Capítulo 5

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Capítulo curtinho, com o ponto de vista da Carol <3

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Carol

Em poucos meses faria um ano que a minha vida mudou completamente.

Dá água para o vinho.

Dá solidão e sofrimento para o acolhimento.

Era assim que eu me sentia desde o momento em que fui pela primeira vez na Igreja Pentecostal Poder de Deus. E desde então eu nunca quis parar de sentir esse amor, essa luz que vinha do Espírito Santo. Eu adorava aquela igreja, aquelas pessoas, o grupo que eu participava, as pregações. Era incrível.

Mas como um balde de água fria, Ester e Pedro, um dos meus padrastos, voltaram de viagem e me avisaram sobre a mudança de bairro.

"Filha eu sei que você gosta daqui, mas é para sua segurança, ir para um bairro melhor, perto do seu cursinho do vestibular"

Com essa justificativa, nos mudamos para o bairro Grajaú e a primeira coisa que fiz ao me mudar foi procurar uma igreja semelhante à que eu frequentava. E encontrei a Igreja Pentecostal Nova Aliança.

A primeira vez que fui ao culto, Ester e Pedro me acompanharam. Foi um culto lindo e carregado de sentimentos. Eu não me sentia da mesma forma que me senti quando ia a outra igreja, mas eu sentia uma paz dentro daquela igreja. As palavras do antigo pastor nunca saíram da minha cabeça "Deus tem um propósito muito lindo para você Carol e você está caminhando em direção a ele" e eu acreditava nisso firmemente e quando meus olhos encontraram os castanhos escuros de Natália, por algum motivo que eu ainda não compreendia, senti que estava no lugar certo, que o meu propósito talvez seja ali.

Assim que chegamos em casa, fui para meu quarto arrumar as coisas que estavam dentro das caixas ainda.

"Filha" Ester disse entrando dentro do quarto e fechando a porta.

"Oi" respondi me virando para olhá-la.

"Senta aqui comigo" pediu e eu me sentei ao seu lado, ela buscou uma das minhas mãos.

"Você tem certeza que é isso que você quer para sua vida filha? Uma vida de restrições?" ela pergunta com uma voz suave, mas sinto meu corpo vibrar com uma raiva contida. Antes que eu a respondesse, ela voltou a dizer: "Eu sei que você passou por um momento difícil e eu não estava aqui" soltou um suspiro. "Mas você só tem 19 anos Carol, um mundo para explorar...vem com a gente filha, tem tantas lugares que a gente pode conhecer juntas, só eu e você"

Sinto lágrimas em meus olhos, uma angústia no peito. Não consigo resistir e me jogo em seus braços a abraçando.

"Mãe...eu não consigo..." lágrimas grossas escorrem pelos meus olhos. "Eu tenho medo...de os pensamentos ruins voltarem" me viro para olhar em seus olhos. "Medo de não resistir novamente e dessa vez...eu conseguir mãe...eu não posso"

"Calma filha" suas mãos alisavam minhas costas suavemente. "A culpa é minha Carol...me perdoa filha"

Eu ainda não a tinha dito, mas eu já tinha lhe perdoado a tempos.

Naquele dia tínhamos adormecidos juntas, como fazíamos quando eu era criança e eu não tinha noção do quanto precisava daquele momento com ela, aquele aconchego. Por um instante ela foi meu templo, minha paz. Talvez se ela não tivesse ido embora pela primeira vez, eu não precisaria de um outro lugar de paz. Mas ela foi e iria outras vezes e eu precisava suprir sua falta com algo que não me destruísse completamente.

>>>

Encontrar Natália trouxe um pouco de conforto para mim, eu era péssima me enturmando, mas senti uma conexão com ela imediatamente.

Na quarta-feira, pela primeira vez em quase um ano, eu me senti desconfortável na igreja, na hora da pregação do pastor Wesley, me senti deslocada, constrangida, sentia os olhos de todos em cima de mim. Como se soubessem todos os meus pecados, todos os meus pensamentos, sentia meu coração bater forte dentro do peito e minhas mãos suarem.

" Os jovens de hoje em dia perdidos no pecado, nas drogas, festas, no homossexualismo..."

Vi o exato momento em que Natália empalideceu e correu para o banheiro passando mal. Esperei alguns minutos e fui atrás dela, eu tentava me convencer que era para ver se ela estava bem e não fugindo daquelas palavras, que eu nunca tinha escutado antes. Na outra igreja o pastor nunca tinha sido tão explícito em suas falas, nunca expôs tanto preconceito.

Olhando meu reflexo pelo espelho do banheiro, respiro fundo e pela primeira vez em quase um ano, eu questionei minhas próprias escolhas!

O propósito Carol, um grande propósito.

E quando Natália perguntou minha opinião sobre as falas do pastor, eu travei, eu sabia qual era a resposta. Mas não consegui expor isso, mas me arrependi assim que as palavras confusas saíram da minha boca e eu vi um vestígio de decepção surgir em seus olhos. Passei o resto dos dias me atormentando com a resposta que dei e como destino, assim que sai para espairecer a mente um pouco, eu a encontro.

Eu sentia que Natália carregava dentro de si muita dor, muita angústia. Mas ela me passava muita confiança e como eu nunca tinha feito antes, eu consegui me abrir um pouquinho para ela.

Estava sentada escorada na cabeceira da minha cama finalizando o livro que ela me emprestou. E que livro, eu tinha amado o romance das duas mulheres. Se me restava alguma dúvida, depois da conversa estranha que tivemos em relação aos seus interesses amorosos, acredito que esteja esclarecido. Mas porque ela frequentava a igreja, ela assim como eu, não queria mais se sentir assim? Ou seus pais a obrigavam a frequentar? Eu tinha muitas perguntas não respondidas em relação a morena de olhos castanhos.

Hoje era dia de culto, com certeza eu a veria, mas não era de bom tom levar o livro. Droga, tenho que pedir o número dela, penso, enquanto começo a me arrumar.

Ainda pensando no nosso momento juntas no lago, o sentimento de paz tomou conta do meu corpo ao estar ao seu lado, o jeito que os olhos delas brilhavam ao falar sobre fotografia.

Um sinal de alerta vibrou em minha pele.

Cuidado Carol, não se aproxime muito! Resista, pensa no Espírito Santo, em Deus e no seu propósito! Não deixa a malícia nublar seus pensamentos em relação a Natália.

Orei em silêncio.

O que acharam?

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