CAPÍTULO 6 - Aniversário

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Passei o caminho todo até o Santuário tropeçando nos meus próprios pés, parecendo um caminhante e rindo do vento. Tenho certeza de que a volta do Carl para casa foi pior que a minha; o cowboy era muito fraco para bebida. Tive que ajudar ele a se levantar do sofá antes que pegássemos no sono ali mesmo. Fiquei na ponta dos pés para colocar seu chapéu em sua cabeça, rindo enquanto ele reclamava.

Eu estava tão perto naquele momento de Carl, que sua respiração batia em meu rosto e, por alguns segundos, fiquei imaginando como seria se eu me aproximasse mais e grudasse meus lábios nos dele, como seria a textura, se ele deixaria e retribuiria. Também me passou pela cabeça se ele já havia beijado alguém ou se eu seria a primeira a tocar aqueles lábios.

Mas foram apenas segundos, logo esquecidos pelos pensamentos atrapalhados por conta da bebida e por Carl ter caído para trás, voltando a se sentar no sofá.

O caminho foi mais longo e mais barulhento do que o normal, mas, cada vez que eu ficava mais próxima do Santuário, me sentia mais sóbria e alerta. Não poderia fazer barulho ou me encontrariam junto da minha passagem secreta para entrar e sair da antiga fábrica sem ser vista. As sombras do final da tarde, indo para o início da noite, ajudavam a me manter escondida entre as árvores e arbustos próximos à cerca, esperando o momento certo para passar pelo buraco que eu tinha feito.

O salvador que fazia a vigia naquele horário estava distraído, escorado na parede de concreto com os braços cruzados e a arma guardada no coldre, com os olhos fechados, sentindo os últimos raios de sol baterem no seu rosto. Sabendo que esse seria o meu momento, e agradecendo por eu ter deixado a mochila no chalé, dou uma corridinha meio agachada até a cerca, abro o espaço da grade que estava recortada e passo por ela. Suspiro e me viro rapidamente para fechar antes que o homem abra os olhos.

Me coloco de pé e tento imitar o olhar que meu pai faz quando alguém não faz seu trabalho direito, e dou alguns passos bem barulhentos, chamando a atenção do salvador, que abre os olhos assustado e se desencosta da parede quando me vê caminhando em sua direção.

— Que porra você acha que está fazendo? — digo em um tom irritado. — Você recebe pontos para vigiar e não para sentir o sol no seu rosto.

— Sim, senhora — ele tira a arma do coldre meio atrapalhado.

— Não me chame de senhora, seu idiota, eu tenho 16 anos — quase 17 anos, penso feliz.

— Sim, Louise.

Passo por ele sem olhar mais e, assim que viro para a direita, fazendo-o perder qualquer visão que tinha de mim, uma gargalhada sai da minha boca, fazendo meus olhos lagrimejarem; o cara estava se cagando nas calças.

Limpo meus olhos com a mão, agora rindo mais baixo, indo em direção à porta de entrada do Santuário, e vejo D parado em frente à mesma, com os braços cruzados, me olhando. Reviro os olhos sabendo o que estava por vir e, com paciência, apenas para irritá-lo, caminho mais devagar e tiro lentamente a carteira de cigarros do bolso junto do isqueiro. Puxo um cigarro e coloco entre os lábios, acendendo e, em seguida, guardando a carteira e o isqueiro no bolso.

Seguro o cigarro entre os dedos e assopro a fumaça sorrindo para ele, chegando mais perto. Ele sabia que eu fumava e isso nunca o incomodou, pois ele também fuma, e, nos dias bons, às vezes sentamos lado a lado para fumar. Mas, como ele estava com pressa, provavelmente para me escoltar até o escritório do Negan, pois hoje eu sabia que tinha chegado após o horário que geralmente chegava, e, se se aproximasse de mim o suficiente, sentiria o cheiro de bebida, e D com certeza conseguiria sentir.

— D — sorrio, dando mais uma tragada.

— Negan vai te matar. — Dou de ombros e passo por ele, indo para a porta.

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