CAPÍTULO 1 - O estranho Cowboy

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Prendo a mecha de cabelo loiro que tinha caído na frente do meu rosto, atrapalhando minha visão. Ando cuidadosamente entre as árvores tentando não pisar nas folhas secas e galhos que tinham no chão para não fazer barulho e chamar atenção desnecessária. Eu sabia que ninguém estava me procurando ou me seguindo, mas barulhos não atraiam apenas os vivos, mas também os mortos.

A adrenalina que corria por minhas veias todas as vezes que eu saia pela cerca me deixava entorpecida, não tinha medo de ser pega ou algo do tipo, mas não podia evitar amar como eu passava pelas cercas tão facilmente sem ninguém perceber. A segurança daquele lado do Santuário sempre ficou a desejar, mas não seria eu a contar a Negan o serviço precário que seus vigias faziam, até que realmente fosse necessário.

Negan era a única razão de eu continuar no Santuário, que não era um lugar muito receptivo. Santuário era o que parecia ser uma antiga fábrica, com paredes de concreto e escadas de metais, o que antes eram antigos escritórios e salas de reuniões tinham sido convertidos em quartos e lugar para armazenamento. Eu sei que meu pai tentou o máximo para que eu pudesse chamar aquele lugar de lar, e eu seria eternamente grata, mas o Santuário nunca chegou perto disso.

O único lugar dentro do Santuário que me deixava confortável era meu quarto, onde tinha algumas memórias boas. Quando eu era mais nova e Negan tinha tomado o lugar e se tornado o líder, ele vinha ao meu quarto me contar histórias para dormir e ficava lá até eu adormecer. Fez isso até meus 14 anos e então veio a adolescência e as responsabilidades.

Prendo a respiração e paro de caminhar quando escuto passos se aproximando. Os passos eram firmes, me fazendo ter certeza que não eram de um zumbi, mas sim de um humano que não tinha nenhum cuidado onde pisava. Rapidamente tiro a faca que estava presa no cinto e me coloco em posição, firmando os pés do chão e segurando com firmeza o cabo da faca, me preparando para lutar.

Viro meu rosto para os lados tentando descobrir de onde vinha o barulho, e vejo um vulto passar próximo as árvores a minha direita. Me abaixo um pouco e me aproximo de uma árvore, tendo a cobertura do tronco grosso conseguindo ver melhor sem estar exposta. A figura andando lembrava a de um rapaz, que andava devagar sem ter percebido que alguém estava olhando-o. Tinha cabelo até o ombro e usava um chapéu que lembrava os dos filmes de faroeste que eu costumava a assistir na televisão com meu pai, um verdadeiro cowboy.

Sigo cada passo dele e vejo quando ele começa a se aproximar de um chalé, que mesmo após o apocalipse continuava sendo gracioso. Eu sabia o que esperar dentro do chalé, pó e móveis velhos, mas ele claramente não sabia. Ele subiu a pequena varanda na frente do chalé com passos cuidados para não fazer barulho, como se agora fazer barulho ou não iria mudar alguma coisa, e foi em direção a porta e a abriu o mais devagar que pode para não ranger.

Assim que ele desaparece para dentro do chalé, deixando a porta aberta me levanto em silêncio e corre até lá. O rapaz estava de costas para a porta revirando a sala sem me notar enquanto me escondia atrás da porta, que abria para dentro, deixando um lugar perfeito para ficar fora de vista.

Ele tinha roupas limpas e em bom estado, as bochechas eram cheias e coradas, provavelmente não passava fome o que indica que ele tinha uma comunidade. O cowboy se vira seguindo o corredor que levava para cozinha, aproveito e saio de trás da porta e sigo pelo mesmo caminho, mas ao invés de entrar na cozinha me encosto na parede do corredor o olhando. O cowboy estava de costas para o arco que entrava pela cozinha, abrindo os armários atrás de comida.

Com cuidado guardo minha faca de volta para o lugar de onde pertencia e tiro a arma do cós da calça, passo pelo arco entrando na cozinha e ergo a arma na altura dos olhos a engatilhando. O som da arma chama atenção do rapaz na minha frente que fica com o corpo tenso na mesma hora. Ele respira fundo e devagar tira a mão da porta do armário e a leva para o próprio coldre, onde estava sua arma.

Pouco TempoOnde histórias criam vida. Descubra agora