Capítulo Dezessete

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Yunah sempre se vangloriou por ter uma boa memória.
Essa característica sempre a ajudou e trouxe inúmeros benefícios para seu desenvolvimento no trabalho.

Mas agora era diferente.

A informação que sua mente processava e trazia à tona durante a semana inteira, não era a que queria receber.
Fazia tempo desde a última vez que havia entrado em um relacionamento, mal tinha tempo para sair e, talvez, isso justificasse o impacto que a cena de Yoongi tomando banho causava em si.

Apesar de ser errado em diversas formas e ela saber que o que tinha visto era algo que deveria ser comum, sua cabeça não processava da mesma forma.
Achava Yoongi um homem bonito desde o princípio, não podia negar, mas existiam muitas questões que blindavam essa sua opinião; sua profissão, a razão por ele estar lá, o ambiente que os cercavam. Tudo era um motivo para ofuscar o que via em sua frente. Entretanto, após o fatídico episódio, os motivos já não pareciam mais o suficiente e isso estava a enlouquecendo.

Não era como se ela não o visse como um homem. Mas era difícil compreender como ele havia se tornado mais atraente aos seus olhos.

Era pavorosa a sensação de estar possivelmente atraída por alguém naquela situação.
Qualquer passo em falso, poderia fazer com que tudo saísse completamente do rumo que deveria seguir e poderia até arruinar sua carreira.
Havia decidido que, após a reação do paciente com relação ao seu retorno, agiria de forma completamente profissional. Tinha tudo organizado em sua mente, porém, mais uma vez, via seus planos se esvaindo em seus dedos, como a água que caía do chuveiro e molhava as costas largas do homem que não saía da sua cabeça.

Yunah lavou o rosto, pela segunda vez no dia, tentando se concentrar em suas tarefas.
Sabia que precisaria estar preparada para atender Min Yoongi naquele dia, sem deixar transparecer qualquer falha em seus atos.
Por mais que imaginasse que encará-lo seria difícil diante de tudo que sua mente reprisava, contava com a sorte do paciente estar mais calado que o normal desde seu retorno e agradeceu aos céus por isso. Teria tempo para processar internamente seus sentimentos, sem que ele instigasse qualquer nosso deslize de sua mente sedenta.


Em contrapartida, Yoongi estava sentado em sua cama, pensativo, enquanto aguardava o horário de sua consulta.

Desde o sonho com seu irmão, sentiu algo dentro de seu peito que passou a incomodá-lo.
Parecia ter sido tão real todos os conselhos e conversas. Era quase como se tivesse realmente falado com ele e ouvido exatamente o que precisava ouvir.


"A vida é para se viver, deixa a morte para quem já morreu." A frase se repetia em sua cabeça como num mantra.
Sentia que era injusto o simples pensamento de viver enquanto sua família, por sua causa, não podia fazer o mesmo. Mas algo naquela conversa, parecia real, um recado que tinha como objetivo chegar até ele.

Tinha muitos sentimentos mal resolvidos em seu coração que não conseguia organizar e, com sua suposta nova obsessão por uma determinada doutora, percebia cada vez mais sua falta de controle.

Podia pedir ajuda a ela, afinal, era para isso que estava ali. Mas como explicaria sem parecer um maluco?

Suspirou, frustrado, passando as mãos nos fios compridos de seu cabelo, inclinando seu tronco e apoiando os cotovelo nos joelhos.

Além de maluco, também sabia que havia sido um idiota em sua ultima consulta. Foi do mudo ao grosseiro durante todo seu tempo com ela e tinha consciência disso, por isso se culpou a semana toda.
Independente do que aconteceria com relação aos sentimentos que alimentava em seu peito, de nada justificaria a falta de tato com ela. Apesar de ser automático, talvez uma resposta inconsciente do seu corpo para tentar afastá-la, não queria tratá-la assim. Muito pelo contrário, e o fato de não poder tratá-la como realmente queria, não significava que precisaria ser um completo ignorante.

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