Capítulo 2

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Gente, fiquei tão empolgada que vocês já começaram a ler que estou publicando o capítulo 2 também, para vocês conhecerem o Leon😍❤️
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Leon

Nasci e cresci na periferia de São Paulo.

Heliópolis.

Esse nome ainda ecoa dentro de mim, como o badalar de um sino a me lembrar de um passado razoavelmente distante, mas muito presente na minha memória.

Heliópolis ganhou status de bairro em meados dos anos 2000 e passou a se chamar Cidade Nova Heliópolis.

Cidade do Sol.

Seu significado remete à origem grega da palavra - Heli (Sol)/Polis (cidade).

Não houve muitos dias ensolarados enquanto lá morei. As tempestades de dissabores que moradores de favelas conhecem bem não davam muita abertura para o sol aquecer o cotidiano penoso das famílias.

Da minha família, especialmente.

A família Pizzoli se estabeleceu em Heliópolis assim que a comunidade começou a levantar os primeiros barracos, na década de 70, após um assentamento ter sido realocado na Vila Prudente.

Meu avô, Jacopo Pizzoli (nome e sobrenome herdados de seu pai, um imigrante italiano), foi um dos primeiros moradores da área de mais de 1 milhão de m² a transformar a humilde casa de tábua em alvenaria. Vô Jaco era o pedreiro mais competente e criativo que a gigantesca Heliópolis conheceu. Até hoje, aos 83 anos, é citado por moradores mais antigos quando o assunto é reforma e construção.

No entanto, esse talento não pôde ser aproveitado em todo seu potencial. Vô Jacopo perdeu um dos braços, num acidente na obra de um predinho comercial (alguém não fixou o andaime como deveria, meu avô despencou de quatro metros de altura, a estrutura de sustentação caiu sobre seu braço direito, esmagando-o). Ele se aposentou aos quarenta e seis anos, passando a receber um salário mínimo.

O que era difícil ficou ainda pior.

Uma infância e uma adolescência de privações foi o que me deu as boas-vindas à ocasião do meu nascimento.

Um nascimento que nunca deveria ter ocorrido...

Sacudo a cabeça, retornando à realidade, ao escritório da minha cobertura tríplex no bairro dos Jardins. A voz de minha mãe repercute no espaço cuja decoração tem inspiração cubista - as forma geométricas, em variados tons de cinza, desenhadas na parede atrás da minha mesa, convivem em perfeita harmonia com os móveis de couro preto.

- Leon? Filho, você está nos ouvindo?

Foco minha atenção no meu iPhone, na chamada de vídeo que está em andamento com a minha família. Cogitei não os atender quando o celular começou a tocar. Mas isso só geraria preocupações. Não desejo que eles se preocupem comigo. Não desejo ser um peso em suas vidas. Sempre me empenhei para ser o oposto disso.

- Estou, mãe. Desculpe. Estava trabalhando num projeto. Minha cabeça está meio zonza.

- Hoje é 1º de maio, rapaz. É dia do trabalho, mas não dia de trabalhar, Leon Pizzoli!

Senhoras e senhores, conheçam o patriarca desta família, o homem que não tem papas na língua e tem a mente mais lúcida do que a minha, se bobear.

Estico os lábios, num meio sorriso.

Jaco Pizzoli, pelo jeito, está mais atacado do que seu habitual.

- Seu avô tem razão, querido. A gente se preocupa com você. Além disso, hoje é seu aniversário, Leonzinho. Parabéns, viu, querido? Que Jesus te abençoe. A vovó te ama muito.

O caminho até você [DEGUSTAÇÃO]Onde histórias criam vida. Descubra agora