GIOVANNA TORRES
Uma semana havia se passado desde que Maya veio até o meu escritório de maneira árdua e casualmente, apenas provando o quão desprezível ela conseguia ser, me dando ainda mais certeza de que limite definitivamente não fazia parte da sua vida. Mesmo na época da faculdade ela deixava claro o quão poderosa sua presença precisava ser. A necessidade de chamar atenção e de ter todos os olhares voltados para ela. Sem o público ela não era nada e, no final, ela acabou conseguindo isso quando se juntou à área criminal e ao Christopher.
Eu sabia que a psique humana era formada desde a infância. A consciência faz parte de outras três partes essenciais para moldar o caráter do ser humano. Sem isso, você está propenso ao desastre, todos nós precisamos de um equilíbrio. Precisamos enxergar em nós mesmos a capacidade de pensar no outro, e nos ver no outro em certos momentos, mas quanto mais eu e Maya nos encontrávamos, mais certeza eu tinha de que ela não possuía consciência alguma. Ou talvez possuísse sim, mas camuflada. Onde ela sabia que o seu superego era o mais importante e o único que deveria prevalecer ignorando todos ao seu redor. Deixando as pessoas à mercê da sua manipulação.
E ela sabia o quão manipuladora poderia ser.
Seu poder de persuasão poderia ser usado para causas mais nobres, mas ela insistia em usá-lo a favor de pessoas com desvio de caráter porque afinal, no fundo, ela sabia que era como eles. Mesmo que tentasse negar.
E a minha raiva por ela só crescia à medida que o processo avançava.
Ela não mentiu quando jogou na minha cara que a audiência havia sido marcada. Segunda-feira às dez e meia. Às cinco eu já havia realizado a minha corrida matinal pela praia de Copacabana, em uma manhã de céu azul e sol escaldante. Mas nem mesmo as ondas extravagantes e a brisa aconchegante me fizeram relaxar. O café desceu frio, mesmo em meio à fumaça que saía da xícara, pela minha garganta. A água fria não tinha me relaxado e tampouco a maquiagem que eu usava escondia o quão desgastada eu estava. Eu sabia que o Direito não era fácil, e que casos como esse cairiam sobre mim, mas era difícil digerir quando uma injustiça tão grotesca se iniciava diante de você e você sentia como se suas mãos estivessem atadas, mesmo que estivesse na linha de frente.
A roupa básica para mais um dia de trabalho era formal, tentando o máximo possível parecer respeitável porque eu também sentia os olhares sobre mim. A minha falta de segurança, que tentava se alastrar por todo o meu corpo e dominar a minha mente, me deixava à beira de um precipício de incerteza e dúvidas.
No fundo, mesmo que eu soubesse o quão requisitada era, não acreditava que era cem por cento capaz. Quando eu não estava submersa no trabalho, tentava não sabotar a mim e à carreira que eu tanto lutei para ter. Era a única coisa que me restava. Depois que minha mãe faleceu e eu cresci com meu pai, a vida se tornou menos emotiva para mim.
Relacionamentos amorosos não faziam parte do meu cotidiano, algo casual era a única coisa que me chamava atenção. Eu não me sentia emocionalmente disponível o suficiente para isso, e estava preocupada demais em defender os meus clientes para pensar. Laços pessoais também não faziam parte de mim, embora eu soubesse que Larissa era a única e mais próxima amiga que eu tinha, e que sabia o que eu queria que ela soubesse sobre a minha vida. Sabia que, com relação às pessoas, eu estava na minha zona de conforto, sem previsão de me abrir para mais possibilidades. No fundo, eu não sabia lidar com as pessoas e com as expectativas que tentavam depositar em mim, e eu já tinha tentado ter outros relacionamentos, conhecer outras pessoas e até mesmo lugares. Mas, no final, eu sempre voltava para o mesmo lugar.
Para o meu apartamento, única herança que herdei da minha mãe. Para o conforto do meu sofá e para o único lugar em que eu talvez me sentisse segura.
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Profanidade
RomanceMaya Garcia e Giovanna Torres são advogadas rivais que se odeiam. Faíscas escapam de ambas em todas as audiências em que são colocadas cara a cara e Giovanna não faz nenhum esforço para esconder que não suporta a morena, que tampouco não esconde o p...