02. Insanidade

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MAYA GARCIA

Me tornar uma advogada conhecida nunca tinha passado pela minha cabeça, para ser honesta. Eu não tinha muita ambição quando era mais nova. Talvez moda... o que de fato não era algo ruim se você conhecesse as pessoas certas para entrar n diante de uma infância miserável e pobre, parte daquela pequena Maya ainda possuía esperanças de um futuro melhor e de que a humanidade ainda teria pessoas honestas com quem ela pudesse contar. Mas eu estava enganada. E esse tipo de erro se tornou inadmissível para mim. Ele era do tipo que te deixava à mercê da fraqueza. Te fazia passar por coisas inimagináveis e no final, você se dava conta da pior forma possível que as pessoas que diziam te amar, que deveriam te proteger e cuidar de você zelando pelo seu bem, na verdade não passavam de mais uma decepção.

E desde muito cedo, eu colecionei mais decepções do que carinho.

Fui vendida com quinze anos para um homem velho e nojento pela minha mãe porque não tínhamos o que comer. Éramos eu e minha irmã, a pessoa a qual eu deveria proteger e não deixar que nada acontecesse com ela. Mas eu falhei. Não posso chamar a mulher que nos deu a luz de mãe, na verdade, embora uma pequena lembrança de nós em uma casa aconchegante e uma mesa farta ainda faça parte da minha memória antes de tudo desmoronar. Tampouco chamo o homem desconhecido que ajudou a nos colocar no mundo de pai e que foi a causa da nossa vida miserável. Completos desconhecidos que foram os principais motivos de anos de psicanálise barata que não adiantaram muita coisa, porque apesar de achar uma área interessante para as outras pessoas, ela não funcionou comigo. E eu sabia que era fodida demais para ser compreendida ou curada por qualquer pessoa.

No mesmo ano consegui fugir das garras daquele animal depois dele tentar colocar suas garras em mim. Bastou apenas um garrafa quebrada contra sua cabeça para que eu pudesse me libertar e nunca mais voltar sem me importar se ela estava vivo ou não. Isso fez com que eu perdesse contato com todos, até mesmo com a única pessoa que eu não queria. Eu vivi nas ruas até finalmente conhecer pessoas que me ajudaram sem que isso se transformasse em laços e eu começasse a trilhar o meu próprio caminho. Conheci Christopher na faculdade, na mesma época em que meu caminho com Giovanna Torres se cruzou e nós nunca nos demos bem. No começo eu tentei me aproximar dela que resistiu até o último segundo. Desde opiniões divergentes, a olhares de ódio lançados a minha direção se tornaram rotineiros. Os trabalhos em equipes sempre eram divididos por ela, o que acabava me deixando de fora e nos trazendo muitos embates. Acho que os professores gostavam disso, dessa onda de ódio que enraizava dela. Ela nunca foi do tipo que gostasse de perder ou aguentasse injustiças, no fundo eu até cheguei a gostar dessa característica dela. Era corajosa. Depois tudo começou a se tornar ainda mais caótico, o que fez com que eu me aproximasse de Christopher e uma relação conturbada se iniciasse entre nós deixando a rincha que a loira tinha comigo para trás.

Ele era a única pessoa que sabia sobre o meu passado a contragosto, informações superficiais. Nada muito extravagante, mas que não me fizesse perder o alerta. Eu sabia que ele não me queria por perto só para ser a sua advogada anos depois. Os flertes eram notórios e os olhares também. Eu o controlava mesmo que ele achasse que fosse ao contrário. A ilusão dos homens era engraçada. Achavam que nos colocar em um pedestal e depois nos tirar era bom, quando na verdade, desde o primeiro olhar, eu já tinha a plena certeza de que o que ele queria era apenas controle sobre mim e a minha vida. E eu sempre deixei claro que a nossa relação era estritamente profissional. Alimentei o ego dele? Mas é claro. Quanto mais sorrisos e champanhes, mais dinheiro na minha conta. Nem mesmo na época da faculdade tínhamos tido algo, ele queria, mas eu nunca senti desejo, tesão ou vontade.

Eu sabia como Christopher funcionava. Convencido, cafajeste, pavio curto em certos momentos, mas assassino? Tá aí uma coisa que nunca havia passado pela minha cabeça e quando ele me pediu para que eu o representasse, eu pensei muito sobre isso. O dinheiro viria a calhar em uma ótima hora, quanto mais, melhor. E eu nunca escondi o quão ambiciosa eu me tornei depois de perceber que se eu não fizesse as coisas por mim, ninguém nunca faria. Se aquela Maya mais nova não era, essa de agora fazia jus. Eu tinha ganhado alguns casos marcantes na mídia. As pessoas haviam criado notícias falsas sobre mim que no final se tornaram a única verdade delas e eu não me importei em desmentir. As ameaças já existiam, mas com o caso de Christopher tudo se intensificou ainda mais.

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