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Natália
Eu realmente odiava as quartas e sábados e nesses meus 19 anos de idade, eu conseguia com muito êxito odiar muitos aspectos da minha vida. Era um talento, de fato, ser tão insatisfeita com tantas coisas e não ter a coragem de mudar portanto, eu odiava esses cabelos ridiculamente longos com as pontas ressecadas, eu odiava essas saias longas que quase encostam nos meus pés, eu odiava ter que carregar aquele livro, odiava não poder usar jóias, odiava aquele lugar e aquela cruz no meio, odiava aquele coral desafinado, só tinha uma coisa que eu não consegui odiar, Deus, ele o meu Deus eu não conseguia odiar, ele é diferente do Deus que o pastor tenta me convencer que é o correto, o meu Deus não condena, não me poda e tenho certeza que um dia ele vai me libertar.
Sentada no banco de trás do carro dos meus pais, olhando pela janela, me vejo presa em mais um sábado onde a vida está acontecendo, pessoas saindo, se divertindo, amando e eu indo em direção a um lugar que eu detestava.
Antes que eu perceba, já estamos estacionando o carro na frente da igreja. Respiro fundo, peço forças para aguentar um culto de duas horas e desço do carro. Ao entrar no local, sou puxada delicadamente pela minha mãe para cumprimentar o nosso pastor. Dou um sorriso educado e falo baixinho "Paz do senhor irmão".
Meus pais engatam uma conversa com o mesmo e eu deixo meus olhos passarem observando tudo ao redor. São sempre as mesmas pessoas, com exceção de uma família sentados na frente, bem ao lado do banco em que somos acostumados a sentar. Volto atenção para meus pais que estão encerrando a conversa com o pastor.
Fomos em direção ao banco e posso ver com clareza o rosto da família diferente que hoje está presente no culto, é uma mulher loira, alta, com cabelos curtos, um homem meio gordinho, com os cabelos pretos e do lado do aparentemente casal tem uma garota com longos cabelos pretos e com uma franja no rosto, além de estar com um óculos gigante no rosto, ela diferente da mulher loira que estava de calça, a garota usava uma saia jeans longa, horrível com uma blusa de mangas longas na cor branca. Outra coisa que eu odiava era esse estilo, cafona, brega e horrível que era imposto na gente. O pastor começa a falar e eu tento prestar atenção nele, mas depois de muito treino, eu aprendi a desligar meu cérebro e a não escutar nada.
Olho novamente para a outra família e vejo que a única que está prestando atenção é a garota morena, ela tinha um sorriso no rosto e às vezes fazia um leve aceno com a cabeça concordando com o que o pastor estava falando.
Depois de um momento, o coral se prepara para começar a cantar e eu fico nem um pouco surpresa pela escolha da música, era bonita admito, mas todas as quartas e sábado tocava, era a trilha sonora desta igreja.
Levantamos e a música começou a vibrar dentro do local.
"O pecado não consegue esconder
A marca de Jesus que existe em você
O que você fez ou deixou de fazer
Não mudou o início, Deus escolheu você"
Olho para lado e a garota de cabelos pretos, está com os olhos fechados, mãos e braços estendidos e cantando a música junto com o coral, ela tinha uma expressão de contentamento, sentindo uma paz, por um momento ainda olhando ela cantar com tanto sentimento, eu também senti essa mesma paz.
"Você é um espelho
Que reflete a imagem do Senhor
Não chore se o mundo ainda não notou
Já é o bastante Deus reconhecer o seu valor"
Então vejo o exato momento que os olhos dela se abrem, são verdes, intensos, não a conhecia mas aposto que qualquer um poderia descobrir o que ela está sentindo se olhar atentamente para aqueles olhos, eles encontram os meus, dou um breve sorriso que é retribuído na mesma hora. E como eu imaginei os olhos dela expressavam o quanto ela se sentia bem ali, diferente de mim, não pude evitar me repreender mentalmente por ser assim.
Volto minha atenção ao coral e faço uma oração para que o tempo passe mais rápido para acabar esse culto de uma vez. E pela primeira vez na vida, ela é atendida.
Meus pais estão se despedindo de alguns conhecidos e estou escorada na parede perto da porta, aguardando eles, quando vejo a garota dos olhos verdes se aproximando.
"Oi" ela para na minha frente e dá um sorriso. "Me chamo Carol" estende a mão para mim. Não consigo evitar de olhar aquela menina de cima a baixo. Roupa breguíssima, não que a minha estivesse muito melhor.
"Oi, sou a Natália, muito prazer" aperto de leve sua mão.
"Então...sou nova aqui no bairro, lindo o culto" ela diz e eu só concordo com a cabeça. "Vocês tem algum grupo de jovens?" ela volta a puxar assunto.
"Tem sim, o semeando, é toda segunda, se não me engano perto das 19h." respondo, meus pais muito tentaram me convencer a participar do grupo de jovens, eles organizam alguns eventos na igreja, fazem boas ações, é legal, só não é a minha vibe.
"Ah...entendi...você não participa?" ela volta a me olhar, com algo como expectativa no olhar.
"Não" respondo e vejo ela mexer as mãos de forma nervosa. "É só chegar e participar ou tem que falar com alguém?"
"É só chegar e participar" ela concorda com a cabeça e solta uma respiração profunda.
"É que eu sou nova aqui bem...sou um pouco tímida...para essas coisas...e eu achei que teria mais jovens aqui...mas só vi você e mais duas meninas que me olharam meio estranho" ela falou rápido, atropelando algumas palavras, me repreendi por achar isso cativante.
"Sei entendo, eu não participo, mas posso vir na segunda e te apresentar a menina responsável" eu não sabia porque me ofereci para fazer isso, mas agora já foi, não tinha como voltar atrás.
"Sério? Você faria isso?" concordo com a cabeça e eu já podia acrescer na minha lista da semana que vem: eu odeio as segundas, quartas e sábados.
Continuo ou apago e me finjo de louca?
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Oração
FanfictionNatália e Carol são duas jovens que, à primeira vista, parecem não ter nada em comum. Natália sonha com uma vida diferente, buscando liberdade e novas experiências. Já Carol, cansada de uma adolescência perturbada e agitada, encontra a paz de que pr...