1. Obra-Prima - QToey (We Are)

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- Nong Toey...
A voz afetuosa de Q era um dos pontos fracos mais óbvios de Toey. Era impossível esconder o sorriso idiota ou as bochechas coradas. Ele estava mesmo rendido.
- Hm... - ele murmurou para o namorado, desviando o olhar e tomando mais um gole de seu Frappe de leite por pura timidez.
- Eu estava pensando sobre como você sempre diz que é muito sortudo por me ter como mentor. E que eu sempre te ajudo muito... - Q afirmou, com um sorriso um tanto provocador. Ele adorava ver o efeito que tinha em Toey.
- Claro que sim. Você é o artista mais talentoso da faculdade! Meus colegas morrem de inveja! - Toey deixou toda a timidez de lado para se exibir, roubando um sorriso orgulhoso do namorado. - E eu também tenho tido notas muito boas, mesmo que não desenhe há tanto tempo. Você é um ótimo professor.
- É bom saber que consigo te ajudar, especialmente agora que posso cuidar de você de outras formas.
E lá se foi mais um longo gole de timidez do Frappe de leite de Toey. Ele não sabia se algum dia conseguiria se acostumar. Sempre parecia bom demais pra ser verdade.
- Mas estou dizendo isso porque eu meio que preciso de um favor...
- Do que precisa, P'Q? Faço tudo o que eu puder pra ajudar! - Toey ajustou a postura, colocando-se em posição militar.
- Calma, escute a proposta primeiro... - Q respirou fundo, como se precisasse arranjar coragem pra perguntar. - Minha turma precisa fazer um trabalho, e vai ter uma pessoa de modelo na sala, mas também temos a opção de arranjar nossos próprios modelos.
- Quer que eu seja seu modelo? Posso fazer isso tranquilamente - Toey fez uma série de poses dramáticas, roubando risadas do namorado.
- Eu adoraria te ter como modelo. Quero fazer algo diferente. Algo significativo. E não vai ser especial se eu usar o mesmo modelo que todo mundo - Q explicou. - Só que tem um detalhe importante... e eu quero deixar bem claro que eu não vou ficar triste ou bravo se você disser não. Sei que usei meu papel de mentor pra te persuadir um pouco, mas você realmente não me deve nada, okay? Sem pressão nenhuma.
- Você parece nervoso... - Toey segurou a mão do namorado. - Não acredito que algo possa ser tão sério assim. Fique tranquilo. Não vou fazer nada contra a minha vontade. Qual é o tal detalhe importante?
- É que... - Q suspirou, quase sem coragem de encarar Toey. - É um trabalho de nudismo.
- Ah... - Toey arregalou os olhos, em choque.
Nos longos segundos de silêncio que se passaram, a mente hiperativa de Toey viajou por vários cenários. Ele se imaginou nu e exposto, sendo observado por Q. Seu rosto corou ao extremo só de pensar. Eles não namoravam há tanto tempo, e não haviam chegado no pico da intimidade física. Q não só o veria pelado, mas prestaria atenção em tudo... incluindo as partes que Toey não gostava muito em si. A ideia era assustadora. Mas então ele imaginou Q fazendo o mesmo com outra pessoa, e por mais que soubesse que era irracional, uma onda de ciúme o inundou dos pés à cabeça. Aquela era a chance de ser a inspiração do seu namorado e artista favorito, e ele não deixaria ninguém roubar-lhe essa honra.
- Desculpa, deixa pra lá... foi só uma i-
- Tudo bem, eu faço - Toey o interrompeu.
- Quê? Mesmo? - Q questionou, surpreso.
- Sim - Toey apertou sua mão. - Mas... o trabalho não vai ser exposto em nenhum lugar, né?
- Não, não, nunca! - Q garantiu. - Eu nunca permitiria. Você sabe que sou possessivo...
Toey corou de novo.
- A única pessoa que vai precisar ver é meu professor... e eu meio que também odeio isso. Mas só vou deixar ele olhar por tempo suficiente pra dar uma nota, e depois disso nunca mais. Também podemos fazer adaptações de ângulos e exposição pra você se sentir mais confortável, mas saiba que seria uma obra extremamente confidencial. Só eu e você poderíamos apreciar.
- Okay, eu aceito - disse Toey. - Mas com uma condição.
- Hm... que condição?
- Quando chegar a minha vez e eu precisar fazer um trabalho de nudismo, você também vai ter que ser meu modelo.
- Tá... - Q suspirou, um tanto hesitante. - Justo.

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Assim que entraram no quarto, Q trancou a porta e fechou todas as cortinas. Ninguém poderia espiar seu modelo, nem mesmo por acidente.
- Fique à vontade. Preciso preparar as coisas, rapidinho - ele disse.
- Okay... - Toey assentiu, sentando-se na cama enquanto a ficha enfim começava a cair. Ele estava mesmo prestes a posar nu pra Q? O nervosismo não era pouco.
Q ajustou seu suporte de tela ao lado da cama, com a parte de trás virada para o lado da cabeceira, e a luz de seu abajur parecia a única fonte de luz que pretendia usar. Toey perguntava-se que tipo de visão ele tinha em mente.
- Você pode começar só tirando a camisa. Não precisa se preocupar com o resto agora - Q sugeriu, e Toey assentiu, despindo a parte superior do corpo. A exposição gradual trazia um certo alívio. Ele teria tempo pra se acostumar e se sentir mais confortável. A expressão de Q ao encarar seu peitoral, no entanto, fez seu coração acelerar mais que o normal. Era uma expressão nova, que ele não sabia ao certo como decifrar, mas algo sobre aquele olhar o fazia arrepiar inteiro. - Está com frio?
- N-não. Estou bem. - Ele respondeu, envergonhado. Q havia percebido. - Com um pouco de calor até. - MERDA. POR QUE EU DISSE ISSO? Ele pensou.
- Pode beber a água da mesa de cabeceira quando precisar. E qualquer coisa me avise. O importante é que esteja confortável - disse Q.
- Certo, obrigado. - Toey sorriu, tentando relaxar. - Como quer que eu me posicione?
- Hm... pode deitar. Quero ver algumas possibilidades diferentes.
Toey deitou-se reto na cama, sem saber muito o que fazer.
- Definitivamente não para a posição de tábua - Q riu. - Tenta deitar virado na minha direção. - Toey obedeceu, e Q deu um sorriso - Melhor. Mas volte para a posição de tábua rapidinho. Deixa eu tentar uma coisa. - Toey voltou a deitar de barriga para cima, e Q aproximou-se, pegando um de seus braços e guiando-o para o topo do travesseiro. Toey jurava que seu coração estava prestes a fazer um show para uma multidão no Lollapalooza de tão alto que batia. A chance era que Q pudesse ouvir sem nem precisar se aproximar tanto. -Se você quiser, podemos usar uma das mãos para esconder o... hm... - Q corou. - Você sabe.
- Uhm... pode ser se você achar bom assim. Mas eu prefiro que você siga a sua visão e as sua preferências. Não se preocupe tanto comigo. Eu já concordei em ser o modelo - disse Toey, reafirmando sua confiança no trabalho de Q.
- Certo... mas caso fique desconfortável com algo não hesite em me avisar - Q repetiu, antes de voltar a reajustar seu corpo.

Q passou um tempo rascunhando, e Toey estava tão confortável que estava prestes a dormir quando o namorado voltou a se aproximar.
- Se importa se eu testar algumas cores na sua pele? Pode soar estranho, mas acho que vai ajudar.
- Estou à disposição - Toey sorriu.
Q pegou sua paleta e começou a testar alguns tons de vermelho e roxo no pescoço de Toey.
- Está tentando decidir entre me pintar como um marciano ou uma vítima do chiclete do Willy Wonka? - Toey questionou.
- Claro que não! - Q riu alto.
- Então o que está fazendo? Pensei que fosse testar cores pro tom de pele.
- Você vai ver depois...
- Mas eu quero saber agora! Me conta sobre as suas ideias, vai!
- Não...
- Mas P'Q! - Toey fez bico. - Não é justo! Por favor! Por que eu não posso saber?
- É só que... - Q desviou o olhar - eu não saberia explicar sem ser extremamente vergonhoso.
- Vergonhoso? Eu vou literalmente posar pelado e é você quem está com vergonha? - Toey argumentou. - Não seria nada além de justo que você passasse um pouco de vergonha também. Eu me sentiria até mais confortável...
- Tá... tá... desculpa, você tem razão. Mas promete não me julgar pela ideia? Tenho medo de soar esquisito.
- Prometo! Você sabe que sou um grande admirador da sua arte. Não vou te julgar. - Toey estendeu seu mindinho, selando a promessa com Q.
- Certo... - Q suspirou. - Ao longo da história o do nudismo foi explorado de várias formas na arte, em diferentes mídias, e eu sempre vi muitos problemas com algumas perspectivas. Acontece que nenhum museu parece ter problema em expor obras de nudismo clássico, como as esculturas renascentistas, mas quando se trata de outros estilos de arte, o nudismo muitas vezes é julgado como "vulgar". Isso sem contar que muitas obras parecem ser apenas representações de um corpo ideal pra ser objetificado, especialmente corpos femininos. Acho isso problemático. Por isso eu quero trabalhar em uma obra íntima e honesta, em que o nudismo de fato significa alguma coisa. Quero representar o valor do corpo e a capacidade de despertar desejo e amor, não de forma idealizada mas em uma posição vulnerável, em que o corpo é sujeito, não objeto, e também sente a emoção e o prazer. Pretendo representar isso na expressão facial, especialmente com os olhos e com um sorriso. Também quero que o corpo, ao invés de "limpo", traga marcas das suas experiências. Por isso o vermelho e o roxo. São marcas de... bom... - Q desviou o olhar, corado. - São chupões. Com isso e alguns outros detalhes, eu também acabo expressando as minhas próprias fantasias no meu ideal de beleza... por isso você é o modelo perfeito.
Toey quase perdeu o controle com a última frase. Seu namorado tinha mesmo acabado de admitir que tinha fantasias sobre ele? Ele estava prestes a agarrar Q pela nuca e beijá-lo ali mesmo. A situação piorou assim que sentiu a ereção formando-se entre as pernas. MERDA.
Q percebeu seu pânico repentino, acompanhando o olhar do namorado até perceber o volume em suas calças. Foi aí que o olhar, aquele que já estava deixando Toey maluco desde o início, ficou mil vezes mais faminto.
- P'Q...
Q o interrompeu com um beijo intenso, retribuído imediatamente. Toey ousou sair de sua posição e usou seus braços para tirar a camisa de Q.
- Agora estamos quites... - ele provocou, enquanto Q transferia os beijos de seus lábios para o seu pescoço, roubando-lhe alguns gemidos.
- Mas acho que chegou a hora de tirar o resto - Q sussurrou em seu ouvido, e Toey assentiu com a cabeça.
- Pode tirar, desde que me foda antes de continuar pintando...
- Não precisa pedir duas vezes.

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- Não se mexa! Está perfeito! - Disse Q, voltando à tela pouco depois de levar Toey a um último orgasmo.
- Acho que não vai mais precisar usar tinta no meu pescoço. Tem referências naturais até demais - Toey riu.
- Pois é... e são perfeitas. A vista é de fato maravilhosa. Acho que estou prestes a produzir minha primeira obra prima... mas vai ser especial demais para os olhos do público.
- E se for mesmo uma obra prima? Talvez eu concorde que seja exposta se for te trazer o reconhecimento que você merece.
- Lembra do que eu disse? Nunca! Nunquinha! Vai ser meu tesouro pessoal. Não quero ninguém com essa imagem na cabeça pra ficar babando no meu namorado.
- Tá bom, você que sabe - Toey riu.

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Alguns dias depois...

- E aí? Como foi? Tá tudo bem? - Toey perguntou ao encontrar Q depois da aula. Ele já teria recebido a nota do trabalho àquele ponto. - Você parece irritado. Te deram uma nota baixa? Não... não pode ser possível!
- Não, eu tirei nota máxima. - Q respondeu, ainda parecendo irritado.
- Parabéns! - Toey o abraçou. - Mas então qual é o problema?
- O professor gostou até demais do trabalho. Passou um tempão encarando e elogiando. Quase arranquei a tela da mão dele. Espero que ele bata a cabeça e perca todas as memórias de hoje... - Q bufou.
- Calma, não precisa exagerar - Toey riu. - Ninguém mais vai precisar ver. E só você pode vivenciar a cena do quadro... quantas vezes quiser.
- Acho que no fim das contas o sortudo por ser seu mentor e namorado sou eu - Q concluiu, com um sorriso vitorioso.

Don't Delete The Kisses - OneShots BL/GLOnde histórias criam vida. Descubra agora