O meu peito te atravessa, temporal...

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João Romania, ABR
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Eu estou na minha última aula exatamente agora. É sociologia, então não é tão chato assim.

A Vanessa me ignorou o intervalo inteiro, e olha que eu tentei conversar com ela o tempo todo, mas ela só se prendia no banheiro feminino e demorava mó cota para sair. Até com suas amigas eu andei conversando para saber o motivo do vácuo.

Ela sempre foi assim. Quando algo não está do jeito que ela gosta, ou ela surta e quer matar tudo e todos ou ela fica emburrada com aquele bico de pato para lá e pra cá.

Isso é muito chato e infantil, afinal não custa nada conversar comigo. Além de que se ela fosse mais madura, ela poderia pelo menos me dizer que não quer conversar, mas nem isso a menina faz. É um saco.

Paro de pensar na Vanessa e tento manter minha atenção na aula. Essa professora é bem legal e tem um jeito interessante de ensinar e isso facilita bastante na minha aprendizagem.

— João — Renan, meu melhor amigo desde sempre, sussurra chamando minha atenção — Estava pensando em sair mais cedo hoje, o que acha? Quer vir comigo?

Como estamos bem um ao lado do outro, é mais fácil que a gente se comunique.

— Não sei... Hoje era para ser um grande dia porque, tipo, é nosso último dia de aula do segundo ano e está tudo sendo uma bosta. Queria poder aproveitar hoje, mas vejo que nem tem o que desfrutar desse dia chato.

— Então isso é um sim? — Concordo rindo baixo. — Vamos ir para casa depois do segundo intervalo.

Hoje os portões estão abertos para quem quiser sair, mas ninguém pode entrar de novo. E não é como se alguém em sã consciência quisesse voltar para o inferno que é essa escola. Ficamos sem interclasse de fim de ano por conta que um guri retardado — Pietro o punheteiro — tacou fogo no banheiro masculino, ou seja, essa não é um bom exemplo de escola dos sonhos. Mas para não parecer injusto, ela tem sim seus pontos altos. Poucos, mas tem.

— Acho que vou ter que passar na fazenda dos Palhares. É que eu tenho que falar sobre meu emprego durante as férias, algum problema? — Pergunto, guardando algumas coisas no estojo.

— Eu não entendo isso de trabalhar durante as férias, João. Você ficou o ano inteiro lutando e estudando para cacete para se tornar o melhor aluno da sala, fez todos os trabalhos, cada atividade. Não sei como você ainda tem forças para viver, viu. — Ele olha o horário pelo celular. — Estou até surpreso que você aceitou sair mais cedo.

— Eu trabalho lá porque eu gosto, aquele lugar me acalma muito. E eu também posso fazer o que eu quiser lá, pois os Palhares me amam como se fosse neto deles. — Guardo as últimas coisas e também olho para o horário, porém, é no relógio de ponteiro logo acima do quadro.

— Você só vai comigo porque a Vanessa está te ignorando e você não quer ficar sozinho na escola, não é mesmo? Eu percebi já, João Vitor. — diz em tom brincalhão, mas, bem no fundo, eu sinto sinceridade em sua voz.

— Juro que não! Eu só queria conversar com ela e tentar entender o que a mesma está sentindo, sobre como nosso relacionamento está andando em sua perspectiva. Ela quer tudo, menos o que eu quero. É difícil namorar alguém assim que não sabe conversar e dizer sobre tudo. O Relacionamento é confiança e a parte mais importante para confiar em alguém é dialogando com a pessoa.

O sinal toca e Renan sussurra que vamos conversar sobre isso durante o caminho.

Pego minhas mochila e coloco nas costas. Saio da sala ao lado de Renan e eu juro que até eu fiquei surpreso quando, supostamente sem querer, esbarramos na Luiza e na Vanessa. Que merda, viu. Logo agora que eu não quero mais falar com ela.

SUPERNOVA ▪ Pejão (HIATUS) Donde viven las historias. Descúbrelo ahora