VII - Pânico

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— Você deu sorte, um garoto acabou de deixar esse caderno aqui.

A moça dos achados e perdidos comentou, me estendendo o caderno vermelho que tanto procurei. Senti um peso saindo das minhas costas assim que o peguei, percorrendo minha mão pela capa que tanto conheço, meus segredos estavam seguros novamente. Só depois de um bom tempo percorrendo as páginas e conferindo se estava tudo bem foi que finalmente processei o que ela tinha falado.

Um garoto tinha acabado de deixar meu diário ali e eu tinha acabado de esbarrar com Max na entrada da Reitoria. O peso nas minhas costas voltou com tudo enquanto eu levantava o olhar para encarar a moça sorridente na minha frente.

— Como... como era o garoto que deixou isso aqui?

Ela pareceu confusa com a pergunta, o sorriso tremeu um pouco, mas se recuperou rápido e os dentes brilhantes voltaram a me cegar.

— Era bonito, um pouco alto, cabelo preto meio longo, tinha uns piercings muito legais e usava uma camiseta vermelha.

Meu mundo girou, com aquela descrição ela confirmou a minha teoria e eu não me sentia nem um pouco satisfeito por estar certo. Max tinha encontrado o meu diário, o levou até ali e o que garante que não tenha lido? A atitude estranha dele de alguns momentos antes era por causa disso? Ele tinha lido, descoberto tudo e ficado irritado por causa disso? Só podia ser um pesadelo, meu carma não podia ser tão grande assim.

Agradeci a moça e saí da sala sem realmente perceber que o estava fazendo. Não sei como voltei para a casa Gama nem quanto tempo demorei, quando vi já estava largado na minha cama encarando o teto. Sabia que nunca mais conseguiria olhar para Max, muito menos falar com ele, meu peito doía e a vergonha me corroía. Era tudo culpa daquele maldito diário, se eu não o tivesse escrito nada daquilo estaria acontecendo, mas, mesmo tendo essa certeza, não consegui me impedir de abrir em uma folha em branco e escrever tudo o que tinha acontecido. As folhas ficaram enrugadas e a caneta manchada nas partes em que minhas lágrimas pingaram, mas não me importei com isso.

Os próximos dias foram terríveis. Max insistia em querer se aproximar, não faço ideia do que ele queria dizer, mas provavelmente não seria nada bom e eu não estava com humor para ter meu coração partido mais uma vez. Depois que contei ao Tank o que aconteceu ele se tornou meio superprotetor, o que era bom, já que ele evitava que Max se aproximasse, o mantendo longe com olhares acusadores. Claro que eu sabia que não era justo o acusar, não corresponder os sentimentos de alguém não o tornava um monstro, mas enquanto essa atitude de Tank mantivesse Max longe de mim eu estava satisfeito.

Depois do fim de semana Max parecia ter finalmente desistido, não tentou falar comigo quando nos encontramos na porta da aula que tínhamos juntos, mas me lançou um olhar estranho. Os olhos escuros brilhavam, as pálpebras meio caídas, como se olhar para mim fosse doloroso. Desviei rapidamente o olhar, antes que o aperto no meu peito ficasse forte demais para suportar.

Queria que aquelas aulas não fossem obrigatórias, se pudesse tirar elas da minha grade de horários seria maravilhoso, não teria que ver Max e aqueles olhares estranhos que começou a me lançar, mas não tinha essa sorte. Era como se o universo quisesse me torturar, como se dissesse "observe como o garoto por quem você é apaixonado te odeia", era terrível, mas mais terrível que isso foi o que o professor disse naquele dia.

O Sr. Jackson estava explicando um trabalho que deveríamos fazer em duplas, era simples, só assistir um filme e fazer uma resenha crítica sobre, o principal objetivo era aperfeiçoar a nossa escrita e o nosso senso crítico. Ia ser fácil, eu e Tank somos bons na escrita e ele obviamente seria a minha dupla, eram pontos fáceis, parecia que finalmente aconteceria alguma coisa boa para mim, mas assim que me virei para o meu amigo, na intenção de confirmar que faríamos o trabalho juntos, o professor resolveu me jogar um balde de água fria.

— Eu vou escolher as duplas desse trabalho.

E a partir daí tudo desandou. As duplas foram separadas lentamente, o professor não parecia ter pressa enquanto examinava a lista de chamada para juntar os alunos mais inusitados, desde pessoas que se detestavam até algumas que nunca tinham nem se falado. A cada nome eu ficava mais tenso, os nomes iam acabando e as possibilidades diminuindo até que finalmente o meu maior medo se tornou realidade.

— E, por fim, Max e Bradley.

Instintivamente olhei para trás, onde sabia que Max estaria sentado, ele já me olhava, me dedicando um enorme sorriso. Eu teria achado encantador, se não estivesse desesperado. Minha intenção era evitar Max o máximo possível, mas agora, graças àquele estúpido trabalho, teria que assistir um filme e escrever um texto com ele. Em outras circunstâncias talvez eu até ficasse feliz com aquela oportunidade, mas, sabendo que ele provavelmente leu o meu diário e que sabia dos meus sentimentos, tudo que eu sentia era pânico.   

Nota de Rodapé: 

Esqueci de colocar no outro capítulo, mas para os que não sabem como é o estilo do piercing do Max é tipo esse aqui: 

Esqueci de colocar no outro capítulo, mas para os que não sabem como é o estilo do piercing do Max é tipo esse aqui: 

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Tem vários tipos na imagem, mas o Angel Bites é o que parece um dente de vampiro. Inclusive essa imagem se encaixa bem no que imagino dele no geral.

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