.

— Há coisas nesta vida das quais não precisamos ter conhecimento. A melhor forma de manter nossa sanidade é permanecermos ignorantes. O rapaz tem razão; você não deveria estar aqui. — Simões manteve seus olhos sobre mim, com um olhar que me causou arrepios. Olhos escuros como a noite, gélidos e penetrantes. — Estamos chegando. — ele, de repente, se virou e voltou para a sala de controle. O ambiente se tornou tão silencioso que os passos de Simões pareciam mais pesados do que deveriam. Era como se o local soubesse que estranhos estavam se aproximando e precisasse ficar em silêncio para manter sua atenção em nós.

 Era como se o local soubesse que estranhos estavam se aproximando e precisasse ficar em silêncio para manter sua atenção em nós

Ops! Esta imagem não segue nossas diretrizes de conteúdo. Para continuar a publicação, tente removê-la ou carregar outra.
O Monstro sob a CatedralOnde histórias criam vida. Descubra agora