CAPÍTULO 1 - JUNTOS

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Eu sempre tive um certo fascínio por igrejas, com seus grandes salões bem iluminados e os bancos de madeira maciça que traziam um certo desconforto. O altar, com suas velas enormes e antigas, com, muita cera derretida na base. Quando criança, eu pensava que talvez as velas já viessem assim de fábrica. E, claro, a grande cruz em destaque, como um lembrete do porquê estamos aqui, do porquê nos ajoelhamos. Sempre me impressionou como tantas emoções cabem em um lugar assim. Hoje, só há tristeza. Logo abaixo do altar e das grandes velas, não tínhamos flores ou a imagem de algum santo; hoje, tínhamos o caixão do meu pai.

O padre dizia palavras bonitas sobre como meu pai era um homem gentil e bom. Ele realmente era, mas o padre não tinha como saber disso de verdade, pois não o conhecia. Sempre me pergunto se em todo funeral ele repete as mesmas coisas, sem considerar quem realmente era a pessoa no caixão. Ela foi boa com os outros? Fazia caridade? Ele não tinha como saber em todos os casos, mas ainda assim dizia que eram pessoas gentis e boas.

Meus olhos ardiam. Se me olhasse no espelho agora, teria certeza de que estariam vermelhos. Doug estava ao meu lado no banco duro da capela. Haviam poucas pessoas, todas conhecidas minhas. No fundo, perto da porta, estava uma mulher de cabelos curtos e óculos redondos, era Claudia, uma amiga de infância do meu pai. Ele adorava tomar um descafeinado com um brownie na cafeteria dela. No banco ao lado estava Flint, o aluno favorito do meu pai nas aulas de literatura, agora com uma farda e um distintivo do departamento de perícia da cidade de Greenrills. Olhando para ele, me pergunto o que um perito precisa fazer em uma cidade tão pequena e pacata como essa. O último grande alvoroço foi a morte espontânea de uma senhora que vivia a duas ruas acima da capela. Após uma investigação, foi divulgado que ela faleceu de causas naturais. A neta dela passou um tempo na cidade, mas logo desapareceu, deixando a casa aos cuidados do tempo. Havia outros rostos conhecidos também, o que é comum em uma cidade pequena, todos se conhecem, alguns com mais afinidade que outros.

Eu odiava cada segundo ali, odiava respirar aquele ar com cheiro de verniz e incenso. Olhei para o lado e vi que Doug não tirava os olhos dos próprios pés desde que nos sentamos e a cerimônia começou.

— Ei Doug, estou com fome. Que tal irmos na cafeteria comer um croissant quentinho? — Ele finalmente desfixou o olhar dos sapatos recém-polidos e assentiu com um gesto.

Me levantei, peguei sua mão e fomos embora. Fizemos uma reverência ao altar e nos retiramos.

Ninguém nos impediu de sair. Quem impediria? Os irmãos coitados, abandonados pela mãe e agora com o pai morto. Meu carro estava estacionado no meio-fio em frente à capela. Tateei meu bolso, retirei a chave canivete com a logo da Ford e a inseri na porta do motorista. Meu irmão entrou no banco de trás, dei partida e seguimos. Greenrills nunca mudava. Não havia casas novas desde os anos 80. Acredito que não há moradores novos desde então também. A cafeteria ficava a cinco quadras da capela, em uma avenida mais movimentada onde os comércios se concentravam. Havia algumas butiques, lojas de suvenires e lojas de artigos religiosos, apesar de haver apenas uma única capela na cidade toda. Sinalizei para a direita e manobrei o carro no meio-fio novamente.

— Chegamos. Vamos lá. — Não estava animado, pois não queria enganar meu irmão em uma situação dessas. Nosso pai morreu, ele precisava sentir o luto também, mesmo tendo dez anos. Antes mesmo de entrar, já era possível sentir o cheiro de pão recém-assado e cappuccino. Nos sentamos em uma mesa livre no canto, longe do balcão, por preferência. Ficava próxima de uma janela que me fornecia uma vista bonita da natureza abundante da cidade. Não demorou muito até a garçonete vir até nós.

 Não demorou muito até a garçonete vir até nós

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