Capítulo 3: Confissões de Maria

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Enquanto os risos e a alegria de Sofia preenchiam as salsa de aula da Escola Municipal Mario Quintana, do outro lado da cidade, Maria vivia um momento de dor e desabafo. As manhãs eram difíceis, mas aquele dia parecia particularmente pesado. A noite anterior de trabalho tinha sido muito complicada: os clientes exigentes demais e o dono da boate, autoritário. Com os filhos na escola, Maria tinha um raro momento a sós com Inhá, sua velha amiga e mãe de coração.

Sentada na cozinha simples, Maria não conseguia segurar as lágrimas. Desabou no colo de Inhá, deixando que a dor e as lembranças do passado inundassem seu coração. Inhá, com a paciência e sabedoria que a vida lhe deu, acariciava os cabelos de Maria, oferecendo o consolo silencioso que só uma mãe de verdade consegue dar.

- Minha menina, deixa sair essa dor- dizia Inhá, suavemente, enquanto Maria chorava copiosamente.

As memórias de Maria voltavam como um vendaval. Ela tinha apenas onze anos quando Inhá a resgatou das ruas. Vivia em companhia de sua mãe biológica, uma mulher que, em vez de carinho, só sabia lhe oferecer espancamentos. Até que, um dia, Maria cansada de apanhar, por um impulso, fugiu. Vagou sem rumo por dias, dormindo em becos e praças e comendo os restos que encontrava aqui e ali. Ela não entendia porquê, mas uma força a impelia a seguir sempre em frente e ela continuava fugindo.

Foi durante uma atividade do terreiro que Inhá a encontrou: todos os domingos, os membros da Casa de Ogum, o terreiro que Inha frequenta até hoje, se reúnem para preparar refeições, com todo amor e carinho, e as levam para doar aos moradores de rua da cidade. Foi num destes momentos que Inha encontrou Maria suja, maltrapilha e faminta. Imediatamente, seu coração generoso se apiedou e foi de encontro a criança. Arredia, num primeiro momento, Maria se soltou aos poucos e conversou com Inhá.

Enquanto se alimentava, Inha foi com.swu jeito de mãe, a indagando sorrateiramente até descobrir que a criança fugira da mãe agressiva. Inha sonhava em ter filhos, mas não conseguia engravidar e " Deus, como é sábio nos seus desígnios, sabia o motivo" - ela pensava e não questionava. Após ouvir a criança, a negra a convidou para conhecer sua casa e se hospedar nela, por um tempo. A menina se assustou e teve medo. Mas, Inha com.seu olhar doce e braços abertos a convenceu. E daquele dia em diante, Inhá, João ( o marido) e Maria se tornaram uma linda família.

A vida com Inha e seu marido João foi um oasis de amor e segurança. João, um umbandista devoto, trabalhava em uma oficina mecânica, enquanto Inhá, cujo o verdadeiro nome era Maria de Lourdes, ganhava a vida como faxineira em casas de família. A simplicidade de suas vidas era compensada pelo imenso amor que ofereciam a Mariazinha - era assim que eles a chamavam. Ela finalmente pode frequentar a escola e andar limpinha, sentindo-se verdadeiramente amada.

Mas a felicidade plena durou pouco. João, já idoso, faleceu, deixando Inha e Mariazinha sozinhas. Com o salário de faxineira não dando para pagar as contas, Mariazinha, aos dezesseis anos, decidiu arrumar um emprego. Trabalhou em tudo o que conseguiu, mas a rotina extenuante a obrigou a abandonar os estudos. Com o passar dos anos, a saúde de Inhá foi se deteriorando, e a filha teve que trabalhar também a noite para manter a casa.

Foi então que surgiu a proposta da Boate. O dinheiro era bom e, com a crise, empregos eram escassos. Maria decidiu experimentar. No início, sentia nojo de si mesma, mas a necessidade de ajudar Inhá a fez seguir em frente. Nica verbalizou para a velha senhora o que fazia, pois conhecia os princípios dela e sabia que não aceitaria que sua filha se expusesse assim.

As noites eram curtas para tantos clientes e o dinheiro ajudava muito, não dava para perder esta oportunidade. Por anos, Mariazinha viveu assim e o trabalho deu até para comprar a pequena casa onde moram até hoje. Entretanto, um descuido mudou tudo...

Olá, querido leitor;
E aí começou a entender a ligação entre Inha e Maria?
Você concorda com a opção de trabalho que Maria escolheu? Ou acha que ela poderia ter escolhido outra forma para ajudar Inhá?
E qual será o descuido que mudou tudo?
Comente aí, querido(a).
De sua opinião.
Estou criando este primeiro livro e sua opinião sincera é muito importante para mim.
Deixo aqui a minha gratidão e o meu 💋.

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