- Porque não aceita ir jantar comigo?
- Porque não me relaciono com chefes e colegas de trabalho. É uma norma que impus a mim própria.
- É só um jantar, não é nenhum relacionamento, Juliette.
- Ainda assim vou recusar. Muito obrigada.
- Não sabe o que perde. O restaurante é óptimo.
- Não duvido, mas prefiro assim e deixe-me dar-lhe um conselho. Não é muito ético sair por aí dando a morada dos seus funcionários. Não é ético e é no mínimo muito pouco profissional. O doutor Gustavo devia sabê-lo e ainda mais o doutor Rodolffo.
- Está aborrecida porque eu dei o seu endereço ao meu amigo Rodolffo? Desculpe, pensei que não se importaria.
Também não é muito ético você mentir.
Ontem estive com o Rodolffo.- Não estou interessada nesse assunto. Boa tarde e até amanhã.
Cinco meses depois
Aos 25 anos foi-me diagnosticado um problema nos ovários. Segundo vários especialistas eu jamais conseguiria engravidar naturalmente e agora cá estou eu grávida de 22 semanas já.
Por saber deste meu problema não me cuidei quando transei com Rodolffo e agora não tem mais o que fazer. Descobri há apenas um mês. A barriga já está bem saliente, mas tento disfarça-la com roupa larga.
Decidi que não lhe vou contar e terei este filho sózinha. É egoísmo, é, mas eu decidi e está decidido. Nós nem temos relação de amizade. Já me cruzei com ele no tribunal, mas sempre nos ignoramos.
Aqui estou eu hoje numa audiência em que ele é o juiz que vai julgar o caso. Pedi ao Gustavo para me trocar com outro colega, mas ele alegou que não havia hipótese. Estavam todos ocupados.
A audiência já ia a meio quando eu comecei a passar mal. Estava muito calor na sala. Sentei-me e apoiei as mãos na cabeça.
- A senhora advogada está bem? - perguntou ele.
- Não, doutor Juiz. Se for possível eu solicito um intervalo.
- A audiência está suspensa. Retomaremos a mesma amanhã de manhã pelas 9 horas.
Juliette foi acompanhada a uma sala onde se deitou num dos sofás.
- Quer que lhe traga algo doutora?
- Não. Só preciso descansar um pouco. Estava muito calor na sala de audiência.
- Doutora, está grávida?
- Sim. Estava enjoada de manhã e comi muito pouco. Deve ser por isso que me senti mal.
Vou à cafetaria buscar-lhe alguma coisa para comer. O que prefere?- perguntou a funcionária.
- Pode ser um sumo de maracujá e um pão com queijo.
Rodolffo estava na cafetaria a tomar café e ouviu o pedido.
- É para a doutora. Está grávida e sentiu-se mal.
- Desculpe, esse pedido é para a doutora Juliette? Disse que ela está grávida?
- Sim. Parece que não comeu de manhã por estar enjoada.
Rodolffo sabia em que sala ela estava e decidiu ir vê-la.
- Está melhor?
- Já estou um pouco melhor. Depois de comer fico bem.
O lanche dela chegou e ela comeu com vontade. Rodolffo permaneceu ali até ela terminar. Já estavam os dois sózinhos.
- Vou levar-te a casa.
- Não é preciso. Eu já estou bem.
- Faço questão. Tem um assunto sobre o qual quero falar, mas não aqui.
Juliette sabia do que ele queria falar. Decidiu aceitar até porque se ele perguntasse não iria mentir.