Decisão

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Dois dias haviam se passado desde o primeiro encontro com a família de seu futuro marido, título este que o ômega ainda rechaçava e achava ridículo de se dizer, e que seu irmão insistia em usar como arma para lhe irritar.

Seonghwa podia dizer que o pior daquilo tudo, era ver os olhares de reprovação de seus pais, e não se lembrava de tê-los visto nem quando fora condenado, ou quando ambos iam até a penitenciária pública de Therion para lhe visitar, aquele era o tipo de olhar que estava ligado a uma expectativa que não estava sendo alcançada, seus pais estavam lhe colocando no olho do furacão, e o jovem não queria aceitar tal posição.

Naquela tarde atípica para uma primavera em sua região, chovia, entre raios e trovões, o vento lá fora era cortante, fazendo com que o ômega evitasse o uso de aparelhos eletrônicos, como o vídeo game ou seu computador. Ignorou também o celular, ainda não entendia muito bem o funcionamento das novas redes sociais, iria aos poucos pegar o jeito com elas.

Preferiu descer para a sala, e foi quando parou ao topo da escada, então viu seu pai alfa entrando rápido em casa, completamente encharcado, e seu outro pai, o ômega, vir rapidamente lhe amparar.

- Céus, Minnie! Você não deveria ter pegado essa chuva! – Advertiu o menor, enquanto se sentava com o marido sobre o sofá, movendo os dedos sobre os fios castanhos e úmidos.

- Não se preocupe, meu Joongie, sabe que eu não adoeço fácil. – Sorriu convencido, ganhando um tapinha no ombro e em seguida um doce selar sobre os lábios.

Era fato que alfas adoeciam menos, tinham um sistema imunológico mais forte e também podiam ser mais resistentes a dor física, mas aquilo não era nem de longe, uma justificativa para que Hongjoong se preocupasse menos com seu parceiro.

- Seonghwa já deu uma resposta definitiva? – Questionou o alfa, tendo seus cabelos ainda acarinhados pelo menor.

Hongjoong se limitou a abraçar o marido, deitando sua cabeça contra o ombro alheio, evitando falar sobre o assunto.

- Tentarei falar com ele, se ele não ouvir, então desistimos. – Hongjoong disse, tendo a concordância de seu marido, que lhe beijou o topo da cabeça em resposta.

O ômega mais novo observava tudo, ouvindo também a conversa alheia, e preferiu abster-se naquele instante, dando passos para trás, voltando na direção do próprio quarto, mas não sem antes esbarrar com seu irmão no corredor.

- Hey noivinha, olha por onde anda! – Jongho zombou, ganhando do irmão um dedo do meio em resposta.

- Vai se ferrar seu moleque insolente, da próxima eu te jogo da escada! – Berrou e logo ameaçou bater com seu pé, o que fez o mais novo rir e correr para longe de seu hyung.

Hongjoong ouviu os berros do filho e logo viu seu caçula entrar sala a dentro, ainda rindo.

- O que está acontecendo? – Questionou, vendo seu filho perder o riso na hora.

- Nada papai, é só o Seonghwa reclamando porque vai casar. – Respondeu e deu de ombros enquanto seguia para a cozinha.

- Acho que essa é uma boa hora para a tal conversa, meu amor. – Mingi afirmou, tendo como resposta, um assentir do menor.

O ômega deu mais um beijo sutil no marido, antes de mandá-lo ir tomar banho e se trocar, enquanto ele seguia para o quarto de seu filho mais velho, precisava de fato conversar com Seonghwa e entender tanta resistência.

O caminho até o quarto era conhecido e rápido, e assim Hongjoong o fez. Ainda que a porta estivesse aberta e o filho deitado em posição semifetal, bateu suavemente contra a madeira, ganhando a atenção dele, que olhou por cima do ombro e logo foi se movendo para sentar-se sobre o colchão.

- Posso conversar um pouquinho com você? – Perguntou com sua voz doce e mansa, aquela que sempre fazia o filho sentir-se aconchegado.

- Claro papai, você sempre pode conversar comigo. – O ômega mais novo moveu a cabeça, apontando a cama para que seu pai se sentasse.

Assim Hongjoong o fez, se acomodando aos pés do filho, na beirada da cama.

- Eu conheci o seu pai quando eu tinha a sua idade, acho que era pouca coisa mais jovem que você. – Hongjoong iniciou, voltando seu doce olhar para o filho, dando-lhe um sorriso de lado. – E ele era igualzinho a você. – Não conseguiu evitar um riso.

Seonghwa se encolheu, abraçando os joelhos, apoiando seu queixo contra um deles, também não evitando um breve riso.

- Você é igual ao seu pai, Hwa, explosivo, temperamental, imediatista. Você gosta das coisas do seu jeito. – O ômega mais velho concluiu, assentindo mais para si mesmo, do que para o filho.

- Por que está me dizendo essas coisas, papai? É por causa daquele alfa? – Perguntou, sentindo um certo incômodo ao dizer aquilo.

- Não meu amor, não é só por causa do Yunho, e nem por causa da alcateia, ainda que estejamos sob ameaça de ataque. Eu estou te dizendo essas coisas, porque quero te entender, quero saber o que está se passando no seu coração e na sua cabeça, quero entender a sua recusa tão veemente. – Hongjoong lhe disse, plantando na cabeça do filho, uma sensação de estar sendo um tanto infantil quanto àquela questão.

- É que... – Mordeu o inferior, pensava no que diria, na verdade pensava no porquê não queria, e no porquê estar sendo tão incisivo em sua escolha. – Eu só não acho que preciso de um alfa, papai, eu não quero me casar com alguém que eu não gosto, só por conveniência, não desejo sentir que estou preso, como fiquei por dois anos naquela prisão. – Desabafou, suspirando e escondendo o rosto entre os joelhos.

- Eu entendo que pense assim, meu amor. Casamentos arranjados podem parecer dessa maneira, sei que soa como se estivéssemos atirando você num tanque de tubarões. Mas não é exatamente como você pensa. Yunho não é um alfa como os outros, e eu sei que você também percebeu isso. Não acredito que ele vá desrespeitar você, nem mesmo prendê-lo. Parece um pedido egoísta da nossa parte, mas pense um pouco em quantas vidas podem ser perdidas em um conflito entre alcateias, quantos perderão mais que a liberdade, seria a vida. – Hongjoong lhe disse com certo pesar em suas palavras.

- Parece que estou sendo usado como uma moeda de troca, papai. – Seonghwa ergueu a cabeça para fitá-lo.

- Sei que parece, meu amor, mas não faríamos isso com você, caso achássemos que você não pode suportar isso, você sempre foi forte, ainda que um ômega, sua personalidade sempre foi inflexível, desde criança. – Hongjoong não conseguiu evitar um riso ao lembrar-se de quantas vezes havia sido chamado na escola primária de Therion, por ter seu filho envolto em brigas com alguns alfas.

- Colocam tanta esperança assim em mim? Eu fiz vocês sofrerem muito há um tempo atrás, ainda que não me olhassem com aqueles olhos reprovadores, sei que lá dentro, você e o pai estavam se sentindo envergonhados e quebrados com as coisas ruins que fiz e que me levaram para a cadeia. Eu gostaria de mudar essa parte do meu passado e nunca ter feito vocês sofrerem, papai. – Suas lágrimas estavam acumuladas em seus olhos e não conseguiu evitar fazê-las caírem, tendo suas bochechas encharcadas rapidamente.

O ômega mais velho se aproximou, envolvendo o corpo do filho, abraçando-o firmemente, aquele abraço quente e tão doce que Seonghwa amava. Passou alguns minutos abraçado em seu pai ômega, e logo que se separaram, Hongjoong lhe limpou as lágrimas, dando um sorriso em seguida.

- Não precisa mudar seu passado, meu amor, apenas escreva um futuro diferente, não tem que mudar quem você é, para se encaixar em nada, apenas tente usar o seu jeito para fazer coisas boas.

- Eu vou tentar, papai. Eu vou fazer isso... – Seonghwa assentiu, fitando os olhos de seu pai. – Eu vou me casar com o futuro alfa líder de Krypteria, papai.

Casamento Desarranjado || yunhwa ver.Onde histórias criam vida. Descubra agora