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Nunca pensei em dizer isso, mas trabalhar para o dono do morro me deixa mais em paz do que qualquer outro trabalho

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Nunca pensei em dizer isso, mas trabalhar para o dono do morro me deixa mais em paz do que qualquer outro trabalho. A Ceci não da trabalho algum, ela mal faz uma birra, nos seus horários de dormir eu consigo estudar para o vestibular e até ajudar  tia Amália quando ela está aqui na casa.

Normalmente, a única pessoa que atormenta meu juízo é o Teto, ele sempre simpático, um amor, mas não acho que devo acreditar nas sua investidas, afinal, não posso me envolver com ele, se ele chegar a sonhar nas marcas que tenho no corpo, se ele sonhar com quem faz isso comigo, minha vida iria ainda pior.

Sei que ele já estranho eu estar no calor do inferno do Rio de Janeiro usando calças ou casacos, mas até então ninguém nunca perguntou e espero que nunca pergunte.

Eles também estão preocupados com coisas piores, não entendi muito, mas seria algo com a Paty, mãe da Cecília.

— fala minha fã — Alice Vilas, minha única amiga aqui no morro.

Quando as coisas com meu pai começaram a piorar, passar de gritos para murro, eu me afastei muito das amizades que eu tinha, não podia deixar que ninguém visse nada, mas Alice não abaixou a cabeça para as minhas desculpas, ela fazia questão de estar aqui comigo, mesmo sabendo de tudo e já ter falado para denunciarmos ele, ela entende meu motivos, não posso denunciar ele agora, eu já tenho idade para sair de casa, eu vou fazer o vestibular, vou passar em uma faculdade em outro Estado e vou sumir desse morro, sumir desse lugar.

Se eu me envolver com qualquer coisa agora tudo isso vai ser jogado fora.

— Oi — digo simples.

— que voz é essa mona ? Toda bad ai — ela me abraça de lado — vem cá, como é trabalhar para o dono do morro?

Como uma boa fofoqueira que ela é

— não é nada demais, eu nem tenho contado com ele assim, quando eu saiu ele ainda nem chegou, só nos " falamos " — faço sinal de aspas com as mãos — é porque ele pegou a filha na escola, somente.

— mesmo assim, deve ser sinistro — Alice e seus dramas.

— a única coisa sinistra é ficar o dia todo rodeada de armas, mas é melhor do que eu já estou acostumada — abaixo a minha cabeça.

— isso vai acabar amiga — ela me dá um sorriso reconfortante.

— fala se não é minha preta favorita e sua amiga que vai morre dentro desse caso — Caio, o primo de Alice para a moto do nosso lado.

Caio já era envolvido no tráfico, ele por querer uma vida fácil depois da separação de seus pais e tudo que envolveu isso, ele começou a usar drogas, passou de usuário para vendedor e assim foi.

— olha se não é o traste do meu primo — ele da língua para minha amiga.

— oi Caio — ele bate na minha mão, meu braço ainda estava um pouco dolorido do último surto do meu pai, então tive que segurar o gemido de dor quando nossas mãos se chocaram.

— estão indo para onde gatas ?— encontrei Alice no caminho da minha casa para a escola de Ceci que fica mais no cetro do morro.

— eu vou buscar a Cecília na escola — não preciso dizer quem é a menina.

— bem o patrão já foi pegar ela, ele pediu para passar recado — ele diz.

— virou pombo correio foi ?— Alice tira uma com ele.

— cala a boca sua feia — ela mostra o dedo do meio para ele.

— OH CAIO, TU NÃO TRABALHA MAIS NÃO MORAL ?— uma voz no asusta.

Quando olhamos melhor, vemos Xamã, o sub dono do morro, quando o Ret ficou preso foi ele que cuidou de tudo.

— eu vim passar o recado do chefe, cara — Xamã deu um tapa na cabeça de Caio.

— sei, fiquei ai vacilando, boa meu filho, roda — Caio se despede de nós levando Alice com ele.

Dizendo ela que iria no mercado, fico sozinha com o Xamã no meio da rua, como o Ret já tinha pegado a Cecília eu não sabia se iria para sua casa ou esperaria ele vim pedi para alguém vim me buscar.

— vem, o Ret tá em casa com a Ceci, eu te deixo lá — ele me guia até sua moto e me leva para a casa do dono.

Entrando na casa eu escuto uma gritaria, várias vozes se misturam e fica difícil de saber quem está falando o que.

— PORRA VEIGH — Teto grita — SABE JOGAR NÃO FILHO DA PUTA ?

— DA PRÓXIMA VEZ QUE VOCÊ XINGAR PERTO DA MINHA FILHA EU TE MATO SUA PORRA — Ret bate em Teto com a filha no colo.

— PORRA — Cecília grita.

Todo mundo para, até eu que já estava para fiquei nervosa, todas sabiam que se a Paty sonhar que ela xingou por causa deles, ela vai matar todos, todos mesmo.

— fudeu — Veigh, ou Thiago como ele tinha se apresentado para mim.

— se alguém de um pio, ou falar para a Patrícia eu vou da um jeito de vocês nunca mais viram o sol nascer, estão em entendo ?— Ret fiz e os meninos só balançam a cabeça assim como eu — ótimo.

— oi gente — dei um aceno para eles.

— oi Carol — Veigh abre um sorriso para mim.

— oi Carol — Teto imita Veigh e revira os olhos para o rapaz.

Acabo dando risa desse jeito dele, Teto é bonito não nego, seus cachos meio loiros caindo em sua festa, seus sotaque nordestino ainda presente faz eu me arrepiar quando falado muito perto de mim, suas tatuagens me chamam muita atenção, mas sei que ele é proibido para mim.

Ele é qualquer outro.

— ainda bem que você chegou, aqui ela, eu preciso sair — Ret me entrega a Cecilia que faz uma birra querendo voltar para o pai — depois o papai vem filha, eu prometo.

— papa — ele beija sua cabeça e vai levando Veigh com ele.

— oi Ceci, vamos brigar ?— ela mesmo com a carinha triste ela abre um sorriso quando entende o que quero dizer.

— eu posso brincar com vocês? — Teto vem até a parte onde fica os brinquedos dela na sala.

— pode, você será a Barbie — entrego a boneca para ele, o mesmo faz careta quando olha para a boneca.

No Crime TetoOnde histórias criam vida. Descubra agora