Capítulo Um

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Matheus Salvattore


"Não podemos nos deixar levar pela emoção, precisamos manter a mente clara e focada."

Flashback | Anos atrás

Não vejo nenhum problema em ter nascido na máfia, até aprecio o poder, e o fato de ser conhecido, inclusive ser temido por todos. Estava ansioso por treinamento, para mim seria como nas lutas de MMA e vivia sonhando em começar o treinamento. No entanto, minha percepção mudou a partir do momento em que comecei o treinamento aos onze anos, esperava algo semelhante à preparação dos lutadores que via em filmes e séries. Até brincava com Daemon, dizendo que o venceria em nossa luta.

Mas após três meses de treinamento intenso, já havia perdido a conta de quantas costelas e ossos fraturei, e foram tantos que não pude mais contar. Era um inferno todo aquele treinamento, os únicos momentos de paz eram quando Ana e meus irmãos estavam por perto.

A iniciação começou de verdade, passei a evitar que eles vissem os meus inúmeros machucados. E isso se tornou praticamente impossível, já que estava cada vez mais brutal, e ainda ficou pior, pelo simples fato de eu me recusar a matar.

As únicas pessoas na família que sabiam tudo pelo que eu passava nos meus treinamentos de verdade eram Daemon e Ana. Conhecer esse meu lado obscuro causou muitos danos físicos e psicológicos a eles. Para não causar mais transtorno, escondia dos outros tudo o que eu passava e fazia o possível para manter sua inocência, principalmente a pequena Antonella, que era nossa Princesinha.

O meu problema não era a máfia, o meu único problema tinha nome e sobrenome: Vincenzo Salvattore. Um ser inescrupuloso, oportunista e sádico, que vivia agindo de forma cruel e inconsequente até mesmo com a sua família. A nossa relação não era das melhores, e ele sempre tentou de alguma maneira me manipular.

Sendo o seu primogênito e herdeiro, eu fosse a sua cópia. Ele constantemente mostrava que seus herdeiros seriam os melhores sucessores da Cosa Nostra nos Estados Unidos e da Itália.

Naquele momento, Ana era minha madrasta, e desde o início do seu casamento com Vicenzo escondeu muitas das suas agressões sofridas. E, infelizmente, só passei a perceber quando comecei o treinamento, como forma de proteção, já que ela escondia de todos os ataques sofridos.

Ana também é parte da minha família, muito antes de ser madrasta, é minha tia, irmã mais nova de minha mãe Sophia. Ana é única, uma mulher doce e gentil, e me criou como pode como filho do coração, depois da morte da minha mãe.

Não consigo contar quantas vezes o sentimento de raiva intensa, seguida de uma enorme vontade de me rebelar contra ele, quis emergir. Contudo, nos ensinaram a respeitar os pais e, ainda por cima, ele era o meu Capo, com total liberdade para fazer o que bem entender.

Eu nunca tive outra escolha a não ser obedecer, sem espaço para questionamentos, sempre fazendo tudo o que ele ordenava. Agredia os devedores e lutava com uma selvageria e brutalidade, e sempre resiliente.

Entretanto, havia um limite que estava hesitante em cruzar: o assassinato. E isso foi o estopim para que Vincenzo começasse a desgostar de mim, a recusa em matar. E para piorar, cada vez mais o treinamento tornava-se intenso e cruel.

Hoje seria apenas mais um dia, respirei fundo, confuso quanto ao motivo de ser convocado ao quarto dele. No santuário do demônio, minha presença só era permitida quando minha mãe adotiva estava sozinha. Pois, ele não apreciava visitas minhas ou dos meus irmãos. Não existia um motivo plausível, por não haver nada proibido dentro do quarto. A questão era que ele preferia manter um controle absoluto sobre tudo e todos.

Sob o Olhar Frio Do Capo-BetaOnde histórias criam vida. Descubra agora