Capítulo 139

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Capítulo 139: Memórias

Naquela época, ele usou a força?

Dois em cada quarto, mas apenas um pode sair vivo.

Você escolheria matar o outro?

Essa era uma questão que Chi Qing havia refletido inúmeras vezes durante muitas noites.

Sete dias.

Tempo suficiente para mudar uma pessoa.

Chi Qing lembrava claramente que, no primeiro dia, o colega de quarto que usava óculos apenas tremia. Assim como quando chegou, ele se encolhia no canto e perguntava, com a voz trêmula: "O que vamos fazer?"

Ele estava à beira das lágrimas, como se já tivesse visto seu destino final: "Eu quero voltar para casa. Minha mãe está me esperando com meu prato favorito, costelas de porco agridoce. Quando poderei voltar para casa? Eu não aguento mais... Eu vou morrer, vou morrer."

No segundo dia, o rapaz de óculos falava menos. Passava a maior parte do tempo olhando fixamente para algum lugar, às vezes para a parede, outras para o chão irregular, ou para a porta entreaberta, atrás da qual havia apenas escuridão. Mas aquela porta não oferecia esperança alguma.

Chi Qing tinha sono leve e acordava várias vezes durante a noite.

Uma noite, ao abrir os olhos lentamente, percebeu que o rapaz de óculos não estava mais olhando para outro lugar.

Desta vez, ele estava olhando para Chi Qing.

No ambiente escuro, ele estava de frente para Chi Qing, os olhos abertos, fixos nele, sem piscar.

Chi Qing não conseguia confirmar se ele estava apenas perdido em pensamentos.

Porque aquele olhar lembrava o de uma fera esperando pacientemente pelo momento certo para atacar.

O isolamento acústico não era bom. Conversas não eram audíveis, mas gritos podiam atravessar tudo.

Na terceira noite, por volta das duas da manhã, todos ouviram o primeiro grito desde que o homem disse "o jogo começou".

O grito foi acompanhado pelo som de algo pesado batendo.

"Ah—!"

Parecia que alguém estava batendo a cabeça na parede.

Ou sendo forçado a isso.

A pessoa gritando tentou falar várias vezes, mas só conseguia emitir sons inarticulados, logo abafados pelo barulho das pancadas.

Todos ouviram, ninguém falou.

Mas todos sabiam que, após aquela noite, muitas coisas mudariam.

Não havia facas, cordas ou pedaços de madeira no quarto, mas se quisesse matar alguém, havia muitas maneiras.

Chi Qing não duvidava que naquela noite não apenas a pessoa que gritou havia morrido. Certamente, alguém foi estrangulado ou sufocado, morrendo sem emitir um som.

Ninguém dormiu naquela noite.

No meio da noite, o rapaz de óculos perguntou: "Você me mataria?"

Chi Qing ainda não tinha uma mania severa de limpeza, mas gostava de manter-se mais limpo que a média. Ele economizava a água potável para lavar as mãos.

Muito tempo depois, quando parecia que o assunto havia sido esquecido, Chi Qing respondeu.

"Não."

Chi Qing não atacaria, mas também não permitiria que o atacassem.

No meio da noite, ele sentiu uma sufocante falta de ar. A sensação de asfixia o despertou, e as mãos em seu pescoço apertavam com força — quando pressionadas ao extremo, as pessoas escolhem métodos simples e brutais, sem paciência para planejar algo que pareça uma morte "natural". Só pensam em uma coisa: "Matá-lo."

Cada célula gritava isso.

Mate-o.

Mate-o.

...

Morra logo.

Chi Qing estava em desvantagem, incapaz de se mover ou respirar.

Com sua última força, levantou o joelho, acertando o abdômen do oponente. Sentiu as mãos em seu pescoço afrouxarem e, aproveitando o momento, puxou um pauzinho afiado que havia escondido debaixo do colchão.

Chi Qing pressionou o pauzinho contra o pescoço do rapaz de óculos: "Solte."

Ele hesitou.

Chi Qing: "Ou tente ver se eu morro mais rápido que você."

"Eu não quero morrer," o rapaz começou a chorar, lágrimas caindo de seus olhos. "... Desculpe, estou apenas com muito medo. Não quero morrer."

Chi Qing relaxou um pouco a força nas mãos. Ele estava prestes a dizer algo, quando o rapaz de óculos de repente se lançou sobre ele, seus olhos vermelhos de fúria.

Mas o destino, muitas vezes, prega peças.

Chi Qing realmente não esperava que ele atacasse. O pauzinho foi tomado, mas enquanto os dois caíam, o rapaz acidentalmente o cravou na artéria carótida.

Chi Qing caiu de costas no chão, o rapaz de óculos sobre ele, olhos arregalados.

Tudo ficou vermelho.

Os óculos caíram, o sangue jorrava.

"Uma semana se passou," o homem abriu a porta de ferro exatamente sete dias depois, "deixe-me ver... quem sobreviveu."

Naquele momento, Chi Qing pensou que esse era o propósito final.

No entanto, ele não esperava que esse jogo de sete dias terminasse assim.

As pessoas que sobreviveram foram automaticamente divididas novamente em pares, misturadas e trancadas em quartos diferentes dos anteriores.

Mais sete dias começaram.

Os olhos de Chi Qing foram vendados enquanto ele era levado para um novo quarto.

Desta vez, o garoto no quarto tinha uma personalidade completamente diferente do anterior com óculos. Ele estava sentado quieto em um dos leitos, e quando viu Chi Qing entrar, levantou educadamente os lábios em um leve sorriso e disse: "Olá."

O quarto dividido em pares desta vez não era tão comum, pois ninguém sabia como o outro havia "sobrevivido".

Todos diziam que não haviam matado ninguém.

E ninguém ousava realmente fechar os olhos para dormir.

Chi Qing continuava a conjecturar o propósito final daquela pessoa: se as coisas continuassem assim, então as crianças que ele havia capturado com tanto esforço acabariam morrendo uma a uma... O que ele queria afinal?

Será que ele queria apenas ver eles se matarem mutuamente?

Chi Qing continuou pensando: como isso terminaria?

— No final, deveria restar apenas uma pessoa.

Quando Chi Qing estava quase exausto mentalmente, ele ouviu alguém bater algumas vezes na parede, transmitindo uma mensagem para ele.

Algo que ele e Xie Lin nunca haviam discutido.

Assim como a frase do chefe hoje, "como vocês sobreviveram?", ele não soube responder de imediato.

...

E Xie Lin?

Como Xie Lin sobreviveu?

Naquele momento, ele agiu?

— "Bip bip!"

O táxi chegou, e os faróis atravessaram a neblina cinzenta da chuva, iluminando Chi Qing.

Em seguida, o motorista abaixou a janela e perguntou: "Foi você quem chamou o carro?"

Chi Qing fechou o guarda-chuva e, voltando a si, respondeu: "Sim."

PERSONALIDADE PERIGOSA [BL]Onde histórias criam vida. Descubra agora