III- A Vez que Não Amanheceu.

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A Garota de Olhos sem cor.
 

                                                      12/10/2016

— Maltrapilha!

Eco. É um som. As vezes. Ele é vazio, as vezes. As vezes. Ele. Eco.

O medo, era soturno. A sensação era eco. Um eco de angústias persistentes.

Inseriu-se sob um lugar, sozinha, vazia. Tão suja. Tão pequena, e tão grande para caber em qualquer ambiente que fosse.

Impertencente. Impertinente. Era tudo isso, sem saber de onde vinha. Sem saber, o que fizera.

As vezes, as pessoas não são deduzidas pelas suas atitudes, mas no final, elas sempre contam mais do que qualquer coisa.

Eco.

Se o errado, sem erro dói, o errado errando machuca. Piora. Estraçalha.

Ratinha?— Sussurros. — Onde está a pequena ratinha? Por que se esconde de mim? Te machuquei?

Debaixo da cama, dobrei meus pés e senti frio. Esse frio, era continuo. As vezes, eu me escondia em algumas coisas. Desenhos, livros, cobertas, e camas. As vezes, eu escondia-me em mim mesma, ao ponto de que eu, não sabia em que lugar da minha alma me repousava. Não queria ser, ferida. Quando era, sentia mais a minha pior essência, a solidão, desde que abri os olhos. Por isso que permaneço com eles fechados, a cegueira de espírito doi menos, do que o frio. O frio.

Insistência.

O segredo de insistir, era não sentir. Permanecia com os olhos fechados.
Quando se intriseca bem a fronte, com força e varredura, com mucosa, e fibrosa, com persistência e dureza, as lágrimas são incapazes de cair.

A tortura das gotas. Uma vez, eu li em um livro de história. Costumava roubar em madrugadas, quando estava com frio, mais coberta, e vigilante. Nas madrugadas em que as lágrimas, fonte de suprimente angústia, pesavam.

Quando o Rio, ficava cheio, ele tinha de transbordar.

Transbordar para quem?

Eu costumava transbordar para os livros,

Os livros costumavam, não pesar. Eu sentia, que com eles, eu podia ter uma essência da qual eu nunca conhecera anteriormente.

Os pais, são a porta do mundo para os seus filhos.

É complicado conhecer o mundo como ele é, quando as portas se fecham.

Os livros, pelo contrário, sempre estavam abertos debaixo da mesa.

Não se preocupe, não sou tão maldosa assim, sei que há muitas meninas como eu, e meninos também, em alguns lugares pelos cantos, escondidos, e mal amados, nas vielas, e nos lugares mais podres que corrompe a dignidade da sociedade l obres e sujos esperando uma porta aberta, onde podem, ser um pouco de si, e por que não os livros?

Os livros são um portal para o conhecimento as crianças maltrapilhas.

Eu juntava as palavras, desde criança, com dificuldade, e ilusão. Eu aprendi amar esse refúgio, ele era seguro, era fonte de conhecimento e inspiração.

O mundo corrompe as pessoas?

As pessoas já nascem corrompidas, mas sempre jaz alguma coisa. Que intercepta da escuridão, afugenta as trevas. Sempre há um espelho, de maldade e bem.

Eu costumava pensar, que em primeiro plano, as crianças se vêem em seus pais, e quando a alma, como esta, não encontra alívio, nem bondade, ela procura em alguma coisa sem refúgio para a paz.

Os livros me acharam.

Eu estava com fome.

— Não pode fugir, seu papai vai te encontrar, pequenina.

O chão tremia com as pisaduras do velho gordo. Eu tremia, a cada passo mais próximo e rente ao chão. O tenente Roberts, parecia alcoolizado. Como uma rata, uma ratinha que era, me encolhia em cima do meu maior tesouro: o livro roubado.

Eu não queria fazer barulho, o chão era coberto de uma pilha extensa de poeira. O quarto da mamãe, era um cômodo esquecido. Era o meu lugar favorito, os ratos costumam se agradar de lugares não tão perigosos para eles.

Me debrucei mais ainda, com as mãos tremendo, meus olhos tentavam focar nas coisas boas – a capa de uma única libélula americana em um emaranhado velho, mas riquíssimo em conhecimento, esverdeado e singelo do Manual de Instrução De um Criador de Insetos– em outras palavras, Insetario.

Quando eu ainda era um broto, tão pequena que não conhecia as cores, nem as coisas, muito menos os livros, minha mãe ainda era viva.

— Papai não vai te bater, pequena.

Ela costumava falar, todas as vezes, que as coisas mais insignificantes tem tanta importância como qualquer outra coisa. Uma vez, quando segurava uma tarântula em suas mãos, esta é a minha memória mais recente, distiguia seu gênero e vertente. A importância de uma cadeia, e o desequilíbrio de uma.

Creio que herdei seu amor por animais, ainda que por início, eu os temesse.

Os humanos temem, e confrontam, porque sabem que destroem. O desconhecido sempre é a chave para desencadear suas frustrações. O incorrupto humano busca suprencia em algo que não entende, e quando acha perfeição maior que a sua...

Por isso que espelhos são importantes.

A natureza te ama, se você a ama, ou aprende a amar.

No final, todos os que desrespeitaram a Terra, foram enterrrados nela. O fim de um sopro, servirão de adubo. Como uma cadeia que não se encerra. Há de ser sempre assim.

Sopro.

— Você não está cansada de fugir de mim?

Fechei os olhos, e fingi dormi. Eu gostava de pensar que nunca tinha últimas memórias da minha mãe, porque sempre me restava ela.

Eu a culpei por ter me deixado tão cedo, e tão só, anos de pouca experiência e de muito sofrimento. A vida é cruel e inesperada. Um véu escuro, que tem de se respeitar, se não ele te apaga e te joga para o adubo, e te faz amar a Terra.

Sopro.

Você sabe quem eu sou, Grace.

A sensação de sujeira, não somente tinha voltado, ela era coesiva, persistente, permanente. Ela nunca tinha sido desencravada. Ela era um espelho distorcido e podre de mim.

Quem ensina as crianças a lerem quando estão sozinhas?

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