𝐀s sombras da Verdade.

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24 de junho de 2022, às 10:15 AM - Sala de Jihoon.

Li Wei e Sofia estavam sentados em frente à mesa de Jihoon, o silêncio entre eles era ensurdecedor. Jihoon os observava com uma expressão severa; a intensidade de seu olhar era quase palpável. O ambiente estava carregado de tensão, e nenhum dos dois ousava quebrar o silêncio. Finalmente, Jihoon suspirou profundamente e começou a falar.

- Precisamos resolver isso rápido. Não posso permitir que a reputação do meu laboratório seja destruída. - disse Jihoon, sua voz cheia de determinação. - Preciso que vocês me digam tudo o que sabem sobre Olivia. Qualquer coisa pode ser útil. Qualquer detalhe.

Wei cruzou os braços, seu rosto impassível como sempre, mas havia um brilho de receio em seus olhos. O rapaz mais novo odiava a linguagem corporal do seu superior e a forma como ele se expressava.

- "Meu " Esse velho filho da puta coloca os funcionários para trabalhar como se fôssemos escravos, mas aparentemente a base é somente "dele" e não "nossa" - Pensava. Detestava a forma como ele sempre levava os créditos com todas as pesquisas e descobertas que os demais cientistas faziam; ele ser colocado como "no comando" não fazia dele verdadeiramente chefe de ninguém. Mas não tinha muito o que fazer porque o mundo é exatamente assim, injusto.

Revirou os olhos, mas começou a falar.

- A verdade é que Olivia estava agindo de maneira estranha nas últimas semanas. Ela passava horas trancada no laboratório, muitas vezes trabalhando até tarde da noite. Mas ela nunca compartilhava o que estava fazendo - disse Wei, seu tom de voz calmo e controlado. - Eu não podia imaginar que seria um plano para "acabar com a humanidade". Sinceramente, achei que isso só existia na ficção.

Sofia, incrédula com a forma como Wei falava da própria amiga, virou seu olhar para o cientista.

- Olha, com todo o respeito, Olivia era nossa amiga. Nós a conhecíamos bem, e ela nunca faria algo assim sem um motivo minimamente razoável. Ela apoiava diversas causas contra preconceitos e injustiças com grupos de pessoas em minorias que precisam de ajuda, pessoas que o senhor ignora. - Apontou, inclinando-se na cadeira e apoiando a mão na mesa. - Então, me desculpe, mas vir com a história de que "Olivia roubou os arquivos para dizimar uma população inteira com a intenção de desenvolver um vírus letal para acabar com tudo aquilo a que ela dedica a vida" me parece mentira - disse Sofia, sua voz trêmula e embargada, segurando-se para não chorar enquanto o olhava com raiva. - Acho que o único pensamento que temos em comum é sobre descobrir a verdade, mas temos motivações diferentes para isso, não é?

Sofia nunca colocaria a amiga como a vilã da história, a menos que ouvisse da própria Olivia que fez tudo isso exatamente da forma como foi contada. Wei olhou para a mulher, brincando com uma caneta entre os dedos, acabando por deixá-la cair ao ouvir o fim de sua fala, surpreso com tal ousadia. Sofia era o tipo de pessoa que aceitava desaforos e engolia tudo calada. Sorriu levemente.

Jihoon franziu o cenho, pensando profundamente nas palavras dos estagiários. Ele sabia que Olivia era uma pessoa inteligente e dedicada, mas a ideia de traição era difícil de engolir. Jihoon escondia algo, Sofia tinha certeza disso e Wei desconfiava.

- Olha, querida, deixe-me te explicar uma coisa - começou, em um tom calmo. - O que eu estou falando é em tese ao que interpretei ao ver sua amiga invadindo e roubando todas as pesquisas, aparentemente hackeando todos os computadores, desativando programas de segurança máxima e sumindo com qualquer resquício de informação que tínhamos até agora. Tenho quase certeza de que ela tem um comparsa e quero saber quem, porque não foi um hacker meia boca que estava ajudando; foi alguém grande - finalizou, o olhar afiado quase perfurando os olhos da menina mais nova que não recuou. - Eu quero as minhas pesquisas. E nem que eu tenha que procurar a ladra até o inferno, eu não vou parar. Então não venha querer me acusar de algo quando a sua amiga é quem aparenta estar errada na história.

Li Wei tinha suas suspeitas, mas os argumentos do doutor pareciam convincentes demais para o chinês, exceto por uma coisa:

- Mas o que tinha nas pesquisas? Achei que era contra a regra o sigilo sobre descobertas de arquivos letais; se o vírus era tão perigoso assim, por que ninguém além do senhor e Olivia sabia do conteúdo? - O rapaz deu de ombros. - Não deveria ter uma equipe trabalhando nisso?

- E por que exatamente os representantes não estavam sabendo disso se é algo que pode afetar toda a população asiática? Quer dizer... inicialmente a população asiática - dessa vez foi Sofia, compreendendo a linha de raciocínio do parceiro.

Jihoon, encarando-os com um sorriso orgulhoso, apenas se escorou mais confortavelmente na cadeira. - Vocês são espertos. Espertos até demais.

Mas tudo o que ele fez foi se levantar, deu a volta na mesa e parou ao lado de Sofia. A postura do senhor de fisionomia japonesa era tão perfeita que chegava a ser estranha; notoriamente ele tinha uma saúde ótima e levava um estilo de vida saudável para se manter, mas parecia ser muito mais velho do que realmente era quando se tratava de sua aparência.

- Eu darei essa informação a vocês com uma condição - pegou dois papéis e entregou aos dois estagiários. - Vão me ajudar na investigação. Vocês são amigos de Olivia, então vai ser mais fácil para vocês irem atrás do paradeiro dela sem levantar suspeitas. Na real, eu não preciso saber onde ela está caso não queiram me contar quando descobrir - olhou para Sofia. - Mas quero as pesquisas e informações de quem a ajudou. Afinal, claramente é alguém com um grande poder e que está manipulando ela anonimamente, eu presumo. Apesar de Olivia ser uma mulher com uma inteligência maior do que podemos compreender, ela pode até mesmo estar sendo ameaçada a agir de tal forma. Não acham?

Esses argumentos calaram ambos, fazendo os dois se entreolharem em uma preocupação genuína. Ninguém sabia o que poderia estar acontecendo; tinham apenas um mero "achar" e não uma certeza. Jihoon deixou-os pensarem mantendo o silêncio por alguns segundos, até que voltou a falar:

- Seis pessoas, contando com vocês dois, vão ajudar. Estarei oferecendo um prêmio de seiscentos mil se conseguirem concluir a missão, somando e dividindo tudo...

- Cem mil para cada - Wei deu a resposta rápida, já convencido a aceitar apenas pela motivação do dinheiro.

- Cem mil pra cada... - disse, dando suspense no fim da frase. - e as informações que vocês quiserem.

Sofia respirou fundo. Ela não queria participar do jogo de Jihoon porque suspeitava dele, mas e se ele estivesse certo? E se ela tivesse sido coagida? E se... Muitos "E se" rondavam pela cabeça dela, decidindo usar a situação a seu favor.

- Certo - olhou para o contrato e assinou após ler cada cláusula. - Quando começamos?

E foi desse jeito que tudo começou. Será que se Li Wei e Sofia não tivessem aceitado, o final poderia ser diferente? Será que todas as vírgulas e pontuações estariam nas mesmas linhas com as mesmas palavras descritas na mesma página?

A Morte Codificada.Onde histórias criam vida. Descubra agora