tenho a minha própria caminhada...

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Pedro Palhares, ABR

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É uma droga mesmo. Eu mal cheguei e já tem uma tempestade dessas?

Teve um apagão aqui e minha mãe, junto com meus avós, foram buscar velas no depósito e me abandonaram sozinho nesse escuro assustador e frio insuportável. Meu celular está descarregado e não tenho nenhuma lanterna em mãos.

O som da chuva batendo na janela é alto e ecoava pela casa inteira, deixando a atmosfera um tanto quanto assustadora. E enquanto escuto sons de trovões e vejo alguns relâmpagos noto a presença de alguém na porta, a luz lá de fora faz com que uma sombra um pouco alta esteja eminente.

Obviamente fico assustado com a aparição de alguém assim do nada. Ainda mais nessa chuva estrondosa! O vento lá fora uivando me deixava com mais medo ainda, era como um choro de lamentação, só que muito mais agudo.

Percebo que a figura se aproxima mais da porta e até consigo escutar seus passos. Ainda não está tão tarde da noite, mas está em completo breu. Sem sequer notar me levanto do sofá onde estava sentado, coloco meu celular em um canto qualquer e um misto de coragem e medo me domina por completo. Meu coração martelava meu peito como nunca e eu tentava lutar com a ansiedade dentro de mim, uma missão quase impossível.

A adrenalina pulsava em minhas veias e em um ato de agilidade coloco a mão na maçaneta e abri rapidamente a porta. Mesmo com as mãos tremendo e com minhas pernas vacilando, pulo em cima do suposto invasor.

Nós dois caímos no chão, mais precisamente, na lama. Sim, eu consegui a proeza de nos jogar para fora da varanda e nos atirar na lama.

O impacto da queda fez um grande barulho, confesso, mas a pessoa continua em silêncio. Estou por cima dele, estou realmente desconfortável aqui, mas é para proteger a propriedade da minha família. Não saio de cima dele até que haja uma explicação.

— Quem é você e o que você quer?

Mantenho meus joelhos no chão, tomando as rédeas da situação enquanto prendo suas duas mãos contra o solo frio, molhado e lamacento. O silêncio dele deixa o ambiente bem mais constrangedor, sem contar suas mãos tremendo que encostam nas minhas. O contato físico com ele é diferente, cada músculo meu se contrai e fica tenso. Cada respiração contida contribui para uma atmosfera completamente torturante. O silêncio ainda paira como um véu invisível sobre nós, pois mesmo vendo tudo ao meu redor e sabendo onde estou, é como se o mundo estivesse desaparecendo ao nosso redor, deixando apenas a presença intensa e crua da angústia.

O homem começou a tentar se mover embaixo de mim,  mas o mantive preso. Tarefa meio difícil, ele é um pouquinho forte demais.

Um relâmpago rápido ilumina seu rosto, um adolescente uniformizado, bem bonito e com uma boca bem bonitinha.

Ai droga, que ladrão bonito.

— Quem é você, seu retardado? — Ele me joga de lado me fazendo sair de cima e caindo na lama. — Está achando que eu sou o que, em?

— Seu louco, você me jogou na lama! — Levanto do chão e tento limpar minha camisa branca, que agora já não é tão branca.

— Você me derrubou primeiro, idiota. Olha só… — ele tenta limpar seu uniforme enquanto ainda está caído no chão, missão falha.

— Claro! Até parece que eu ia deixar você…

De repente, uma luz forte de uma lanterna que ilumina nossos rostos e nos faz olhar diretamente para a iluminação. Algo meio imprudente, afinal meu olho arde instantaneamente.

SUPERNOVA ▪ Pejão (HIATUS) Donde viven las historias. Descúbrelo ahora