mãe, fica despreocupada...

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Pedro Palhares, ABR

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Saio do banheiro e João está deitado no chão, olhando para cima e sem camisa. Eu já estava vestindo algo confortável.

Os músculos de seus braços estão contraídos e sua expressão parece cansada. Seus olhos piscam muitas vezes e ele parece se esforçar muito para não acabar dormindo ali mesmo no chão. Sua respiração está calma e regulada, mostrando serenidade.

Assim que o mesmo percebe que eu estou dentro do cômodo, ele se levanta rapidamente.

— Sono? — pergunto como se não fosse óbvio. — Vai banhar. Ah, como você não colocou o colchão no chão, eu mesmo vou pegar e por aqui para eu dormir. Vê se não demora tanto pois quero todas essas luzes apagadas. Também estou cansado, foi uma viagem chata.

— Muitas informações, espera um pouco…  Você quer apagar as luzes para eu banhar no colchão que você vai dormir no chão? — Ele franze a testa e balança a cabeça de um lado para o outro, tentando processar tudo.

Ele balbucia mais algumas palavras incompreensíveis e suas pálpebras quase se fechavam de tanto sono. É quase como se ele estivesse bêbado. Ele parecia muito confuso e perdido nas minhas palavras, mesmo que eu não tenha dito tão rapidamente assim.

— Quê? — até eu fico perdido em minhas palavras pois, por algum motivo, elas não fazem mais sentido. — É, é isso aí! Vai lá tomar banho, João. — Empurro ele para a porta do banheiro e entrego outra toalha, uma que estava em minha mala, já que a dele estava com lama também. Para ser sincero, está quase tudo coberto por lama  e tenho certeza de quem vai limpar essa lameira toda. Isso mesmo, eu.

Coloco meu celular para carregar e me deito no colchão no chão para dormir.

Acordar com o sol na sua cara, não é nada legal. Que merda, eu achei que tinha fechado as cortinas. O raios de sol iluminam o ambiente, deixando tudo bem alegre e cativante. Apesar de não querer acordar tão cedo assim, tenho que admitir que aqui é muito bonito.

Por que parece que o sol amanheceu mais cedo aqui no interior do que na cidade grande? Tenho a sensação de que, aqui em Américo, tudo é mais colorido.

Levanto do colchão, que eu coloquei no chão na noite passada, bocejando e me espreguiço com dificuldade. Minha cabeça está pesada e mal consigo abrir os olhos. Olho para a cama ao lado e lá está ele, o João. Ele está sem nada para lhe livrar do frio que fez, sem nenhum cobertor.

Eu, particularmente, morri de frio ontem, mas ele parece ser do tipo que é um forninho de tão quente e calorento.

Vou em direção a minha mala e pego uma camisa preta básica, sem nenhuma escrita sequer, também pego uma bermuda jeans clara e um moletom na mesma tonalidade da camisa. Escovo os dentes, tomo banho, lavo o rosto e passo protetor solar antes de sair do banheiro. Entro no quarto novamente para passar um pouco da minha colônia favorita e aproveito para observar João dormindo calmamente. Sorrio sem ao menos notar. Antes de sair, deixo uma roupa separada para João para que ele troque e use algo mais confortável.

Desço as escadas e passo pelo corredor dos quartos de hóspedes do andar de baixo. Chego na cozinha e já posso sentir o aroma do café da manhã que me espera.  O cheiro tentador do café que só meu avô sabe fazer perfeitamente, adentra meu olfato fazendo eu lembrar de alguns certos momentos de quando eu era mais jovem.

Vou saltitando até a cozinha e consigo ouvir apenas o som dos pássaros cantando lá fora. Eu morri? Este é o paraíso? Se sim, não me tirem daqui nunca…

SUPERNOVA ▪ Pejão (HIATUS) Donde viven las historias. Descúbrelo ahora