O medo

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Dois meses depois

Itadori estava deitado no sofá surrado da sua pequena casa, os olhos fixos no teto enquanto o som do relógio na parede marcava o passar do tempo. Sentia-se preso em um ciclo interminável de dias iguais, cada um marcado pelo medo constante de ser encontrado. O estômago roncou, lembrando-o de que não comia há horas. Com um suspiro, ele se levantou lentamente, sentindo os músculos rígidos de tanto ficar imóvel.

Ao se arrastar até a cozinha, abriu a geladeira apenas para encontrar prateleiras praticamente vazias. Restavam apenas algumas garrafas de água, um pote de iogurte vencido e um pedaço de queijo duro. Itadori franziu a testa, o estômago protestando ainda mais. Ele sabia que precisava sair para comprar comida, mas a ideia de sair de casa o deixava nervoso.

Caminhou até a pequena mesa da cozinha, onde havia um espelho. Observou seu reflexo, o rosto pálido e os olhos cansados. Pegou um boné preto e um par de óculos escuros do armário ao lado, colocando-os cuidadosamente. Em seguida, vestiu um casaco com capuz, mesmo que o calor do verão fosse sufocante. Cada movimento era calculado, cada camada de roupa uma tentativa de se esconder do mundo.

Com a respiração pesada, Itadori saiu pela porta dos fundos, fechando-a suavemente atrás de si. Os corredores do prédio eram estreitos e escuros, cheirando a mofo e umidade. Ele desceu as escadas rapidamente, os passos ecoando no silêncio. Ao chegar à rua, olhou ao redor cautelosamente, procurando qualquer sinal de perigo.

As calçadas estavam praticamente desertas, o que lhe deu um breve alívio. Manteve o olhar baixo e caminhou em direção ao mercado mais próximo, evitando ao máximo o contato visual com qualquer pessoa que passasse por ele. Cada passo parecia ecoar em sua mente, uma lembrança constante de que ele nunca estava realmente seguro.

Ao chegar ao mercado, ele pegou uma cesta e começou a pegar rapidamente o que precisava: pão, frutas, leite, e alguns enlatados. Movia-se rápido pelos corredores, evitando as câmeras de segurança e qualquer pessoa que pudesse reconhecer seu rosto. Sentia-se como um fantasma, um reflexo pálido da vida que costumava ter.

Na fila do caixa, tentou controlar a ansiedade. As mãos tremiam levemente enquanto ele pagava, e a sensação de estar sendo observado nunca o abandonava. Assim que saiu do mercado, apressou-se de volta para sua casa

Enquanto voltava para casa, Itadori caminhava olhando nervosamente para o chão, temendo ser reconhecido. De repente, seus passos foram interrompidos quando avistou uma doceria. Na vitrine, seu doce favorito: bolinho de arroz doce.

- Parece tão bom... - começou Itadori, mas foi interrompido por um empurrão forte que o fez cair no chão.

Ao se virar, viu um homem alto com cabelos castanhos presos em dois coques desleixados, olhos cansados e uma cicatriz atravessando o nariz, acompanhado por um albino muito familiar.

- Olha por onde anda, Choso! - exclamou Gojo.

- Como vou tomar cuidado se foi você quem me empurrou, seu animal? - retrucou Choso, estendendo a mão para ajudar Itadori a se levantar.

Itadori aceitou a ajuda, mas ao se erguer, um forte rajada de vento fez seu capuz voar.

O capuz de Itadori voou para longe, deixando seu rosto exposto ao vento frio da tarde. Ele rapidamente tentou segurá-lo, mas o tecido escapava de seus dedos, dançando ao redor deles como se tivesse vida própria. Choso e Gojo olharam para ele, momentaneamente esquecendo sua discussão.

-Você está bem?- perguntou Choso, preocupado, enquanto Itadori finalmente conseguiu agarrar o capuz e o colocar de volta.

Itadori assentiu, um pouco envergonhado pela atenção repentina. -Estou bem, obrigado.

Love Is Black (Sukuita)Onde histórias criam vida. Descubra agora