O Preço do Poder e da Obsessão

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Brooklyn Baby - Lana Del Rey

18 de setembro de 2019

Nas profundezas mais insondáveis de sua mente, habitava um desejo ilícito, uma obsessão que se entrelaçava como uma serpente venenosa em torno de seus pensamentos, sonhos e fantasias. Uma mulher, enigmática e soberana, emerge com uma visão hipnótica, uma miragem insaciável que devora a sanidade de quem ousa contemplá-la. Cada olhar dissimulado é como um feitiço cravado na alma, incitando um fervor inexorável e devastador, como se todo o corpo de quem é observado por ela estivesse sendo queimado e retorcido em agonia intensa.

Assim, a obsessiva é lançada em um espiral de delírios, onde a realidade se desfaz em um vórtice de anseios irrealizáveis, caminhando na corda bamba entre a bem-aventurança ilusória e a ruína irrevogável. Autodestruição disfarçada de êxtase. Enredada nas redes dessa compulsão, vê-se cativa de uma paixão que transcende a razão. Dominada por um desejo insaciável, persegue essa figura diáfana, e seu espírito consumido por uma devoção que beira a loucura, anseia pela redenção e perdição que somente essa mulher pode lhe oferecer.

O oxigênio aprisionado nos pulmões era uma decisão muito consciente, imergindo na angústia da asfixia como se buscasse a ratificação de sua própria existência. De toda maneira, sua pose permanecia intocável, seus lábios esboçavam uma neutralidade calculada, um sorriso — quase — trivial.

— Supõe que me intimida? — Inquiriu, sustentando o tom mais cínico que conseguia manter, erguendo seu olhar dos documentos até a Senadora da República. Fitou-a por cima dos óculos de grau que repousavam precariamente na ponta de seu nariz.

A adrenalina pulsava em cada fibra da sua estrutura, como se o próprio corpo ardesse em um ímpeto febril. Não conseguia discernir se o que inflamava seus sentidos era a ousadia do ato cometido ou o calafrio que a dominava sob o olhar perscrutador da ex-professora. A imprudência parecia-lhe uma sina inescapável, e ainda que o caminho à frente fosse nebuloso, recuar jamais seria uma alternativa. Talvez, seu maior defeito residisse na coragem excessiva. 

— Não preciso intimidá-la, Senadora. — Proferiu, repousando os cotovelos na cadeira e cruzando uma perna por cima da outra. O vestido longo, adornado com um florescer estampado em preto e vermelho, possuía um decote em V com um elegante franzido no meio do busto, revelando os seios fartos que ela decidiu não ocultar com um top preto, como havia planejado anteriormente. Sua postura inequívoca denunciava que aquele momento se prolongaria muito mais do que a emedebista havia previsto.

O silêncio nos corredores habitualmente agitados durante o dia era sepulcral. Sendo suplantado apenas pelo zumbido glacial do ar-condicionado ajustado à temperatura mais baixa possível. Se não fosse pela tensão corpórea da ocasião, ambas estariam facilmente congelando por baixo dos vestidos longos.

— Tem um minuto para sair do meu gabinete antes que eu arruíne seu mandato, Senadora Soraya. — Tebet articulou com frieza, evitando encará-la, no mesmo tempo em que amassava o bloco de documentos e o descartava na lixeira ao lado de sua mesa.

Não importava o ambiente em que estivesse ou a situação que enfrentasse, a ex-prefeita sempre emanava uma aura de controle, confiança e coragem.

O ódio de Soraya começou a fluir lentamente para fora. Precisava colocá-la em seu devido lugar. Levantou-se cuidadosamente da cadeira, os sapatos altos nunca pareceram tão fáceis de se equilibrar como naquele instante. Num movimento súbito, empurrou tudo o que estava na mesa para o lado, fazendo-os despencar no chão com um estrondo elevado. Papéis, lápis, canetas, marcadores de textos, xícara, celular, livros, óculos, pastas, absolutamente tudo foi ao chão num único ato.

Vesúvio - Simone x SorayaOnde histórias criam vida. Descubra agora