com todo seu carisma que cativa...

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Pedro Palhares, ABR

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Depois de tantas insistências do meu avô, acabei cedendo e fui ajudar com os animais. Não que eu tivesse medo deles, mas a verdade é que não estava acostumado a lidar com tantas tarefas e criaturas ao mesmo tempo. E, convenhamos, a preguiça estava me dominando. Depois da conversa com minha mãe, eu só queria voltar para a cama e dormir.

Meus avós e pais sempre comentavam que, quando eu era pequeno, era o primeiro a acordar durante as visitas à fazenda. Eu corria para ver os animais antes mesmo do meu avô. Havia uma conexão especial entre nós, algo que parecia se perder ao longo dos anos. Agora, ali estava eu, tentando resgatar um pouco daquela magia.

— Olha, vô, eu não sabia que cuidar de tantos animais era tão trabalhoso! — eu disse, esfregando as mãos nas calças sujas de terra. O sol estava forte e a preguiça ainda batia na minha cabeça, mas a companhia do meu avô tornava tudo mais leve.

— Ah, Pedro, você vai ver que é só uma questão de se acostumar! — ele respondeu, com um sorriso que mostrava aquelas rugas de quem já viveu muitas histórias. — Lembra quando você era pequeno? Era você quem chamava todos os bichos para brincar!

— Lembro sim… Mas eu acho que agora eu prefiro a cama. — Eu ri, mas no fundo, sentia uma pontada de nostalgia. A conexão que eu tinha com os animais parecia ter se perdido um pouco, ao mesmo tempo, eu ainda me sinto muito bem perto deles

Vi João se aproximando de meu avô e ajudando ele com alguns sacos de ração; acho estranho pois ele já tinha ido para sua casa, mas prefiro não dizer nada e apenas observar ele chegando. Ele sempre teve um jeito fácil de lidar com os animais e uma risada contagiante que fazia tudo parecer mais divertido.

— E aí, Pedro! Vem ajudar a gente? — ele perguntou, com um brilho nos olhos.

— Ajudar? Eu estou ajudando! — respondi meio brincando. — Só não estou tão animado quanto você.

— Ah, vai dizer que não gosta de ficar aqui fora? — ele provocou.

— Eu gosto… só estou me readaptando. — Falei com os olhos entreabertos, por conta do sol, enquanto tentava espantar uma mosca que estava insistindo em me irritar.

— Você sempre foi o melhor em cuidar deles de acordo com seus avós! Vou te ajudar a recuperar essa habilidade. — João sorriu e começou a arrumar as coisas ao nosso redor.

Enquanto trabalhávamos juntos dentro de um celeiro, que era usado como depósito e que meu avô nos abandonou — provavelmente foi descansar, ele mereceu depois desse dia exaustivo —, percebi como ele estava à vontade com toda a minha família. Era como se fossem da mesma família e dividia-se o mesmo sangue. Mas sei que para serem tão conectados assim, as únicas coisas necessárias eram a convivência e amor verdadeiro. Isso eles tinham de sobra, já eu...

— Você está sempre aqui ajudando? — perguntei, tentando disfarçar um pouco da minha insegurança.

Estou sentado em uma cama de grama seca e observo cada movimento do garoto.

— Sim! Gosto de vir para cá. É como se fosse uma segunda casa para mim. — João respondeu com um brilho no olhar e carregando um grande saco em seus ombros — E seus avós são incríveis!

— Eles são… só… é estranho ver você tão próximo deles. — Eu disse sem pensar muito.

Ele me olhou surpreso, mas logo sorriu novamente.

— Entendo. Mas sou apenas um amigo deles! E quem sabe um dia você também pode ver isso dessa forma.

Por que ele não parece guardar nenhum rancor da noite passada? Se ele tivesse me empurrado na lama, eu ficaria extremamente bravo, porém ele parece não se importar nem um pouco.

Aquelas últimas palavras ditas por sua boca ficaram ecoando na minha mente enquanto continuávamos — apenas João — a trabalhar. A tarde passou rápido entre risadas e cuidados com os animais. Quando finalmente terminamos, eu estava exausto, mas feliz.

— Vou te contar um segredo… — João disse baixinho enquanto caminhávamos de volta para casa. — Eu também tinha medo de não ser aceito por vocês no começo. Após a morte do meu avô, como eu te disse noite passada, seu avô se afastou de tudo, inclusive de mim. Eu, por algum motivo, me culpei muito e por bastante tempo. Só uns três anos após a morte do vovô que eu consegui voltar a fazer visitas frequentemente.

Eu parei e olhei para ele. Havia algo ali que me deixava intrigado e confuso ao mesmo tempo.

— O que você quer dizer com isso? Por que se chuparia por algo assim, João?

Ele hesitou por um momento antes de responder:

— Às vezes é difícil entender como as coisas funcionam… especialmente quando se trata de sentimentos.

Eu não sabia o que dizer. Sentimentos? O que ele queria dizer com isso?

Então, quando o sol começou a se pôr, tingindo o céu de laranja e rosa, com João ao meu lado tudo parecia diferente; seu corpo transmitia um calor muito bom. Olhei para ele estranhando meus pensamentos, então ele sorriu e comentou sobre como os animais pareciam mais felizes hoje. Aquela simples frase fez meu coração acelerar um pouco.

O cheiro da terra fresca ainda pairava no ar após a chuva da manhã, e a brisa leve acariciava nossos rostos. Agora, a única coisa que ouvíamos era o canto distante dos pássaros e o sussurrar das folhas nas árvores. Como pode um lugar tão bonito?

João andava um pouco à frente, com as mãos nos bolsos, olhando para o chão. Eu o seguia, absorto na beleza ao nosso redor. As plantações se estendiam como um tapete verde até onde a vista alcançava, e as flores silvestres coloridas pontuaram o caminho, como se quisessem nos cumprimentar. O céu estava tão bonito que eu quase me esqueci do cansaço do dia. Tudo aqui brilha forte.

Enquanto caminhávamos em silêncio, pensei em como aqueles momentos simples eram especiais. Não precisávamos de palavras; a natureza falava por nós. Pareço um louco falando isso?

João parou e olhou para mim, como se tivesse percebido meu devaneio. Ele fez um gesto com a cabeça em direção ao horizonte, onde as montanhas começaram a se esconder na escuridão.

— Vai ser uma noite boa. — ele disse finalmente, quebrando o silêncio de alguns minutos. Concordei com um aceno, sentindo que ele também estava apreciando aquele momento.

Não era tanto tempo até chegarmos em casa, mas meu avô nos deixou sozinhos em uma parte mais afastada do local; o celeiro.

Continuamos nossa caminhada, agora com um pouco mais de leveza no coração. A beleza de Américo Brasiliense nos envolvia, e eu sabia que aqueles eram os pequenos momentos que fariam parte das nossas memórias para sempre. Ao chegarmos perto de casa, as luzes começaram a acender nas janelas, e a sensação de lar me acolheu como um abraço quente.

Enquanto nos aproximamos da porta, olhei mais uma vez para trás. O céu estava agora envolto em estrelas brilhantes. A natureza tinha seu próprio jeito de nos lembrar da simplicidade da vida e da alegria que ela poderia trazer.

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To quase virando camiseta de saudade
Mas e vc, como estão? Me digam.
Espero que estejam bem!

Nunca sei o que dizer nesse final.

Enfim, vote e comente para
me incentivar a continuar!! :)

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⏰ Última actualización: Aug 21 ⏰

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