II- Nunca se Sabe Quando as Flores Morrem

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Para ser navegável, é necessário experiência. Águas rasas e claras, são mais perigosas do que parecem.

Sujo.

A indolência daquele rio causava escárnio na pequena Grace. Suas mãos pequenas sentiam as coisas mais do que ninguém nunca ousou experimentar. O ferro quente machucava sua palma direita e esquerda. Ela se segurava firme, enquanto o cheiro podre da maresia sobia sobre suas entranhas e a fazia querer vomitar o que tinha jantado. Aquela, por sorte, ou azar, fora a sua única refeição a uma quantidade exata de 3 dias. Sua barriga roncava, se sentia perdida e tonta. Sua barriga, caso decidisse se revoltar contra sua dona teimosa ficaria vazia novamente.

— Com licença!

Uma mulher bêbada, aparentemente de meia idade, se reclinava entorpecida. Confusa. Parecia não pertencer aquelas bandas. Inesquecível.

As mãos da pequena por um momento se esqueceu por qual motivo segurava as barras, e foi ajudar a desconhecida. Se tivesse sorte, teria respostas. Ainda assim, o desespero clamou em sua mente.

Ela poderia ser mãe.

— Moça, a senhora está bem?

Por um momento se sentiu temorosa por sua coragem, e incomodada. Incapaz de fazer uma retórica melhor, sentiu frio pelo seu corpo. Aquela noite estava escassa de nuvens, ainda assim, era sombria e mortífera.

A mulher a ignorou por um instante. Virou o rosto, enlouquecida. Agiu como uma desconhecida agia. Sorriu, e se afastou.

Talvez ela não se sentisse confortável em falar. Grace estava enlouquecida, não sabia em quem devia e não devia confiar, apenas queria achar o corpo de sua mãe.

A mulher, voltou a vê-la sobre a escuridão, do outro lado da ponte, meio distante, como um eco, sorriu, e se escondeu.

Numa voz soturna, como um sussurro sombrio exclamou.

Ela ficou amarelada e assustada, se pudesse fugiria dali.

— Pequena Grace— Aumentou o volume consecutivamente sóbria, fazendo a pequena pensar por que estava ali, sua voz era escura e assustadora para qualquer um.— Não sabe que lugar é esse na qual pisa?

Sua barriga embrulhou. Tentou pensar em algo, tentou pensar como havia chegado ali.

Lhe veio uma breve resposta, as palavras daquela mulher pareciam fazê-la esquecer das pequenas coisas. Estava tão confusa, que não conseguia entender o que estava fazendo. Nem se atentou, para como aquela mulher, vista pela primeira vez, naquele ambiente da qual não sabia como havia ido onde havia, lhe perguntava. Ela não deu uma resposta de primeira. Nada saia convincente, nem para ela, nem para a mulher. Queria ser verdadeira.

Mas para ela do que para a outra.

E caso a senhora lhe fizesse algo, estava perdida.

Estava sozinha.

— Quanto tempo vai demorar aí, até cair?

Todo erro tinha consequência, e ela sabia que o seu teria.

— Perdão, senhora? Te conheço?

A perguntava soara rude.

Não era o desejado,

Mas era pelo medo.

O medo do desconhecido.

— Procuras a sua mãe?

O semblante da jovem decaira no rio, não poderia ser ela. Não havia de ser ela, lembrava muito bem da sua mãe. Seus passos recuaram, e por um momento pensou em desistir. O estopim se deu ao alvo quando de subúrbio a mirou. Seus olhos fulmegavam alguma coisa secreta,
fome, astúcia; sobriedade.

A noite sussurrou em seus ouvidos, e um frio na nuca lhe percorreu até a ponta de seus pés, que gélidos, não conseguiam recuar. Sopro, frio.

Ofegou de medo, a fisionomia da mulher refugiava de um lado para o outro, como uma miragem, que não sabe se é real ou não, como um sonho que tenta ter repouso no mundo dos viventes.

A ponte era escura, tão petulante quanto as águas.

Suada, os seus cabelos escuros grudavam em seu rosto. Mal havia mechas, dado que era curtíssimo. Um mal estar tomou conta de seu ser, e do seu instinto. Encarou a mulher arrepiada. Parecia uma entendiante.

Com a voz embargada, segurou seus braços, as unhas cravaram na carne macia e frágil da jovem menina. Ela sabia que era medo, temor.

A velha era experiente para reconhecer sentimentos. Sorriu tentando aliviar o sentimento de amargura e tenso do momento.

— Senhora, creio que não esteja sóbria!

— Está tão pálida menina, tão suja como a noite escarlate. Não sabe quem eu sou?

Tremeu as mãos, já não pode segurar na beira da ponte. Sentiu seus pés desvalecerem.

Um, dois.

Três,

O último passo foi o suficiente. As cordas que seguravam o peso farto da mulher,
eram frágeis para suportar o medo.

Quatro.

Os olhos arregalados da menina lacrimejavam de assombro, afastada e encolhida, pronta para correr, e fugir, de um lugar que Deus só sabe aonde estava.

Não sei nadar.

Vozes ilegíveis, com fragilidade sob o manto azul do vestido de Grace, era curto, era sereno.

— Quem sou eu Grace?

Um vento impetuoso se escondeu sob o teto vinho, vindo diretamente da janela, inquiridor das vozes sombrias. Ela sempre estivera lá, com os olhos tão cerrados quanto a da mulher bêbada. Uma certa indolência invadiu o ambiente. Quem sou eu, Grace? Nada mais se via.

O único céu de Grace, eram as estrelas de mentira que enfeitavam o teto mórbido e odioso de sua casa.

Quem sou eu, Grace?

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