O RECOMEÇO ESQUECIDO

04 •《Cristal da Memória 》

Ao longo dos anos, Emalyn e Zahara se tornaram amigas inseparáveis. Após uma missão desgastante, elas se acomodaram em seu quarto, momento em que Zahara fez uma revelação a Emalyn:

— Emalyn, você não sente uma magia desconhecida pulsando dentro de você?

Emalyn ficou perplexa. — Não, mal consigo perceber meu próprio poder, que é tão fraco.

— Ah, mas eu sinto. — Zahara esboçou um sorriso. — Vou lhe contar um segredo, mas você deve prometer que nunca revelará a ninguém.

— Eu prometo. — respondeu Emalyn, intrigada.

— Eu guardo memórias de uma vida anterior. — sussurrou Zahara. — Eu era uma mulher que se parecia comigo, porém mais velha, e éramos amigas. Naquela época, éramos muito poderosas, em um tempo distante, quando tudo era diferente.

O coração de Emalyn acelerou. — O que ocorria naquela época?

— Nós éramos livres e, sabe o que era ainda mais encantador? — Zahara se inclinou em direção a Emalyn.— Tínhamos esposos. Eles eram belos e fortes, e tinham a capacidade de se transformar em dragões.

Emalyn foi tomada por uma onda de emoção. Embora não soubesse se aquilo era verdade ou apenas fruto da imaginação de Zahara, seu coração pulsava intensamente. Ela enxugou uma lágrima e declarou:
— Não sei por que, mas tenho a sensação de que já conheço essa história. Há algo familiar que me faz querer chorar.

— Talvez isso aconteça porque é verdadeiro. — sugeriu Zahara.
— Talvez você tenha sido aquela mulher em uma vida passada, e eu tenha sido sua amiga. E quem sabe nossos esposos dragões estejam nos aguardando em algum lugar.

Emalyn permaneceu em silêncio, refletindo sobre as palavras de Zahara. Uma sensação de anseio começou a brotar dentro dela, um desejo de algo que não conseguia nomear.

— Eu não sei. — disse ela por fim. 
— Mas quero descobrir mais. Desejo saber se essa história é real.

Zahara sorriu. — Eu também. Vamos desvendar isso juntas.

— Para começarmos, precisamos de um artefato. — disse Zahara, seu olhar se iluminando com a ideia.
— Algo que possa nos conectar com nosso passado. Um objeto que contenha a essência de nossa antiga magia.

Emalyn franziu a testa. — O que você tem em mente?

— Lembro-me de um antigo templo que visitamos quando éramos crianças, aquele que fica escondido na floresta dos ecos. Dizem que as relíquias guardadas lá possuem o poder de revelar verdades esquecidas. Podemos encontrar algo lá que nos ajude.

Emalyn sentiu um misto de excitação e apreensão. A floresta dos ecos sempre foi um lugar misterioso, repleto de histórias e lendas. Muitos falavam sobre os sussurros que emanavam das árvores, como se a própria floresta tivesse vida.

— Você realmente acredita que algo pode estar lá? — perguntou Emalyn, sua curiosidade crescendo.

— Eu sinto que sim. — respondeu Zahara, sua determinação evidente.
— E, mais importante, sinto que você tem um papel especial a desempenhar nesse processo. Sua magia, de gelo pode criar a chave para desbloquear o que precisamos.

Emalyn assentiu lentamente, absorvendo as palavras de Zahara. Ela não tinha certeza se sua magia era realmente tão necessária, mas uma parte dela estava disposta a tentar. Juntas, elas poderiam explorar não apenas a floresta, mas também os segredos de sua própria identidade.

— Então, quando partimos? — perguntou Emalyn, a expectativa crescendo em seu peito.

— Amanhã ao amanhecer. — disse Zahara, com um brilho nos olhos.
— Precisamos de um tempo para nos preparar e reunir o que temos. Vamos buscar mantimentos e algumas ferramentas. Não sabemos o que podemos encontrar lá.

Essa ideia de aventura despertou um fogo dentro de Emalyn. Ela começou a pensar em tudo o que poderia descobrir. Com um novo propósito, ela se levantou e começou a arrumar suas coisas.

Na manhã seguinte, com o sol ainda despontando no horizonte, as duas amigas iniciaram sua jornada rumo à floresta. O ar fresco da manhã estava repleto de uma sensação de expectativa, como se a própria natureza participasse de sua aventura.

Adentraram a floresta e caminharam por um longo tempo, atravessando campos de flores e passando por riachos. À medida que se aproximavam do templo, uma neblina suave começou a se formar, envolvendo-as em um manto etéreo. Foi nesse momento que tiveram a certeza de que haviam chegado ao local desejado.

O templo, antigo e majestoso, parecia surgir das entranhas da floresta, com suas colunas esculpidas em pedra e cobertas de musgo. As amigas trocaram um olhar de cumplicidade e avançaram, os passos ecoando suavemente no silêncio reverente do lugar. Ao cruzarem o arco de entrada, sentiram um calor acolhedor que contrastava com a neblina fria lá fora.

Dentro do templo, a luz do sol filtrava-se através de vitrais coloridos, projetando desenhos vibrantes no chão de pedra. Elas seguiram pelo corredor principal, onde estátuas antigas pareciam observá-las com olhos de sabedoria. No altar, um pedestal de mármore sustentava um cristal cintilante, que emanava uma luz suave e pulsante.

— O que é isso? — perguntou Emalyn, fascinada.

— É um cristal de memória. — respondeu Zahara, com um olhar reverente. — Dizem que ele contém as histórias de quem o toca, mais precisa do poder de gelo para isso. Podemos descobrir tudo sobre nosso passado, sobre nossos dragões e quem realmente somos.

Com o coração acelerado, Emalyn estendeu a mão e tocou o cristal. Assim que seus dedos o alcançaram, uma onda de energia percorreu seu corpo, e vários cristais de gelo começaram a dançar diante de seus olhos. Ela viu flashes de sua vida passada, momentos de alegria, de amor e de dor. Ela viu Zahara ao seu lado, e, em meio a tudo isso, a figura de um dragão majestoso se destacava, suas escamas brilhando em tons de azul e verde.

— Emalyn! — a voz de Zahara a trouxe de volta ao presente. — O que você viu?

Emalyn respirou fundo, tentando organizar seus pensamentos. — Eu vi algo. Eu vi nós duas, e vi... um dragão. — sua voz era uma mistura de espanto e admiração. — Isso é real, Zahara. Tudo isso é real!

Zahara sorriu, seus olhos brilhando de emoção. — Então estamos no caminho certo. A nossa jornada apenas começou. Vamos descobrir a verdade sobre nós e nossos dragões, juntas!