Capítulo - 01

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   — Atenção, guarda! — uma voz suave e cheia de autoridade ordenou. — De pé!

   O guarda, um homem alto e robusto, jazia num pequeno colchão que mal acomodava seu comprimento, deixando suas pernas estendidas para além do conforto, sobre o piso de madeira. Com um olhar grave, ele encarou o ordenante e, lentamente, ergueu-se. A escuridão do quarto ocultava sua pele ébano, mas, ao obedecer à ordem, sua estatura tornou-se evidente; em pé, ele sobressaía diante de seu líder. O segundo tenente, consideravelmente mais baixo, mal alcançava o peito do guarda.

   Ligeiramente intimidado pela estatura do guarda, o segundo tenente manteve-se firme, encarando-o com uma determinação inabalável. Seus olhos amplos capturavam o luar que se derramava pela janela de vidro circular, banhando metade de seu rosto com uma luz prateada que fazia sua pele pálida resplandecer. A outra metade de sua face permanecia oculta nas sombras, com mechas de cabelo caindo até a altura do nariz, adicionando um ar de mistério à sua expressão determinada.

   — Coloque seu uniforme adequadamente — disse o segundo tenente. Observando a vestimenta do guarda, que estava aberta e mostrava parte do seu peito e abdômen, o segundo tenente disfarçou, virando-se e começando a andar. — Siga-me — ordenou ele.

   Observando o estado do seu uniforme, o guarda tentou esconder as partes que estavam expostas. Rapidamente, ele abotoou a camisa e tentou disfarçar seu descuido. Ele estava claramente embaraçado, mas determinado a corrigir a situação.

   O segundo tenente virou o rosto, claramente desapontado, e começou a andar. O guarda, ainda se arrumando, rapidamente seguiu atrás dele. Entre os passos, ambos sentiram uma força poderosa sob seus pés que os fez parar por alguns segundos. Em seguida, um alto chiado precedeu um forte baque. Uma onda gigante acabara de quebrar, empurrando com força o navio da Marinha para trás.

   A potência incontrolável da natureza era incontestável. Mesmo com o segundo tenente fazendo um esforço hercúleo para resistir, a força da gravidade o impulsionou contra o corpo sólido do guarda. Este, demonstrando uma resistência impressionante, conseguiu manter-se firme e amparar o segundo tenente. Nos braços fortes do guarda, o tenente ficou imóvel por alguns instantes, encarando o rosto do homem que o segurava. O medo era evidente em ambos, seus olhares se cruzavam enquanto suas respirações pesadas enchiam o ar. Com a boca entreaberta, o guarda disse inquisitivo:

   — Lohan? — A voz ecoou suavemente na sala.

   — Davi? — O segundo tenente respondeu em um sussurro quase inaudível, a surpresa evidente em sua voz.

   — Você está bem? — A preocupação de Davi era palpável em suas palavras.

   Lohan, momentaneamente emudecido pela tensão do momento, encontrou-se cativo do olhar penetrante do guarda. Ele demorou a responder, como se estivesse perdido em um mar de pensamentos. Finalmente, voltando a si, ele piscou os olhos lentamente, como se estivesse despertando de um sonho. Com um aceno de cabeça, ele confirmou silenciosamente que estava bem.

   — Obrigado pela ajuda — Afastando-se do corpo do guarda, Lohan tentava desprender-se — Mas já pode me soltar.

   — É que o seu cheiro é tão bom — Usando a força para segurar Lohan por mais alguns segundos, Davi encostava o nariz e boca no pescoço dele — Eu não queria te soltar mais.

   — Os quartos do navio são sempre cheios — Com a voz exalando preocupação o segundo tenente interrompeu o abraço ao falar — É melhor você me soltar antes que apareça alguém.

   — Você tem tanto medo — disse Davi, afastando-se cabisbaixo. — Seja livre e leve; simplesmente viva.

   — Acho que você não entenderia, meu pai... — Lohan desistiu de terminar seu argumento.

Sonhos de um Amor AncestralOnde histórias criam vida. Descubra agora