00. Ponto de partida

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Final
Que compõe o extremo, a parte derradeira de; derradeiro: estrada final. Que finaliza, encerra, conclui: essa é a minha opinião final.

***

— Eu quero terminar.

As três palavras ecoam, como num loop, se tornando distantes com o tempo e a medida que continuam se repetindo. E então, silêncio. A mente de Mabel se tornou oca e todos os seus pensamentos curiosos murcharam como um balão furado, a expectativa explodindo em milhares de ramificações de vidro.

Não.

Absolutamente não.

Por alguns segundos, permaneceu assim. Até que o som quase inaudível do tic-tac do relógio pendurado na parede vibrou entre as estruturas, ecoando baixo e sendo a única coisa que ela escutava quando os ponteiros do relógio se sobrepuseram, se tornando um só em uma colisão tênue e marcando exatas oito horas. Como um decreto ardiloso, eternizado com cera quente e um selo pesaroso.

O martelo do tribunal decretando o fim da existência.

— O quê? — sua voz saiu rasgando a garganta. Mabel encarou Adam, seu namorado há quatro anos e melhor amigo há sete anos, assustada dos pés à cabeça. Ela piscou, numa tentativa fajuta de raciocinar e não se perder nos milhares de pensamentos intrusivos, enquanto ele desviava os olhos. Reunindo coragem e em um ato de desespero, ela perguntou: — Porquê?

Adam levou seus olhos até ela, mas ficou em silêncio por mais alguns segundos.

— Eu conheci uma garota — e foi isso.

As engrenagens do corpo de Mabel travaram numa reação imediata, e sua boca entreabriu quando ela perdeu o ar.

A sensação amarga azedou dentro da boca, e ela endireitou a postura e ergueu os ombros, como se aquilo fosse erguer muros de proteção ao seu redor. A atmosfera da lanchonete estava se tornando angustiante demais.

— Certo — seu rosto estava estoico, e sua voz firme — Quando?

— Cinco meses — ele respondeu.

Mabel ficou em silêncio, observando seu rosto. Os fios escuros do cabelo dele estavam recém cortados, trazendo a sensação de que ele era mais velho do que realmente era. Sua camiseta azul escura possui mangas, os lábios estavam levemente franzidos e os olhos castanhos escuros e redondos estavam observando-a.

— Cinco meses? Sério? — a voz dela estava alguns tons mais baixa, soando mais defensiva do que Mabel gostaria.

O vermelho carmesim que tingia os detalhes da toalha de mesa era quase do mesmo tom da camiseta que ela usava, há duas semanas atrás, quando percebeu que Adam estava mais estranho do que o normal. Catorze dias que decorreram de forma lenta e que a assombravam com uma sensação inquietante no peito.

E agora, as coisas parecem ter se tornado mais limpas e claras. E é como um estalo, um click, trazendo memórias de que, não, não foi apenas nessas últimas semanas.

Já fazia cerca de quase três meses que seu comportamento fugiu do normal. Abandonando o garoto que ela conheceu quando ainda era uma menina sonhadora, que idealizava seus maiores sonhos todos os dias antes de pegar no sono.

E talvez o motivo do porquê ela sempre ignorou os sinais fosse a imagem que criou dele, a que ela desejou que ele fosse, e que se agarrou com todas as forças.

As ligações que foram diminuindo gradativamente, o contato físico que se tornou praticamente nulo, o silêncio perturbador que emanava entre eles quando se encontravam, e todas as pequenas coisas que Mabel notou a falta.

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