IX

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- Porque não aceita ir jantar comigo?

- Porque não me relaciono com chefes e colegas de trabalho.  É uma norma que impus a mim própria.

- É só um jantar, não é nenhum relacionamento, Juliette.

- Ainda assim vou recusar.  Muito obrigada.

- Não sabe o que perde.  O restaurante é óptimo.

- Não duvido, mas prefiro assim e deixe-me dar-lhe um conselho.  Não é muito ético sair por aí dando a morada dos seus funcionários.  Não é ético e é no mínimo muito pouco profissional.  O doutor Gustavo devia sabê-lo e ainda mais o doutor Rodolffo.

- Está aborrecida porque eu dei o seu endereço ao meu amigo Rodolffo? Desculpe, pensei que não se importaria.
Também não é muito ético você mentir.
Ontem estive com o Rodolffo.

- Não estou interessada nesse assunto.  Boa tarde e até amanhã.

Cinco meses depois

Aos 25 anos foi-me diagnosticado um problema nos ovários.  Segundo vários especialistas eu jamais conseguiria engravidar naturalmente e agora cá estou eu grávida de 22 semanas já.

Por saber deste meu problema não me cuidei quando transei com Rodolffo e agora não tem mais o que fazer.  Descobri há apenas um mês.  A barriga já está bem saliente, mas tento disfarça-la com roupa larga.

Decidi que não lhe vou contar e terei este filho sózinha.   É egoísmo, é, mas eu decidi e está decidido.  Nós nem temos relação de amizade.  Já me cruzei com ele no tribunal, mas sempre nos ignoramos.

Aqui estou eu hoje numa audiência em que ele é o juiz que vai julgar o caso.  Pedi ao Gustavo para me trocar com outro colega, mas ele alegou que não havia hipótese.  Estavam todos ocupados.

A audiência já ia a meio quando eu comecei a passar mal.  Estava muito calor na sala.  Sentei-me e apoiei as mãos na cabeça.

- A senhora advogada está bem? - perguntou ele.

- Não,  doutor Juiz.  Se for possível eu solicito um intervalo.

- A audiência está suspensa.  Retomaremos a mesma amanhã de manhã pelas 9 horas.

Juliette foi acompanhada a uma sala onde se deitou num dos sofás.

- Quer que lhe traga algo doutora?

- Não.   Só preciso descansar um pouco.  Estava muito calor na sala de audiência.

- Doutora, está grávida?

- Sim.  Estava enjoada de manhã e comi muito pouco.  Deve ser por isso que me senti mal.

Vou à cafetaria buscar-lhe alguma coisa para comer.  O que prefere?- perguntou a funcionária.

- Pode ser um sumo de maracujá e um pão com queijo.

Rodolffo estava na cafetaria a tomar café e ouviu o pedido.

- É para a doutora.  Está grávida e sentiu-se mal.

- Desculpe, esse pedido é para a doutora Juliette?  Disse que ela está grávida?

- Sim. Parece que não comeu de manhã por estar enjoada.

Rodolffo sabia em que sala ela estava e decidiu ir vê-la.

- Está melhor?

- Já estou um pouco melhor.  Depois de comer fico bem.

O lanche dela chegou e ela comeu com vontade.  Rodolffo permaneceu ali até ela terminar.  Já estavam os dois sózinhos.

- Vou levar-te a casa.

- Não é preciso.  Eu já estou bem.

- Faço questão.  Tem um assunto sobre o qual quero falar, mas não aqui.

Juliette sabia do que ele queria falar.  Decidiu aceitar até porque se ele perguntasse não iria mentir.

Quem viu a direcção que ela foi?Onde histórias criam vida. Descubra agora