• Prólogo •

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- 10.06.2017 | 22h56 -

      O desespero me consumiu por completo quando percebi que nenhuma das minhas tentativas de arrombar a porta desgastada funcionou.
      Além disso, meus braços doíam, resultado de eu ter me jogado contra a porta diversas vezes na expectativa dela se abrir.
Sem mais idéias, eu me sento no chão derrotada e com minha cabeça baixa.

_Tenho que sair daqui, ele precisa da minha ajuda _tento pensar em uma maneira de sair desse lugar enquanto mordo a parte interna da minha bochecha

      O quarto escuro iluminado apenas com uma luz vermelha de fundo era dominado por um silêncio agoniante, a única coisa que eu conseguia ouvir era o som abafado da música existente do outro lado da porta.

_Não, não, não!!! _meu coração pula quando ouço vários tiros sendo disparados e eu me levanto num ímpeto indo em direção a porta.

      Junto todas as minhas forças para me lançar na porta de madeira e me choco contra o chão juntamente da porta. Escorrego ao tentar levantar mas isso não me impede de sair correndo ao longo do corredor atrás dos sons de tiros.
      Vejo luzes vermelhas e azuis no final do caminho e o toque da sirene indicando que a polícia havia acabado de chegar no local.

_Espero que não seja tarde demais... _minhas últimas palavras saem quase como um sussurro quando me deparo com a pior cena da minha vida

_Victor!! _corro até o corpo inanimado no chão

_Anda Victor, levanta!! Por favor, não faz isso _seu corpo estava afogado numa poça do seu próprio sangue, com balas cravadas em sua carne e com hematomas pelo rosto

      Acabo tossindo entalada em minhas lágrimas enquanto sinto meu pulmão ficar escasso de oxigênio.
      Seguro o rosto sem vida de Victor pondo sua cabeça banhada de sangue próximo ao meu coração. Seus lábios pálidos e entreabertos, os olhos vazios onde era possível ver o meu próprio reflexo.

      Minha boca se abre mas eu não consigo falar uma só palavra, o peso da culpa que estava me esmagando era o que me mantinha sem falas.
      Pedir desculpas a essa altura seria o mesmo que nada, você só morreu assim por minha culpa.

      Abraçada ao meu amigo, nem ao menos percebo os policiais se aproximando e me separando dele, meu olhar estava preso em Victor desfigurado quase por completo após tanto sofrimento.
As vozes ao meu redor começam a sumir, meu corpo a pesar e eu não conseguia mais respirar.

      Com a visão turva, a última coisa que vi antes de apagar completamente foram as minhas mãos sujas...
      Sujas com o sangue do meu próprio amigo.

- 11.06.2017 | 5h30 -

      Quando abro meus olhos, sinto minhas pálpebras pesadas e meu corpo dormente, como se algo pesado tivesse caído por cima de mim.
      Ao olhar os arredores, me encontro num quarto de paredes verdes pastéis, com uma janela enorme que mostrava o nascer do sol, além do cheiro de éter e produtos de limpeza que me fizeram ter certeza de que estava num hospital.
       Ao meu lado, estava minha irmã que dormia aninhada com seu casaco numa poltrona do quarto.

      Após lembrar do que aconteceu, pude sentir minha garganta doer como se ela estivesse se rasgando enquanto tentava conter meu choro. O silêncio é quebrado quando eu dou um suspiro alto, alto o suficiente pra que minha irmã desperte do seu sono.

_Você acordou... Eu trouxe algumas roupas pra você, pode vestir se estiver se sentindo melhor _ela coça os seus olhos entre bocejos

_Ana, o Victor... ele se foi _falo mordendo meus lábios sentindo meu rosto quente e as lágrimas saindo dos meus olhos

_Eu sei... mas eu tô aqui com você, essa sensação vai passar logo _a mais nova se levanta para me abraçar

      Nunca pensei que estaria chorando como uma criança nos braços da minha irmã mais nova, e apesar de sua intenção ser boa eu me sentia culpada, desolada, aflita, angustiada, inquieta, tudo menos calma.

- 11.06.2017 | 08h22 -

       Depois de sair do hospital, eu havia pegado um metrô junto a minha irmã e iríamos nos encontrar com o nosso pai numa cafeteria próxima a estação.

      Pego meu celular para ver as horas e me surpreendo quando olho meu reflexo na tela do aparelho.
      Meu rosto aparentava exaustão e era possível notar certa vermelhidão na área dos olhos, indicando o tanto que chorei.

_Estou faminta, já que o papai vai demorar, podemos entrar na cafeteria e comer algo. Tenho certeza que vai ser melhor que a comida do hospital _diz minha irmã se espreguiçando enquanto saímos da estação de metrô e eu apenas concordo com a cabeça

      Meu corpo estava exausto, não consegui dormir nem dentro do metrô, ao contrário dela que capotou em meu ombro durante o percurso.

_Mas tenta não exagerar, o pai não gosta quando você come doces demais. Sabe disso _falo enquanto mexo no meu celular e ela bufa

_Sim, eu sei _ela sorri sutilmente com seus olhos redondos e amendoados, claramente a fim de levantar meu astral

_Não me olhe assim _forço meus lábios a forjarem um sorriso falso enquanto aperto as bochechas da mesma

      Atravessamos a rua chegando na cafeteria que se encontrava de frente para a estação.
      O dia não estava tão bonito como de costume, as nuvens escondiam o sol, resultando num temporal nublado e melancólico. Resumindo de forma ácida, o dia estava harmonizando bem com o meu humor.

_Preciso ir no banheiro, tem problema se você for fazer o pedido Mily? _diz Ana enquanto entramos no local

_Nenhum, pode deixar que eu faço _falo tentando tranquilizá-la

      Quando a mesma desaparece do meu campo de vista, eu solto um suspiro pesado.

•Em Busca da Verdade• {Duskwood}Onde histórias criam vida. Descubra agora