VIII- Esta é a minha Casa

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Olhe para mim.

Não, para ela não, para mim.

Risadas noturnas e ecoaram sob os pequenos ouvidos frientos daquela viela tardia. Era um lugar claustrofóbico.

Mas Grace estava acostumada com o peso de pequenos espaços, pois sua alma, já era um.

A sugava cada vez mais, para um lugar que se sentia protegida, cada vez menor e mais apertado e doloroso.

Sentia que debaixo da cama era o lugar mais seguro do mundo, até que descobririam o pequeno espaço da sua alma, que se misturava com aquele âmbito onde não tinha espaço.

Para não perder sua alma, ela teve que mudar de proteção, não queria perder essência. Essência é alma. Até que o mundo fosse outro e então, e então seu espaço que cresce com o conhecimento pudesse ser maior.

Aquele lugar era sombrio. Debaixo de uma telha cinzenta e grossa, a livrava meramente do temor da noite, onde, por ser pequena e a sua pouco movimenta a espargia de problemas noturnos.

Fome.

Tudo que Grace queria era uma família que a protegesse.

Este era o melhor refúgio para almas de pequenos cidadãos.

A lua, admirava as sombras em relação as casas fechadas. Estava escuro, se não fosse pelo beijo do satélite natural, que exercia um difícil contraste entre a negridão. Sobre as janelas, descia um reflexo, em que ao longe a jovem podia enxergar.

Era complexo, ao certo, ela não sabia se aquela rua era rua de casas ou de lojas, ou apenas uma rua abandonada e de solidão.

Porém, com sua pouca idade, não tinha o entendimento que as ruas menos habitadas eram as piores.

E se abrisse uma porta?

Era sonhar de mais?

Uma família dizendo:

Venha, Grace, venha se escapar da noite fria, venha ter uma paz incondicional e amor familiar. Venha se livrar pequena garota, de todos os seus traumas. Abrece-nos. Seja feliz, coma na mesa, durma na cama sem preocupar com o acontecerá quando fechar os olhos. Leia seus livros, seja você. Abra o mundo novo, escolha a liberdade e a essência primordial. Não se preocupe em cruzar as pernas, não se preocupe em parecer sedutora demais, quando não é!

Aquilo era impossível, sonhar de mais. Sonhar quase acordada! Pois estava com os olhos cemirrados, relutantes e divididos entre a necessidade do sono e o medo.

Não havia portas, em lugar nenhum. 

Ela na realidade, nunca viu aquele lugar na cidade. Nem sabia se era seguro, só queria fugir. Fugir de outro lugar, que também não sabia se era seguro ou não. Ela apenas queria escapar, e este foi o sentimento que a perseguiu.

Insegurança, solidão.

Medo de abraços, medo de homens.

Onde estou?

Não importava mais, não importava

Grace estava ali, no melhor e mais lugar desejado do mundo, um lugar que tinha extremo em comum com o debaixo da cama. O abandono. E nunca se sentiu feliz como antes.

A felicidade as vezes, é dolorosa, principalmente quando você mede os pesos.

O vento não achava lugar para fugir até que achou os pulmões da menina, enchendo-os e sufocando, até que o abandono fosse um grito.

Um grito alto, estrondoso, que mesmo o vento, que fugia de seus pulmões, não encontrando aconchego dentro de si mesma, fizesse com que  o mundo inteiro, ao menos seu pequeno mundo, entendesse sua dor.

A dor, era alta. O pulmão, era um coração, naquele momento, todo seu organismo era um só. Estava cansada, com frio, fome e não sabia qual seria seu rumo a partir dali.

Talvez uma pequena casa? Ela já tinha lido em livros como as pessoas faziam o impossível para escapar da miséria, mesmo que a miséria os tomasse por completo. Mesmo que fossem miseráveis, ainda eram seres humanos, com necessidades básicas de sobrevivência e com uma alma tão dolorida que nem os mediuns saberiam explicar. Agora, sua realidade, se aproximava mais do que um dia leu.

Não, não era do tipo (ela gostava de diversas literaturas) suave, revigorante e realizadora. Era aquela leitura crua, nua e fria.

Como aprendeu a viver?

Lendo seus livros.

E por fim,

Como aprenderia

A reviver?

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